Há alguns dados que nos ajudam a perceber a importância desta greve. No ano passado, empresas como a Jerónimo Martins (dona do Pingo Doce) ou a Sonae (dona do Continente) estiveram entre as que registaram maiores lucros à boleia da inflação. A crise do custo de vida provocada pela subida acentuada do preço dos bens alimentares trouxe ganhos extraordinários aos grandes supermercados, à semelhança do que aconteceu no setor da energia. Apesar desses resultados, o setor continua a depender dos baixos salários pagos aos trabalhadores e as empresas da grande distribuição são também as campeãs da desigualdade salarial em Portugal.
Na Jerónimo Martins, o CEO recebeu €3,7 milhões, o que representa um valor 186 vezes (!) superior à média dos salários dos trabalhadores da empresa. Na Sonae, a CEO recebeu 82 vezes mais que os trabalhadores.
O aumento da desigualdade é, de resto, uma tendência da economia portuguesa: em apenas 10 anos (2012-2022), os CEO das empresas cotadas viram as suas remunerações aumentar 47%, enquanto o vencimento médio bruto anual dos trabalhadores recuou 0,7%. O fosso salarial nestas empresas quase duplicou.
Esta enorme desigualdade de rendimento não tem qualquer relação convincente com o mérito ou a produtividade de cada um. É simplesmente o resultado das relações de poder dentro (e fora) das empresas. Esta greve é um lembrete sobre a importância dos profissionais que estiveram na linha da frente durante a pandemia mas que parecem ter sido rapidamente esquecidos. Merecem a nossa solidariedade.
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