O BCE reiterou a intenção de começar a comprar empréstimos à banca comercial europeia na esperança de reavivar o mercado de crédito, chegando a comprar títulos classificados como “lixo” na Grécia e Chipre. O raciocínio é simples. Os bancos acumulam um conjunto de empréstimos de qualidade muito duvidosa cujas perdas não têm sido assumidas, o que normalmente implica um contínuo financiamento a recipientes com graves problemas financeiros (lembram-se do BES e do GES?). Ao comprar estes activos, assumindo assim o seu risco, o BCE tem a esperança que a liquidez gerada e a recomposição dos balanços bancários permitam a concessão de novos empréstimos a “bons” negócios, supostamente anteriormente constrangidos pelas necessidades de refinanciamento dos créditos duvidosos.
Já aqui referi que, no actual contexto de estagnação do investimento e deflação, o problema está sobretudo na procura de crédito no espaço europeu. No entanto, vale a pena realçar outros dois aspectos deste novo programa. O primeiro vem directamente da teoria económica mais convencional: o “risco moral”. Através deste programa o BCE está a recompensar todos os bancos que andaram e andam a empurrar com a barriga os seus problemas financeiros, em vez de assumirem as perdas e de recapitalizarem os seus balanços. Fica o sinal sobre quais os comportamentos a adoptar no futuro pela banca: escondam perdas, que a dada altura o BCE resolve o problema. O resultado é o aumento da instabilidade sistémica do sector. O segundo aspecto, mais preocupante, diz respeito ao subsídio público implícito que este programa traduz. Recursos públicos são usados para recompor balanços privados com uma condicionalidade vaga sobre novos empréstimos a pequenas e médias empresas. As regras do jogo mantêm-se as mesmas no que à contabilização de capital, concessão de crédito ou transacções de derivados e instrumentos financeiros. Pelo contrário, o BCE condiciona este programa à prossecução dos programas de ajustamento e austeridade da União Europeia. Em suma, transferem recursos públicos para o sector financeiro como patrocínio de uma contínua transferência de recursos do trabalho para o capital. E ainda há quem à esquerda queira permanecer neste sistema…
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2 comentários:
Caro Nuno,
O sistema bancário é um monopólio nas mãos de meia dúzia de pessoas (ou menos).
A Banca tem o raro privilégio de criar biliões ou triliões com um simples teclado (ao invés de produzir riqueza autêntica – seja na agricultura, na indústria ou nos serviços). Em suma, a Banca cria dinheiro (não riqueza) a partir do nada (out of thin air) – a maior fraude de todos os tempos.
De forma que, falar da «da instabilidade sistémica do sector financeiro» revela um desconhecimento total da forma como «o sector financeiro» funciona.
É lamentável…
Nuno
Excelente artigo, não fora o último período. Achas que se fosse o Constâncio ou o Carlos Costa não compravam trampa?
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