terça-feira, 7 de maio de 2013

O sucesso dos amigos de Gaspar

O estudo de Paul De Grauwe e Yuemei Ji é de grande utilidade para contrariar a operação de propaganda em curso, a propósito da emissão de dívida pública que não é soberana a dez anos: quanto maior era o diferencial (spread) entre as taxas de juro das dívidas periféricas europeias e as taxas de juro da dívida alemã antes da garantia de intervenção do BCE, a partir de 2012, maior foi a queda subsequente do spread; entretanto, quanto maior foi o aumento da dívida pública no PIB, maior foi também a queda subsequente do spread. Foi o BCE e não a “credibilidade” de Gaspar ou a austeridade.

Isto tem várias implicações económicas e políticas e todas elas contrariam as fraudes que já circulam por aí. Em primeiro lugar, se a “credibilidade externa” de Gaspar não explica a emissão de dívida de hoje, o efeito de propaganda conseguido reforça-o politicamente, indicando as origens externas da sua força interna e reforçando perversamente a austeridade destrutiva. Em segundo lugar, não estamos mais perto de recuperar qualquer vestígio de soberania neste campo, porque continuaremos submetidos à condicionalidade austeritária europeia, confirmando que só há soberania quando existe um banco central incondicionalmente ao serviço das necessidades financeiras do país. Em terceiro lugar, as taxas de juro continuam a ser demasiado elevadas para um “país”, aspas porque isto desgraçadamente não é um país do ponto de vista monetário, que não cresce devido à austeridade permanente.

No fundo, acho que se confirma o que aqui disse o Nuno Teles: “Estado português regressa aos mercados. Bem-vindos ao segundo resgate da troika.”

3 comentários:

Pedro Veiga disse...

Bem visto!
Todos os dias somos bombardeados por mentiras como esta. Até parece que existe muita comunicação social a fazer o papel da propaganda a favor do governo e da sua austeridade.

Dias disse...

Tudo isto está jóia, um sucesso…Menos para os desgraçados que vão engrossando o desespero ou que têm que emigrar forçadamente (aqueles que não cabem no sucesso do Gaspar).
Mas que importa, a propaganda está em grande!
O que constitui para Rob Rieman a 2ª lição do seu “Eterno Retorno do Fascismo” é lapidar, actual, e é uma citação de Adorno: “A única verdadeira força contra o fenómeno de Auschwitz, é a autonomia individual, a capacidade de reflexão, de autodeterminação, de não aderir, de não assinar, de ser um bom de carácter, um espírito independente em vez de um indivíduo sem carácter”.

Obrigado pelo link do estudo!


N.P. disse...

Desculpem que pergunte: se é verdade que a dívida foi comprada em 87% por estrangeiros, isso não significa confiança na recuperação do país?
Ou a única justificação é o juro altíssimo que se vai pagar?
Ou os nacionais não compraram mais porque não há dinheiro (ver os resultados do BCP, BES, CGD...)?