O governo liderado por Passos Coelho e Paulo Portas está assim a colocar um número crescente de famílias e cidadãos no vazio, no limbo do total abandono. Mas não se pense que este é apenas o dano colateral do fracassado processo de ajustamento orçamental. Este é o mundo sinistro que Gaspar e Santos Pereira conceberam desde o início para «sair da crise»: quanto maior o desamparo, quanto mais desregulamentada a legislação laboral, quanto mais espicaçado o simples instinto de sobrevivência, tanto melhores as condições para competir através de baixos salários e assim reverter a balança comercial. O consumo interno, a economia doméstica, valem tanto como as pessoas que a constituem: nada. E é por isso imperioso continuar, com a mais distinta lata, a recitar o mantra do «risco moral associado a algumas prestações sociais», como referia recentemente o ministro Mota Soares, ao sugerir que é preciso «contrariar situações em que, (...) apesar de os beneficiários (...) terem capacidade e idade para o trabalho, possa ser preferível não o estarem a fazer por estarem a receber prestações sociais». Como se existisse um mar de empregos e oportunidades desaproveitados pela malandragem, numa economia que está hoje em estilhaços.
Tudo isto era mais que previsível e não faltou quem avisasse. A aposta exclusiva - e a qualquer preço social - nas exportações, mais do que perigosa, era um acidente à espera de acontecer. E por isso, só mesmo com a mais requintada desfaçatez pode o ministro Santos Pereira vir agora dizer que a culpa da quebra do PIB e do desemprego, superiores ao esperado, são uma surpresa e responsabilidade do desempenho da economia europeia, mergulhada na mesma receita em que a maioria tanto se tem empenhado (para lá do memorando). Como na anedota do agricultor que, apostado a ensinar um burro a passar fome, exclama a sua surpresa no dia em que o encontra morto: «que azar, logo agora que estava quase habituado a viver sem comer».
3 comentários:
Parece-me um erro continuarmos a racionalizar a interpretação dos que insistem em condenar os cidadãos à miséria e à morte. Logo que a democracia seja uma realidade neste país muitos dos crimes que não são tidos como tal serão trazidos à luz do dia, só aí compreendo a pertinência das concepções de determinados indivíduos até lá tudo o que me importa é a selvajaria e a ignorância.
Morre em cada dia a esperança de dias melhores . Morre a vida que amávamos e que arduamente conquistámos.
Custa ver a cegueira dos nossos governantes e a sua insensibilidade e injustiças praticadas.
Ainda menos lhe custam tantos erros praticados dado que ficam impunes.
É tempo de acabar com a impunidade política e obrigá-los a pagar civil e criminalmente pelos erros praticados. Talvez assim eles nos respeitem e não destruam mais o pais e os portugueses.
REUNDEMOS estas políticas na Constituição portuguesa e europeia.
Prometeram-nos a prosperidade europeia da década de 60, mas afinal o que nos estão a dar é a miséria do 4º mundo.
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