Como já atrás referimos, um dos mitos liberais mais arreigados diz respeito às virtudes da livre circulação de capitais para o desenvolvimento dos países. Se há algo que a experiência da generalidade dos países asiáticos mostra é que esta hipótese é no mínimo simplista. De facto, a esmagadora maioria das experiências de crescimento económico acelerado fez-se, salvo raríssimas excepções, com robustos controlos à entrada e à saída de capitais. Sobretudo de capitais especulativos de curto prazo. Mas também através do esforço para impor condições, regras e limitações aos investimentos estrangeiros directamente criadores de capacidade produtiva adicional.
Isto representou o reconhecimento, infelizmente esquecido por tantos, de que a livre circulação de capitais à escala internacional pode criar quatro formas de risco que os países fazem bem em procurar evitar: (1) risco cambial associado a oscilações demasiado violentas no valor da taxa de câmbio devido a entradas e saídas súbitas de capitais; (2) risco de fragilidade financeira associado a padrões de investimento especulativo, à sucessão de períodos de euforia, com subidas rápidas dos preços dos activos, seguidos de períodos de pânico com quebras rápidas dos preços, tudo convenientemente alimentado pela tendência para a acumulação de níveis de endividamento externo que se revelam insustentáveis; (3) risco de contágio, quando os países de uma certa área passam a ser vistos, na vertigem dos fenómenos especulativos internacionais, como semelhantes, o que leva a poderosos efeitos de mimetismo por parte dos detentores de capitais e, em épocas de crise, a fugas rápidas e maciças; (4) risco de perda de soberania quando a política económica dos países passa então a estar dependente dos humores dos mercados financeiros internacionais e das instituições que os suportam.
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