quinta-feira, 2 de maio de 2013

Alianças

A política de alianças foi um dos temas debatidos durante o congresso do Partido Socialista, tendo mesmo sido abordado pelo secretário-geral no seu discurso de encerramento. António José Seguro apontou como objectivo eleitoral a conquista da maioria absoluta, mas afirmou, também, que a conquista desse objectivo não impedirá o PS de procurar alargar a base de apoio do governo saído das próximas eleições. Sem mensagens codificadas, o seu discurso foi claro: “O PS procurará, mesmo com maioria absoluta, alianças governativas ou acordos parlamentares com outras forças políticas.” Esta é a posição correcta – o Partido Socialista deve sempre pugnar por obter uma maioria absoluta e isso não o deve impedir de procurar alianças com outras forças políticas.

O que ficou por esclarecer é com “quem” estará disponível para fazer alianças; porque o PS não se pode aliar a qualquer um, como se todos os partidos fossem ideologicamente iguais, ou como se já não existisse “esquerda” e “direita”. Preocupa-me que haja dentro do Partido Socialista quem aceite a hipótese de coligações com qualquer dos partidos da direita portuguesa (como se o propósito do PS fosse, quase em exclusivo, a conquista e consequente manutenção do poder), que defendem um ideal de sociedade oposto àquele pelo qual os socialistas sempre lutaram.

Não está apenas em causa a forma como respondemos à actual crise, mas antes que tipo de sociedade queremos construir. A direita é conservadora e individualista; a esquerda defende uma sociedade fraterna e com elevados níveis de igualdade. A direita encara o Estado como o garante da manutenção dos privilégios de uma minoria; a esquerda reconhece o Estado como o principal instrumento de combate às desigualdades e à exploração. A direita governa para gerir o sistema; a esquerda governa para o transformar.

Mas além de razões ideológicas são sobretudo razões de ordem democrática que devem fundamentar a recusa do Partido Socialista de promover qualquer frentismo centrista – a nossa democracia perderá força se os dois maiores partidos governarem, juntos, Portugal.


(crónica publicada às quartas-feiras no jornal i)

7 comentários:

Anónimo disse...

O que incomoda , repugnando até , são os "democratas" socialistas caladinhos que nem ratos , e , a conivência silenciosa com a já prometida continuidade das políticas fascistas.

Rogério G.V. Pereira disse...

"um ideal de sociedade oposto àquele pelo qual os socialistas sempre lutaram"

Sempre?

Américo Gonçalves disse...

Defendo de há muito uma grande coligação do Centro e das Esquerdas, á imagem da Frente Popular de León Blum, que nasceu em circunstâncias muito parecidas. Mas de um ponto de vista realista, estamos cada dia mais longe de uma FP. O voto contra do PS ás propostas do PCP (que aliás, nem custava nada, visto o chumbo ser garantido), o frequente piscar de olho ao CDS, dizem que Seguro aspira a ser o que chamo de "Troika porreira", estilo Hollande. E claro, vai-lhe correr muito mal. A despeito de uma mão cheia de corajosos no PS, é para aqui que isto vai.

Anónimo disse...

Estive a ler a Declaração de Principios e o 1º Programa do PS - o que foi impresso em Setembro de 1973.
Faz doer o coração ver o que era então o PS e o que é hoje.
Se o PS fosse ainda o mesmo, estou em crer que não estariamos a passar por este esmagamento infame.
Bem sei que os tempos são outros. Porém, a verdade é que a luta de classes ao contrário do que alguns auto proclamados bem pensantes têm defendido continua bem acesa e de boa saúde com a direita a ganhar em toda a linha. Até Warren Bufet o disse.
De facto, a direita retrogada, revanchista e fascizante, personalizada em Portugal pelo CDS e o PSD, hoje capitaneados por Paulo Portas, Passos Coelho e Cavaco Silva, tem memória e nunca esquece, razão pela qual a coberto do maldito memorando da troika há-de esmagar este país e por todos de joelhos. Ninguém, escapará.
Por isso apesar de socialista não consigo entender como é que o PS alguma vez pode dar o seu acordo á austeridade infame que está a acabar com o país e com a classe média - se é que ela ainda existe.
O PS tem de bater definitivamente com a porta e abandonar de vez estes bandidos do CDS e do PSD e mesmo da UE. De facto, o que é nos interessa estar na UE se o preço é o nosso brutal e irremediável esmagamento e a escravatura com os Alemães por donos.!?
Nenhuma aliança, pois, do PS com os partidos fascizantes - CDS e PSD e, se preciso, em nome de Portugal e do seu povo, rompimento com a UE alemã e consequentemente, rompimento com esta maldita austeridade que nos indigna e subjuga.
Faça o PS uma declaração destas ou semelhante e logo ele se descolará do PSD nas sondagense á velocidade da luz.
Alguém do PS que leia, por ex, o livro de Jacques Genereux "Nós podemos" e verá se há ou não alternativas a esta miséria.





Cláudio Teixeira disse...

E quem for socialista consequente não poderá aceitar que o PS tenha aprovado o chamado pacto orçamental, o do 0,5% de défice "estrutural", ainda por cima ouvindo António José Seguro vangloriar-se de tal feito - "fomos os primeiros! Como se poderá defender o Estado Social, nessas condições? Sim, de facto quão longe se está da 1ª declaração de princípios!
E,já agora, alguém tem ouvido a Internacional Socialista dizer alguma coisa relevante sobre a crise?

Anónimo disse...

Tantos optimistas! Não tenham ilusões, as Frentes Populares nasceram em condições completamente diferentes, sociedades polarizadas com ideias de um FUTURO DIFERENTE. Hoje a maioria agarra-se ao centro que a enganou com a ilusão de que a prosperidade pode ser, e tem que ser, construída a crédito. O ideal da maioria é um FUTURO IGUAL AO PASSADO RECENTE.
Cá, PS,PSD e CDS atendem ou fingem que atendem esse público. Que ainda não têm nem vontade de perder a ilusão nem coragem para pensar um futuro diferente.
A oposição na Europa existe agora apenas nos chamados extremos, à esqueda e direita. E esses extremos nunca se podem aliar, assim pensam os chefes dos partidos do centro, assim se sentem livres de preocupação.
Estas circunstâncias tornam impossível travar o colapso económico e social do país e da UE. Bem se podem aqui esforçar a apontar os factos agora, quem não quer ver não vai ver. A maioria da população pensa que tem ainda muito a perder antes de perder o medo de mudar, de pensar um futuro diferente deste presente tão mal estruturado.
O congresso do PS foi um espetáculo triste porque aquela gente tem sobeja experiência a perceber o que o seu público quer agora. Visão para o futuro, essa não têm, e é pena. Era isso que se pedia dos poĺiticos, que liderassem, senão para que servem? Não passam agora de administradors e relações públicas.

Anónimo disse...

"A direita é conservadora e individualista; a esquerda defende uma sociedade fraterna e com elevados níveis de igualdade. A direita encara o Estado como o garante da manutenção dos privilégios de uma minoria; a esquerda reconhece o Estado como o principal instrumento de combate às desigualdades e à exploração. A direita governa para gerir o sistema; a esquerda governa para o transformar."
É pena não conseguir ver isto em nenhum partido, nomeadamente no PS, PSD e CDS...