Desde que chegou ao Ministério da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues deixou claro que o envolvimento e a motivação dos professores não era uma preocupação central da sua actuação. E entre estes, poucos têm sido tão desconsiderados como os professores contratados.
Sem acesso aos direitos previstos para trabalhadores do quadro (licença de maternidade, por exemplo), sem poderem progredir na carreira (como trabalhadores com contratos a prazo não têm sequer uma carreira para progredir...), sujeitos a saltar de escola em escola durante anos a fio (com todos os custos pessoais e familiares envolvidos, e com as implicações que tal instabilidade tem sobre a relevância de investimentos duradouros nas escolas por onde passam), os professores contratados são tratados como trabalhadores ocasionais, à margem do sistema de ensino.
E no entanto, na sua grande maioria, estes professores são hoje indispensáveis ao sistema. A instabilidade em que vivem não se deve às oscilações na procura de ensino - pelo contrário, o número de alunos a ingressar nos ensinos básico e secundário tem vindo outra vez a aumentar e é isso que explica que o sistema de ensino não possa passar sem os contratados (segundo algumas estimativas, eles representam hoje cerca de 1/3 dos docentes nas escolas públicas). Mais ainda, muitas vezes é entre estes docentes que encontramos as pessoas mais jovens, mais actualizadas, mais determinadas em dar o melhor de si ao ensino (que outras pessoas estariam dispostas a levar a vida que levam a troco de salários instáveis e parcos?).
Em 2006, Maria de Lurdes Rodrigues anunciou que os concursos para os quadros de professores passariam a ter lugar apenas de 3 em 3 anos. Porquê? É fácil de perceber: um professor contratado recebe menos, não vê o seu salário aumentar ao longo dos anos, não tem direitos em caso de doença ou maternidade/paternidade. Ou seja, adiar a integração de professores nos quadros, mesmo quando eles são necessários numa base permanentemente, ajuda a conter a despesa pública. Tão simples quanto isso.
Para a Ministra parece ser pouco relevante que isso conduza a uma crescente desmotivação e desmobilização de indivíduos que andam há anos a viver condições insustentáveis, sem perspectivas de estabilidade pessoal ou melhoria das condições de trabalho. Mas isso não é um problema para quem governa - até porque o empenho que os professores investem nos processos educativos, dentro e fora das salas de aula, não aparece nas estatísticas. Ao contrário do número de computadores por aluno (que se resolve com os fundos europeus), ou dos níveis de insucesso escolar (que se resolve incluindo as classificações atribuídas nos critérios de avaliação dos professores). O caminho para melhoria da qualidade do ensino não é necessariamente aquele que rende mais votos.
Até quando?
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6 comentários:
Até ao dia em que os portugueses decidirem , na área governativa, apostar em contratar mão-de-obra qualificada e com provas dadas, em vez destes espertalhões mafiosos que há oitocentos anos nos empatam. A solução, está mais que visto, é despedi-los a todos e passar a contratar fora do país, como no futebol. Não deve ser difícil contratar - na Holanda na Noruega e na Dinamarca - trezentos políticos honestos e competentes.
A conversa que os nossos políticos são desonestos e incompetentes e que a culpa é deles é ridicula!
Os políticos são o reflexo da população, são portugueses como eu e vocês!
Do post depreendo que os professores são alheios à crise no ensino, são todos ultra competentes (só não são mais por culpa da ministra). Sei de vários casos de professores que dão mau nome à classe, são desonestos, corporativos e em nada contribuem para a valorização do ensino e dos alunos!
Portanto seguindo o raciocinio da contratação externa provavelmente deveriamos tb contratar professores lá fora!
Cpmts
A diferença entre o eleitorado e os seus eleitos, neste aspecto, é que o primeiro não é pago para ser competente e sério, ao passo que os segundos sim. E ninguém me tira da cabeça que nem um povo tão apático com o português merecia políticos tão incompetentes; estou até convencido de que a classe política portuguesa tem o dom de centuplicar os piores defeitos do seu eleitorado, que as elites lusas são ainda mais canhestras e ignorantes do que a generalidade do povo.
Os professores e os funcionários públicos em geral são sobretudo, para este governo, um mero empecilho, uma carga que gostariam de alijar e um excelente bode expiatório. Há professores bons, há profesores maus e há professores assim-assim; mas se o ensino em Portugal é a farsa que todos sabemos, os últimos culpados são os professores.
Não entrando na conversa da "culpa é dos políticos", realço a forma como a ministra tem legitimado a suas reformas. Apoia-se sempre no interesse dos alunos e dos seus pais em prejuízo do interesse da classe docente (esse grupo que não faz mais nada senão protestar... uns chatos). É uma opção perigosa e com sustentabilidade limitada.
No entanto, é interessante verificar que, de todos os independentes do Governo, esta ministra é a que melhor jogo de cintura política tem revelado. Sim, há os casos charruas e os erros nos exames nacionais. Mas em termos de postura política, mostra estar longe do amadorismo de Mário Lino ou Manuel Pinho.
Ou seja, não parece ser fácil conseguir que a mesma caia em desgraça. Por este andar, não deverá ser uma das remodeláveis no pós-presidência portuguesa.
Os sindicatos terão de ser bastante mais astutos para fazer com que Maria de Lurdes Rodrigues caia em descrédito perante a opinião pública. Não será fácil...
E se todos fossem contratados? E se o ordenado fosse superior? E se todos os satkeholders fossem chamados a avaliar o desepenho das escolas? Os dados apontam para a redução do absentismo dos professores em mais de 50%...A Ministra sabe o que faz.
Não sei que dados são esses. Nem os mais sofisticados modelos de previsão podem antecipar coisas desse género.
O problema da Ministra é, desgraçadamente, comum ao da maioria dos economistas - a incapacidade de raciocinar sem ser com base em médias. A média dos professores pode ser um desastre. Mas a minoria dos profesores que mantêm vivo o nosso sistema de ensino estão a sentir-se maltratados e desrespeitados.
O mínimo que se poderia esperar dos responsáveis pela tutela (nomeadamente se tivermos em conta o contexto de contenção orçamental)seria alguma demonstração de respeito. Pelo contrário, tais responsáveis não perdem uma oportunidade para generalizar os casos de incompetência (que os há), não tendo sido capazes nos últimos dois anos de dar o mínimo sinal de esperança àqueles que ainda querem acreditar que vale a pena investir na profissão.
Quem conhece uma única escola que seja, sabe bem do que estou a falar. Saberá mesmo a Ministra o que anda a fazer?
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