quinta-feira, 23 de junho de 2016

Truques


Temos de conseguir superar os egoísmos nacionais e regressar a uma Europa social. Agora repitam várias vezes. Muitas vezes. Para lá da estafada associação entre Europa e União Europeia, nesta frase temos dois truques frequentes, e ligados, de um europeísmo que espantosamente ainda persuade muitos intelectuais à esquerda. Supostamente, estes tinham obrigação de saber mais e melhor.

Os dois truques consistem em associar um sentimento perverso à esfera nacional, reservando implícita e por vezes explicitamente para a esfera supranacional europeia uma disposição altruísta, vinculando-a institucionalmente a um suposto modelo social europeu. Na realidade, é mais rigoroso dizer-se que é preciso superar os egoísmos supranacionais e regressar a uma Europa de Estados sociais.

De facto, os Estados sociais europeus, assim no plural, são construções essencialmente nacionais, que tudo deveram às dinâmicas políticas dos espaços onde esteve e ainda sobrevive a democracia. No eixo Bruxelas-Frankfurt, com mais lobistas empresariais do que Washington, estão, isso sim, todos os egoísmos, até porque aí estão concentrados os mais poderosos instrumentos de erosão das solidariedades forjadas na escala estatal pelos povos europeus.

O decadente europeísmo realmente existente está basicamente reduzido a múltiplos truques ideológicos, que servem para ofuscar e que apenas sobrevivem porque continuam a ser repetidos incessantemente por aí, embora, pudera, com cada vez menos convicção.

6 comentários:

Jaime Santos disse...

Para quem se queixa, com razão, de que outros reduzem os argumentos anti-europeus à xenofobia e ao nacionalismo agressivo e racista, não está mal. Como perdeu o argumento do Brexit, porque toda a gente já percebeu que existe uma forte razão tática para votar pela permanência do RU na UE, porque uma saída será sempre pela direita, agora vem com isto. Pois, os pró-europeus são todos apaniguados das multinacionais ou então são uns pobres ingénuos, quando não estúpidos. Reducio ad Hitlerum, ora bem! A nossa sorte é que os líderes políticos do BE, PEV e PCP (já) não alinham nisto...

Anónimo disse...

“Temos de conseguir superar os egoísmos nacionais e regressar a uma Europa social” como se alguma vez vivêssemos ou houvesse alguma Europa social…por aqui se vê o “tapar o Sol com a peneira”.
Os “intelectuais de esquerda” mas qual que´ …ate parece que não há limites…Nem tudo que luze e´ ouro, nem tudo que balança cai, a menina que reza na igreja pode ser que seja uma santa mas também pode ser que não seja.
Montes deles andam por aí a passear-se nos partidos ditos de esquerda, nos eventos político-sociais de esquerda, mas tem muito cuidado na defesa da classe a que realmente pertencem. E, por serem “democratas” ate´ fazem práticas de direita!
E´ da natureza do camaleão mas do homem não…
A defesa de classe esta´ tão vinculada que ate´ há uma esquerda do PS, outra esquerda no PSD e segundo observadores neutrais também os há no CDS.
Ora meus senhores…

Anónimo disse...

Uma saída será sempre pela direita?

Mas a que propósito tal tremenda afirmação? Isto dito por alguém que tem a ousadia de fazer afirmações do género são "todos apaniguados" não está nada mal.De tremenda afirmação em tremenda afirmação.

(Por acaso a Trade Unionists Against the UE é tudo menos de direita. E é reler o que Tony Benn escreveu aqui há uns tempos...)


Provavelmente não vai haver nenhuma saída. Por agora.Mas só os cegos não vêem os sinais que se acumulam no horizonte. E os espartilhos que tentam limitar a força das águas vão ceder. Uma questão de tempo

Por acaso a Trade Unionists Against the UE é tudo menos de direita.

Anónimo disse...

Excelente, excelente, é mesmo isso.

Jaime Santos está rotundamente enganado, além de se acobertar arrogantemente num "toda a gente já percebeu". Eu, que sirvo já de contraexemplo, e estou certo que muitos outros à esquerda votaríamos sem hesitação pela saída, se fôssemos eleitores do Reino Unido.

As saídas podem ser pela esquerda ou pela direita, depende de quem reunir mais força social e política, sendo obviamente muito determinante, provavelmente mesmo decisivo, no imediato, quem lidera o processo e quem ocupa o governo. No imediato, mas não necessariamente a prazo mais longo, que é o mais importante, quando está em causa o futuro do país e a possibilidade de concretizar um projeto sustentado de democracia, de desenvolvimento e de progresso social.

O sentido da saída está largamente em aberto, mas o leque de possibilidades à esquerda alarga-se. A única coisa certa, no meio disto tudo, é que a permanência é sempre pela direita. E quem, à esquerda, ainda não percebeu isto, ou anda muito distraído ou já capitulou vergonhosamente como o Syriza na Grécia.

Anónimo disse...

Mais uma vez um bom post. Mais uma vez o desmascarar dos truques dos ditos egoísmos nacionais e outras tretas do género. Quem não vê que quem manda mesmo não tem qualquer carácter altruísta está cego de todo, ou confunde os seus desejos com a realidade.

Mas há outro ponto importante no post de João Rodrigues. É aquilo que ele chama ( e com uma notável precisão) de "decadente europeísmo". Os europeístas convictos são-no por defesa dos seus interesses económicos e de classe ( temos aí o eixo Bruxelas/Berlim como cabeça de cartaz dos grandes interesses). Ou são uns "distraídos" personagens de esquerda, com ou sem aspas, que ainda estão emaranhados nas conversas da carochinha, contadas a propósito da criação da UE e do percurso desta . Não só desconhecem os passos da História, como sobretudo não conseguem tirar conclusões sobre o que fazer perante esta monstruosidade que nos tolhe e afunda.
Como se, ao tentar ser protagonistas dum tempo histórico, estivessem impedidos de ver que esse tempo já passou de vez e o que sobra é mesmo um jogo de sombras e de terror, em que irremediavelmente ficarão para trás os que preferem manter-se fiéis a uma velha e decrépita prostituta como esta UE.

Daí a perda de convicção referida pelo JR.Ficam a falar apenas coisas como Rui Tavares e Teresa de Sousa, exemplos maiores desta mediocridade intelectual triste, oca e apagada

Anónimo disse...

Não sou chauvinista!
Não odeio o povo alemão ou outros povos!
Quero cooperação entre os povos!
Quero que a Europa seja um espaço de paz, progresso e respeito pelos direitos humanos!
Quero que na Europa se defenda quem realmente produz, o trabalhador!
Quero que na Europa se reprima os que verdadeiramente vivem acima das possibilidade de todos os outros, os parasitas da finança!

Mas sou contra o Euro!
E sou contra a ditadura neoliberal União Europeia que me estão a impor!

Vá, tachista nauseabundo Assis chama-me extrema-esquerda mais uma vez! Ou extrema-qualquer coisa, no fim, aquele que ficará com o rótulo de extremista vais ser TU!