A ideia de que não existe uma relação entre os níveis de sucesso educativo e o número de alunos por turma escapa, obviamente, ao mais elementar senso comum. Mas tal não impede que Nuno Crato diga, como fez numa entrevista de Junho de 2013, não estar cientificamente comprovada a existência de uma correlação negativa entre aqueles dois factores, chegando mesmo a acrescentar que «uma turma com 30 alunos pode trabalhar melhor do que uma com 15. Depende do professor e da sua qualidade». Pois depende, depende de muita coisa, a começar pela inqualificável desfaçatez do ainda ministro da Educação, empenhado em implementar e aprofundar, no ensino público, as lógicas da pretensa «salsicha educativa».
Um adequado número de alunos por turma constitui, evidentemente, um aspecto crucial para a existência de condições que maximizem a capacidade de acompanhamento individualizado dos alunos e, nesse sentido, um ponto fundamental na concretização de um dos princípios basilares da missão social da Escola Pública: a promoção da igualdade de oportunidades, que adquire redobrada premência num país com décadas de atraso em termos de qualificações e habilitações escolares. E concorrendo igualmente para a necessária qualificação dos processos de ensino e aprendizagem, deve ainda considerar-se a importância das condições para o exercício da actividade docente, que decorrem do trabalho atribuído o a cada professor.
Para que se tenha uma ideia da profunda degradação que o sistema de ensino público terá atingido, neste âmbito, nos últimos anos lectivos (2010/11 a 2012/13) com dados disponíveis - nos quais o número de docentes diminuiu cerca de 15% e o número de alunos aumentou quase 3% - vale a pena relembrar os resultados de um inquérito às condições de exercício da actividade docente que procurava fazer o retrato da situação, em 2008.
Nestes termos, entre outros dados, verificava-se que cerca de metade dos docentes (45%) tinha em 2008 mais de 100 alunos, situando-se em apenas 35% o peso relativo dos professores a leccionar a menos de 75 alunos. No 3º ciclo do ensino básico, este panorama agravava-se substancialmente, com cerca de 7 em cada 10 docentes a ter mais de 100 alunos a seu cargo (um rácio que se situava em torno dos 64% no caso do 2º ciclo do ensino básico).
Relativamente ao número de turmas atribuídas a cada professor, concluía-se que em 2008 cerca de 47% dos docentes leccionava a 5 ou mais turmas, sendo de apenas 20% o peso relativo dos professores com 1 ou 2 turmas a seu cargo (o que é manifestamente pouco, considerando que este valor global inclui a educação pré-escolar e o 1º ciclo do ensino básico). Mais uma vez, no 3º ciclo do ensino básico a situação era particularmente sombria, com aproximadamente 3 em 4 docentes a leccionar a 5 ou mais turmas (valor que se aproximava dos 64% no caso do 2º ciclo do ensino básico).
6 comentários:
Isto é serviço público...em defesa da escola pública.
Muito bom
De
Concordo com o De.
É interessante ver as propostas dos partidos à esquerda do ps para o dimensionamento das turmas e de alunos por professor, em contraste com o que está em vigor.
Na realidade o que se passa nem é exactamente isto. Há professores com turmas com quarenta alunos. Assim mesmo.
A intenção é, como sabemos, rebentar com o sistema de ensino público e o pôr o orçamento do Estado a financiar as escolas privadas.
Neste sector absolutamente fundamental e decisivo uma proposta séria e que permita recuperar do desastre do Crato tem que rondar os valores propostos pelo BE e PCP. Até porque, por razões várias, não se cumprem os máximos estipulados.
Fazer omoletes com poucos ovos deve ser dificel par quem tem que as fazer e facil para quem nem pensa pagar os ovos -como vimos pelo estado a que chegaram as contas publicas.Não aproveitar as vantagens que as TIC dão tanto na redução de despesa como na formação de professores parece-me um factor mais significativo que a redução do numero de alunos, para a melhoria (na minha escola a media eram 37 alunos por turma e estavamos bem nos rankings nacionais)
Diria que também não existe nenhuma correlação que impeça a ligação entre actividade cerebral inteligente e nuno crato, não obstante os dados empiricos, não tratados estatisticamente, comprovam a inexistência dessa ligação.
Ó faz favor, cheguem lá aqui, os senhores dos colégios!
É para devolver as centenas de milhões de euros que o Crato vos deu. É verdade, ele deu mas não era, bem isso, que devia acontecer. Tratou-se de um acto de gestão danosa mas que agora se está a tentar resolver. Desculpem qualquer incómodo.
1) Aumento de alunos por turma
2) Aumento do horário de trabalho dos docentes
Sempre que oiço alguém a falar em nome da "qualidade do ensino" e na "importância da educação" que depois se entretem a defender 1) e 2), lamento muito, mas só posso concluir que é burrice ou desonestidade intelectual.
1) e 2) não são compatíveis com qualquer padrão mínimo de qualidade educativa, pela sobrecarga assinalável que provocam nos principais agentes educativos das escolas: os docentes.
Tapar a ligação entre as condições de trabalho dos docentes e a qualidade do processo de ensino/aprendizagem é estar a tapar o sol com a peneira.
C.
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