quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018
A vida, e a dignidade, dos outros (I)
«Pensar a morte implica conceber deixar de existir. É difícil, não temos ideia do que significa inexistir e o vazio é sempre assustador. Mas boa parte do que torna a ideia da nossa própria morte tão angustiante não é a abstração do nada. É a antecipação do momento, em vida, em que tomaremos consciência de que a morte é certa. E o medo maior é que esse momento seja longo, doloroso ou degradante. Que o nada chegue antes de nos irmos, que o corpo nos sobreviva, muito para além da vontade e, portanto, da dignidade. É fundamentalmente por isto que a eutanásia não é uma escolha sobre a morte. É sobre a liberdade de decidir como queremos viver uma morte quando esta se afigura insuportavelmente inevitável.»
Mariana Mortágua, A derradeira liberdade
«É isso que exijo do Estado. Que me reconheça enquanto pessoa inteira, capaz de tomar uma decisão intimíssima e intransmissível. Sei que o Estado tem o dever de proteger a minha vida de agressões oriundas de terceiros, mas sei que o Estado de direito em que vivo não é um Estado que põe em causa a autonomia de cada um. O Estado de direito não funciona assim, já não funciona assim. (...) A lei fundamental tem, claramente, uma conceção de sujeito autónomo, de pessoa responsável pelas suas decisões íntimas fundamentais, não cabendo ao Estado pôr em causa essa autonomia, pelo que a decisão última sobre a sua vida, sobre o “modo da sua morte”, cabe nessa autonomia, que é parte integrante do princípio cimeiro da nossa República – o da dignidade da pessoa humana.»
Isabel Moreira, Eutanásia – reconheçam-me
«A proposta do CDS não é mais que uma manobra de distração, por parte de um partido que, no que às políticas públicas diz respeito, tem um longo cadastro de abandono e maus tratos aos idosos. (...) Esta criminalização teria um efeito profundamente nocivo para os idosos de famílias pobres: promover uma ainda maior desresponsabilização do Estado e incentivar o seu abandono. É que, sem prejuízo dos deveres familiares que a lei prevê, as pessoas mais velhas não são seres tutelados, sem autonomia nem opinião. E sim, por vezes ficar com a família pode ser a pior solução. O resultado de criminalizar a família seria uma pressão para que esta, procurando evitar a sanção, fosse buscar os mais velhos, mesmo sem vontade ou condição para os cuidar. Lava-se assim a consciência do legislador, desresponsabilizam-se as respostas públicas e condena-se estes idosos a uma situação de ainda maior fragilidade.»
José Soeiro, O pior dos mundos: criminalizar os pobres e abandonar os idosos em casa
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10 comentários:
Não discordando em geral do que é dito, afigura-se-me que há um fundamental logro em toda a discussão sobre a suposta morte com dignidade. Não é possível morrer com dignidade, porque a morte, embora natural, é sempre indigna. O que é possível é, isso sim, viver com dignidade ou sem ela, que é o estado a que chegam muitos a quem é negado o direito de, entre uma morte indigna e uma vida indigna, escolher a primeira...
Infelizmente estas Sr.as Deputadas não sabem discutir assuntos morais numa democracia! Numa Democracia a forma de resolver estas questões é a via referendária, em que o verdadeiro Soberano, o Povo, é chamado a pronunciar-se. Quem pensa que é Pastor que tem que encaminhar o rebanho para a Luz moral correcta tem uma inclinação forte por outro regime, que se chama Aristocracia. É por esta atitude dos nossos senhores deputados, que a democracia em Portugal apresenta tão baixa qualidade, como tão bem demonstra a investigadora Conceição Pequito Teixeira, no seu livro "Qualidade da Democracia em Portugal".
O que está em volta - o entorno como sói dizer-se - condiciona a vida de cada um e seguramente vai em larga medida condicionar a determinação em deixar a vida, uma vez que a dor parece ser um problema tecnicamente resolúvel.
Espanta-me que se promova o suicídio do coitado, em vez de propor que o Estado crie umas 'casas da morte' onde ele aguarde a morte no melhor dos confortos.
Um desvio ao admirável mundo novo, ou medida economicista?
O que é estranho nestes pedidos de garantia de liberdade de decisão é que não se reclame que os médico, detetada uma situação de saúde irrecuperável e terminal, o declarem com o rigor possível quanto ao percurso e desfecho possível.
Estou certo que o que se pouparia em despesas médicas inúteis ou de puro faz-de-conta daria para acolher os moribundos sem entorno favorável para o desfecho natural.
O «longo cadastro de abandono e maus tratos aos idosos» do CDS é matéria que desconheço mas seguramente - a não ser treta esquerdalha - o Soeiro já terá participado o caso ao Ministério Púbico, pelo que espero acompanhar o caso pelos jornais.
Quanto ao mais, reconheço que entre o costume arcaico de 'levar o pai ao monte' levar o pai 'ao Estado' é um avanço, embora não se esclareça se deverão ou não fornecer a ração de comida que tradicionalmente enchia uma gamela.
Jose está nitidamente perturbado.
Aquele génio de nome passos coelho foi convidado para professor de várias faculdades.
Ele também quer comer de gamela, para usar o seu vocabulário?
"a dor parece ser um problema tecnicamente resolúvel".
A prosápia ignara como se dizem estas coisas parece ser um problema tecnicamente irresolúvel.
Para o conhecimento de quem diz tais idiotices.
"o Estado crie umas casas da morte".
Mas já criou e Jose sabe que o fez. A Alemanha nazi tinha umas casas onde executava milhões de seres humanos. Salazar também as criou numa escala muito menor é certo, embora gostasse de as nomear como casas onde se davam "uns safanões a tempo".
As mortes ocorridas nessas casas eram apenas "o entorno como sói dizer-se" recitado pelo Cerejeira, a consolar o amigo.
Verdadeiro progressista, Cuco não teme o ridículo e expõe a sua coletânea de inanidades.
Quem é esse verdadeiro progressista, este cuco, que atormenta as noites ao jose e que lhe provoca comoções cerebrais durante o dia?
Coletânea de inanidades?
Essa parece saída dum dos discursos claros e lúcidos dum dos construtores daquelas casas da morte, o salazar
Não teme o ridículo?
Essa parece saída do auto-de-fé perpetuado pelo jose em relação aos livros de Eça, que apanhavam pó na sua bilioteca.
Foi o que fez quando soube do Eça de facto escreveu
Eça gostava de relógios de cuco.
Ele próprio tinha um e citou-o pelo menos num dos seus romances.
Na família de jose deve ter havido um qualquer episódio caricato ou melindroso para que este tente meter o cuco à martelada em tanta coisa em que faz propaganda
Cerejeira consolava o amigo. "O entorno como sói dizer-se". Mas não deve ser muito agradável para o jose. Nem as consolações dos cucos, que o melindraram, nem o desmontar das idiotices do levar o pai ao monte em jeito de conversa da treta
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