terça-feira, 12 de junho de 2012

A estratégia do vazio

Um Director Geral do Ministério das Finanças alemão deu-se ao trabalho de responder publicamente a um texto de Martin Wolf, colunista do Financial Times. A contra-resposta de Wolf, ponto por ponto, está aqui e vale a pena ler.

Fica clara a fragilidade dos argumentos oficiais do governo alemão (sobre o risco moral, a relevância das chamadas 'reformas estruturais' como estratégias de resolução de crises, os efeitos de redistribuição dos programas de ajustamento em curso, etc.). Mais claro - e lamentável - ainda é a mediocridade da análise do alto responsável do governo alemão sobre as origens da crise: tudo parece resumir-se ao papel de governos despesistas e irresponsáveis, ignorando-se, por exemplo, o facto de grande parte do endividamento ser privado e de o endividamento público ter crescido dramaticamente depois de 2007 (para responder a uma crise que nasce no sector financeiro).

Há quem ache que a Europa está a ser governada por lunáticos e irresponsáveis. Uma explicação alternativa, cada vez mais convincente, é que os interesses financeiros alemães, que têm lucrado com a crise, estão empenhados em fazê-la durar o máximo de tempo possível - lucrando no presente e reforçando o seu poder negocial para o futuro. Mas isso nenhum responsável governamental pode confessar ao Financial Times.

3 comentários:

Diogo disse...

«Uma explicação alternativa, cada vez mais convincente, é que os interesses financeiros alemães, que têm lucrado com a crise, estão empenhados em fazê-la durar o máximo de tempo possível - lucrando no presente e reforçando o seu poder negocial para o futuro»


Não são os os interesses financeiros alemães. A Finança Internacional é um monopólio planetário com agências em todos os países. Lembro que a dita «crise financeira» surgiu nos EUA.

João Carlos Graça disse...

Caro Ricardo
Nesta altura do campeonato, é já bastante óbvio "que os interesses financeiros alemães, que têm lucrado com a crise, estão empenhados em fazê-la durar o máximo de tempo possível - lucrando no presente e reforçando o seu poder negocial para o futuro".
E fazem-no, como por vezes dizem os assassinos nos filmes e séries televisivas: "porque podem fazer".
A verdadeira questão, agora, e “secondo me”, consiste já em saber: porque é que as vítimas se deixaram arrastar para esta situação, em que nada mais aparentemente lhe resta do que o "silêncio dos carneiros"...
Será que alguém da “esquerda europeia” ainda “pode confessar”, seja ao Financial Times ou onde for, as suas sucessivas práticas de “moral hazard” político que tanto contribuiram para tudo isto, isto é, para tornar as populações dos países europeus em carneiros ou “sitting ducks” inermes, através da propaganda do discurso “europeísta” que subscreveu e subscreve, tomando sistematicamente a sua própria imagem mirífica duma “Europa social” (quando não mesmo dum alucionogéneo “internacionalismo europeu”) como sucedâneo imaginário da “Europa realmente existente”?

Anónimo disse...

A decapitação mental dos dirigentes máximos da Administração não é só um caso português. Por toda a Europa vão longe os tempos daqueles directores gerais retratados na serie "yes minister" que embora fossem o retrato do imobilismo eram de uma enorme densidade intelectual.