quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
Weimar, Buenos Aires e Atenas
Fabian Lindner faz uma comparação elucidativa entre a trajectória da Alemanha desde 1925 e a trajectória da Grécia desde 2004, tendo como referência os anos, que ficam na história, de 1929 e de 2008. A austeridade, sempre a austeridade permanente, a corroer as fundações das repúblicas democráticas, graças, entre outros factores, ao desemprego de massas. Entretanto, Mark Weisbrot, um atento analista das crises argentina e grega numa perspectiva comparada, desmonta pela enésima vez, é só seguir as ligações do seu artigo, o mito de que a argentina deveu toda a sua extraordinária recuperação, desde que, em 2002, se libertou da tutela monetária e financeira externa, a um boom exportador, salientando que a recuperação se deu sobretudo graças ao dinamismo do mercado interno, estimulado pela reconquista de instrumentos de política económica, pela reconquista de margem de manobra, de soberania democrática (duas palavras que têm de andar juntas, digo eu). A uma série de níveis, incluindo a capacidade exportadora, a Grécia está melhor posicionada do que estava a Argentina, afiança. Weisbrot afirma compreender a cautelosa posição política do Syriza, mas indica que a discussão sobre a saída do euro é inevitável, que mais não seja porque esta ameaça credível é uma das armas da periferia para evitar um destino trágico.
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4 comentários:
Caro João
Cito Mark Weisbrot:
"But economic reality is one thing, and political reality is another. Tsipras and the Syriza party don't propose leaving the euro, and I would not criticise them for that. A political party cannot move too far ahead of the electorate, and it could be that the majority of the country is not ready to get rid of the euro. A government that decided to go that route would want strong backing from the public, and the ability, leadership, and expertise to do it right, so as to minimise the initial damage".
Agora eu:
Ok, seja. Até aqui posso ir.
Onde já não posso ir é na afirmação (aliás por vezes enfática), da parte do Syriza e do BE, de que devemos fazer todos os esforços para evitar sair do Euro.
Isso, desculpe-me lá, é um partido político supostamente responsável fazer exatamente o contrário do que deve fazer, do que é suposto fazer.
Em vez duma atitude pedagógica, paciente decerto, mas sempre esclarecida e persistente, isso equivale ao modelo do professor "social-porreirista" e (não resisto a usar a expressão) asquerosamente demagógico face ao seu "público", ou à sua "clientela" - como aliás hoje em dia se diz no Iseg, escola em que de resto "o cliente tem sempre razão"...
A tristeza, digamos, é a gente descobrir que o BE é apenas "mais um duque"...
Parece-me haver uma contradição nas observações do sr Weisbrot.
Por um lado ele diz que a recuperação económica da Argentina não se deveu às expostações.
Por outro ele recomenda que a Grécia saia do euro.
Ora, se eu bem entendo, a única vantagem de se sair do euro é poder desvalorizar a moeda com o fim de provocar um boom nas exportações.
Ficamos assim sem perceber se o sr Weisbrot recomenda que se saia da crise através do incentivo às exportações ou através do incentivo ao mercado interno.
A desvalorização cambial pode fomentar muito mais a produção para o
mercado interno (substituição de importações, sendo estas últimas agora mais caras) do que as exportações. Para além disso, a maior autonomia da política monetária pode colocá-la ao serviço da política orçamental de estímulo ao mercado interno, por exemplo por via da redistribuição, da
política social, etc.
Caro Luís Lavoura
Importa não esquecer que a saída do euro é a recuperação do Banco de Portugal como financiador directo do Estado. Numa situação de gravíssimo sub-emprego pode ser financiado um programa de criação directa de emprego socialmente útil. O relançamento da procura interna por esta via seria complementar do que se obteria com outros instrumentos (cambial, fiscalidade redistributiva, investimento na recuperação urbana, ...).
Ver aqui: http://www.epicoalition.org/docs/ArgentinaJefes.htm
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