quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Ignorando o essencial 2



Para sublinhar a análise do Jorge Bateira, junta-se o mapa-resumo que a Marktest costuma divulgar sobre a evolução das diversas sondagens realizadas.

Sim, as sondagens podem ser exercícios de manipulação política (a série Sim, senhor PMexemplos disso.) Mas mesmo aceitando que o são, acabam por ser sintomáticas, seja do que possa estar realmente a acontecer, seja do que alguém gostaria que pensássemos que está a acontecer. De qualquer das formas, é igualmente sintomático do que está em curso.

O que se nota das sondagens é que a governação do PS tem levado a um "esvaziamento" da votação no próprio PS, sem que o PSD - ao contrário do passado - capitalize a maior parte desse descontentamento. Quem parece estar a ganhar com isso é a extrema-direita, seja a extrema-direita política (CH), seja a extrema-direita económica (IL). Apenas parte desse descontentamento está a ir para as forças à esquerda do PS.

Ora, se isso for real, toda a imagem de descontentamento ao Governo - que não se desmarque desta tendência - alimenta esta tendência. Ou melhor: devidamente manipulada pode ser usada para esse fim.

Por isso, é interessante notar que os principais canais de televisão privados - SIC e CNN - estejam em verdadeira campanha laboral: nunca se viu nestes canais tanta informação sobre as lutas de trabalhadores. Há horas, a CNN Portugal abriu o noticiário a dizer: "Um dia de indignação vai percorrer o país", envolvendo empresas privadas e serviços públicos, na sequência da convocação pela CGTP de um dia de protesto. Jornalistas foram mandados para a rua para fazer directos televisivos diante das tarjas da frente das manifestações."Protesto da CGTP está a ter enorme impacto", diz a pivot da Sic Notícias. Não chocaria, pois, que a manifestação da CGTP de hoje à tarde em Lisboa, do Largo Camões até S.Bento fosse coberta em directo por todas as televisões...!

Era bom que esta nova preocupação jornalística resultasse de que as direcções de informação destes órgãos de comunicação social tivessem passado a achar que os sindicatos fazem falta ou que a injustiça social é algo que se deve combater. Ou que a política económico-laboral-orçamental seguida está errada. Era bom que essas direcções de informação entendessem que o descontentamente social é o corolário e a outra moeda do que diariamente transmitiram nos seus canais (como escreve o Tiago Santos), sobre a inevitabilidade de manter a despesa pública apertada (porque é necessário fazer o que os mercados querem), de reduzir o investimento público (que supostamente prejudicaria o privado), de reduzir a escola e a saúde públicas (porque os privados fazem melhor), de não se aumentar os salários (porque isso provocaria uma espiral inflacionista).

Mas na verdade, não é isso que se passa. Ninguém mudou de opinião. Apenas se pressente que o poder governamental está enfraquecido. E estão a apostar na nova maioria, com a extrema-direita.

Então, um programa político ainda mais gravoso - contemplando a destruição do Estado Social - será levado a cabo. E nessa altura, os mesmos canais de informação estarão lá para o apoiar. Como aconteceu em 2011.

3 comentários:

jose duarte disse...

Ver e ouvir tão "brilhantes" economistas a perorar sobre a situação da economia portuguesa em 2011, leia-se divida "soberana, sem pestanejar e convictos de terem a verdade na manga é verdadeiramente esclarecedor da agenda desta gente.Aliás deve ter sido pela clareza da análise que, passados dois anos o Gaspar se pôs ao fresco.
É um belíssimo documento, para mostrar a falta de seriedade na análise e de enganarem as pessoas com pretensas e óbvias considerações e medidas a adotar- E não se deram o trabalho de explicar, com a mesma "clareza", por que é que o BCE teve de intervir, comprando divida soberana.
E o que é que dizem hoje as mesmas personagens?....
A agenda política dos meios de comunicação social é um fato cada vez mais evidente.

TINA's Nemesis disse...

A clique da política e da comunicação social que se vê como vencedora da globalização e da integração europeia não vai parar de ser incapaz de fazer alguma coisa de substancial em prol do bem comum, e que vise a resolução dos problemas materiais da larga maioria da população, inevitavelmente a guerra de classes vai-se agudizar!

Não sei se concordo em distinguir a extrema-direita política da extrema-direita económica, é como separar economia da sociedade, algo que os neoliberais adoram fazer. O cardápio económico-ideológico do Chega é essencialmente o do Iniciativa Liberal, a separação entre os dois é estética, essas estéticas visam determinados públicos-alvo mas no fim nós sabemos que tanto o Chega como o IL existem apenas para servir uma minoria contra a maioria.

Anónimo disse...

Há sem dúvida uma agenda política, aos serviço do poder económico proprietário dos meios de comunicação social, que estabelecem as linhas editoriais dos meios de informação e é de tal forma evidente, que já só pode ser negado por grande ignorância ou má fé. Estamos mesmo perante um ataque ao regime democrático, porque está a ser vedado permanentemente o acesso de personalidades de esquerda aos meios de comunicação, impedindo assim o livre e são debate de ideias de forma a que se generalizem as visões e soluções políticas conservadoras para sociedade, propostas pelos inúmeros comentadores conservadores. Esta estratégia não sou eu que a anuncio, foi Steve Bannon ( ex-conselheiro de Trump ) que a apresentou há algum tempo. As forças políticas de esquerda têm que voltar a defenderem uma sociedade mais justa, igual e humana para todos, como só elas ao logo da história, o foram capaz de o fazer.