Segundo o Público de hoje, as anunciadas políticas económicas de Nicolas Sarkozy começam a provocar preocupações por essa Europa fora. De facto, contrariando o gáudio com que a sua eleição foi recebida pelos nossos ultraliberais, Sarkozy apresenta um programa que não se distancia muito da matriz gaullista há muito dominante na direita francesa.
Num período onde a direita europeia parece rendida ao liberalismo, o Presidente francês defende o proteccionismo económico activo, critica a política monetária do BCE e prepara-se para violar o Pacto de Estabilidade e Crescimento. Contudo, não se deixem enganar sobre o que está aqui em causa. A violação do pacto de estabilidade será o resultado de um «choque fiscal» (onde é que eu já ouvi isto?) que beneficiará de sobremaneira os mais ricos, sobretudo o 1% do topo. Assim, segundo a Alternatives Economiques, um alto executivo que receba 100 000 euros por mês pagará menos 33 000 euros de impostos por ano, enquanto um trabalhador que ganhe o salário mínimo, 1 000 euros por mês, pagará mais 80 euros de impostos.
Sarkozy prepara-se pois para aplicar um programa marcado pelo nacionalismo económico, que, aliado à liberalização das relações laborais internas, resulta numa redistribuição do rendimento que aprofunda as crescentes desigualdades francesas. Se a estas políticas juntarmos a criação de um Ministério da Identidade Nacional e nos esquecermos do seu pretenso europeísmo passamos a ter um governo com um programa parecido com o de outra força política francesa. Não?
quinta-feira, 5 de julho de 2007
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9 comentários:
..Sarkozy prepara-se pois para aplicar um programa marcado pelo nacionalismo económico, que, aliado à liberalização das relações laborais internas, resulta numa redistribuição do rendimento que aprofunda as crescentes desigualdades francesas."
Até é capaz de ser verdade. Mas, no que é verdaderamente importante, i.e., crescimento do PIB esse programa terá por certo excelentes resultados. No fim todos ficam mais ricos. E, isso é o que importa.
O crescimento do PIB não significa que todos fiquem mais ricos. O conjunto fica mais rico, mas uns, frequentemente ficam mais pobres. De resto ainda que ficassem mais ricos em termos absolutos mas mais pobres em termos relativos, o resultado que conta para a satisfação pessoal é o relativo.
Pense bem, preferia viver num mundo em que todos ganham 100, ou num em que você ganha 100 e os outros todos ganham 200?
O "verdadeiramente importante" é um conceito muito bonito, realmente. Para que serve um crescimento do PIB se esse crescimento for absorvido e concentrado nos extratos mais altos? De nadinha. A vida dos franceses em nada muda. E isto partindo do pressuposto que não piora, o que não é, de forma alguma, de excluir. A menos que se use o conceito, ridículo, de “Nação” e de "riqueza da Nação", mas isso que fique lá para os nacionalistas e para os que enriquecem com os estremeções patrioteiros de quem nada ganha com eles.
Correcção ortográfica: escrevi extratos, seria extractos, obviamente.
“Pense bem, preferia viver num mundo em que todos ganham 100, ou num em que você ganha 100 e os outros todos ganham 200?” I.Rodrigues
Boa questão. Mas ela tem que ser refeita : “Pense bem, preferia viver num PAÍS em que todos ganham 100, ou num em que você ganha 100 e os outros todos ganham 200? “
De repente diria que num país onde todos ganham 100. Mas depois olhava para o lado (leia-se Espanha,Itália,etc) e via quase todo o mundo a ganhar 200! E, nessa altura, por certo que mudaria de opinião. Eu e toda a gente, diga-se. É próprio da natureza humana.
"Para que serve um crescimento do PIB se esse crescimento for absorvido e concentrado nos extratos mais altos? " Filipe Tourais
De nadinha. Completamente de acordo. Acontece que a experiência nos diz que se é certo que os ricos ficam mais ricos, não é menos verdade que os pobres ficam menos pobres.
Tendo em conta o caso presente, pelos vistos não é assim: a redução de impostos para o topo é compensada por um aumento para os que estão no fundo da escala
O Sarkozy nunca escondeu a proximidade e parecença ao Le Pen. Aliás, foi mesmo esses votos que ele quis caçar, e conseguiu.
Como ministro já cumpria o programa não do seu partido, mas da FN. Agiu e legislou de forma tal que ele próprio, se nascesse hoje, não poderia provavelmente ser francês!
Aliás, se adicionarmos a informação de que os franceses têm as garantias sociais mais ou menos asseguradas, fica-se a saber que o agravamento da desigualdade entre ricos e pobres é simultaneamente um agravamento do fosso entre franceses "de souche", outros franceses e estrangeiros.
O tipo é coerente, e nunca enganou ninguém. Sempre foi perfeitamente visível o que ele queria fazer e como seria. Agora tem o poder todo, em vez de estar só encarregue da Administração Interna, e é um gajo coerente. Não mudou só por ter chegado a Presidente.
João... umas feriazinhas no Dubai, não? Ou nos EAU... por exemplo!...
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