terça-feira, 7 de maio de 2024

O défice de pluralismo é transversal à comunicação social

Desengane-se quem possa pensar que o défice de pluralismo no debate político e político-económico se restringe às televisões. O relatório do MediaLab (ISCTE) de 2023, que procede também ao mapeamento do comentário nas rádios e em «meios online» (websites do Expresso, Público e Observador) permite constatar que o padrão de desequilíbrio, em termos ideológicos, se mantém, favorecendo os partidos à direita do espetro político.


De facto, no total de 213 comentadores identificados (dos quais cerca de 21%, sobretudo jornalistas, não são politicamente enquadrados), 58% são de direita e apenas 38% se posicionam à esquerda (com 4% de centro). Contudo, nos «meios online» o peso relativo dos comentadores de direita atinge os 63%, sendo nas rádios que o desequilíbrio é ligeiramente menos acentuado (com a esquerda a situar-se nos 42%).

Um aspeto interessante aponta para o facto de ser no critério da «militância» que a diferença de representatividade de comentadores é menor. Ou seja, em que os meios de comunicação se sentem, de algum modo, mais «obrigados» a respeitar equilíbrios. Mas o mesmo tende a já não suceder quando o critério passa a ser o da «conotação» política do comentador (em regra por pertença, no passado, a um partido político) e, muito menos ainda, quando é critério é o da «tendência», o qual gera um fosso expressivo entre o comentário político à direita e à esquerda. E note-se, por último, que é nos «meios online» que a militância tende a ser menos valorizada como critério.

Estes dados remontam a 2023, ano em que o comentário político televisivo estava, claramente, a preparar eleições. Nunca como nesse ano, de facto, e desde que o MediaLab produz relatórios, a desproporção entre esquerda e direita foi tão significativa (ver aqui), com o aumento abrupto de comentadores de direita no espaço televisivo, entre 2022 e 2023. Como se estivesse em causa, é difícil não pensar isso, uma operação de desgaste do governo maioritário do PS, bem como um acantonamento das esquerdas, através do tal «contínuo político-mediático» que Pacheco Pereira tem vindo, e bem, a assinalar.

3 comentários:

Anónimo disse...

Difícil, difícil mesmo é encontrar um que seja realmente independente, daqueles que antes de ler não se sabe o que vão dizer. Isto pelo lado da política, pois também há outros interesses. Por exemplo, quando vejo um artigo sobre o novo aeroporto de Lisboa vou logo à procura da biografia do autor, nomeadamente, donde é que ele é ou tem família. Raramente falha.

Anónimo disse...

Pondo de parte que o chamado "pluralismo" está esquematizado apenas em "esquerda", "centro" e "direita" (verdadeiramente ridículo), vou continuar a bater no que realmente importa: comunicação SOCIAL.

Mas serei o único a achar um completo absurdo que - independentemente da militância, do posicionamento, da tendência, tanto faz - UMA pessoa NÃO eleita (eleita em sentido lato, além de cargos políticos, também de direção associativa, sindical, etc, portanto, uma pessoa representante) possa ter o privilégio de opinar sobre a representação de todos os outros na comunicação social, ou seja, na comunicação que é de todos?

Para mim, convidar a mais variada cambada de "direita", "centro" ou "esquerda" para comentar ou mesmo debater, não vai mudar nada no que realmente importa e representa o país; tê-los convidados assim para "comentar" é como convidar pessoas sem qualquer publicação científica ou qualquer experiência de trabalho acumulada de evidente relevância para "lecionarem" na universidade.

Rui Costa disse...

As conclusões deste estudo, por si mesmas, já são bastante expressivas, mas não são representativas da magnitude real do desequilíbrio esquerda/direita no comentário na CS.

É como se, de certo modo, os critérios usados pelo estudo estivessem contaminados pelo mesmo desequilíbrio que diagnosticam à CS.
Vejam-se os casos de alguns comentadores que o estudo conota com a esquerda, como por exemplo Clara Ferreira Alves, Joana Amaral Dias e Joaquim Vieira.

Quais seriam os resultados se a análise fosse feita sem truques?