terça-feira, 28 de junho de 2016

As leituras eleitorais simplistas chegam para explicar o Brexit?

1. Assim que foram conhecidos os resultados do referendo à permanência do Reino Unido na União Europeia instalou-se uma narrativa que tratou de carregar nas tintas do nacionalismo, da xenofobia e do racismo (apresentados como as principais motivações do voto «Leave» e os grandes vencedores do referendo), sendo amplamente suavizado o significado político-económico dessa escolha (no que respeita à profunda desilusão, mal-estar e descrença no projeto europeu e na governação europeia).

2. Essa narrativa sobre as razões que conduziram à vitória do «Leave» parecia encontrar suporte sociológico na análise dos resultados a partir de variáveis como a idade, o nível de instrução ou as diferenças entre voto urbano e voto rural. Nesses termos (como o João Rodrigues já assinalou neste blogue), o Brexit foi interpretado como a escolha de um eleitorado envelhecido, desinformado, nacionalista, racista e retrógrado, provindo o Bremain de um eleitorado jovem, esclarecido, cosmopolita, adepto do multiculturalismo e progressista.

3. Sucede, contudo, que um inquérito muito difundido nas redes sociais («How the United Kingdom voted on Thursday... and why») desaconselha leituras eleitorais do referendo demasiado simplistas e lineares. Nessa análise, em vez de se tentar deduzir a motivação do voto a partir da sua distribuição segundo a idade, o contexto de vida ou o nível de escolaridade, colocou-se de modo muito direto a questão que verdadeiramente importa: «por que razão votou como votou?». E eis que a «narrativa xenófoba», nos termos em que foi formulada, perde aderência à realidade:


4. De facto, para metade (49%) dos eleitores do «Leave», a principal razão para votar Brexit decorre da perda de soberania política no contexto da pertença à UE. Um argumento bastante mais relevante que o da imigração, associado a apenas um terço desses eleitores (e não necessariamente relacionado com sentimentos xenófobos). Por seu turno, constata-se que a parcela mais relevante (43%) dos votantes no «Remain» não é propriamente entusiasta da UE. Apenas estima que os riscos e impactos decorrentes da saída são superiores aos da permanência. E que, para 31% dos apoiantes do «Remain», sair significa abdicar da situação de privilégio que o Reino Unido tem na UE, onde beneficia do acesso ao mercado único sem ter que submeter a Schengen nem às regras do Euro.

5. Quer isto dizer que a questão da imigração não é relevante? Não, não quer. Não só é relevante como é indissociável, para o melhor e para o pior, do próprio «processo europeu», nos moldes absolutamente trágicos em que o mesmo tem sido desenhado e conduzido, como de resto o João Ramos de Almeida já aqui assinalou. O que não se pode é agitar a questão da imigração (e da sua vertente xenófoba) como sendo a explicação essencial do resultado do referendo e muito menos fazê-lo para afastar os olhares e dissociar esse resultado do desastre europeu, no intuito de proteger e alimentar um otimismo cada vez mais infundado sobre a capacidade de a Europa se regenerar.

6. De facto, quando raspamos o «verniz sociológico» simplista (o tal das linearidades entre voto jovem e multiculturalismo ou entre voto grisalho e aversão aos imigrantes, por exemplo), surge uma teia de questões bastante mais complexa e que se presta pouco a leituras intuitivas. Um idoso que vota a favor do «Leave» tanto o pode fazer por considerar que a Europa deixou de constituir um espaço de internacionalismo progressista e solidário, como o pode fazer por um simples nacionalismo saudosista e xenófobo. Tal como um jovem tanto pode ter votado «Remain» porque continua a acreditar no projeto europeu, como o fazer apenas por não conseguir conceber um enquadramento diferente para a sua vida quotidiana (apesar de reconhecer o fracasso europeu e os danos que o mesmo produz). Como lembrava há uns dias o João Rodrigues, nacionalismos há muitos (e internacionalismos também).

33 comentários:

Anónimo disse...

O nojo que sinto daqueles que têm falado dos velhos de forma depreciativa!

“Os velhos, que vão morrer daqui a uns anos, são uns malandros e egoístas!”

Mais uma vez os europeístas “democráticos” a exporem-se como autênticas fraudes progressistas democráticas!

Em relação aos jovens, eu há não muitos anos podia também pensar que me tiraram alguma coisa mas, a verdade é que sendo ainda jovem aprendi, com o passar do tempo, como esta Europa não me quer bem!

Dizem assim: “Tiraram aos jovens ingleses a oportunidade de trabalhar noutros países europeus”.

E eu pergunto, mas quem é o idiota que acha que o pesadelo neoliberal europeu vai dar um futuro digno aos jovens seja de que país forem?
Para que querem hoje os jovens emigrar para outro país europeu se o neoliberalismo tem criado precariedade e desemprego um pouco por toda esta Europa, e sem qualquer previsão que isto alguma vez venha a melhorar…

Eu, que já vivi nessa Europa dita mais rica posso dizer… NÃO FIQUEI IMPRESSIONADO!!

Anónimo disse...

Parabéns pelo texto é um excelente ponto partida para uma conversa que se quer séria sobre um assunto relevante.

R.B. NorTør disse...

Caro Nuno,

Antes de mais obrigado por este comentário e pelo gráfico. Não sei se em Portugal ainda se martela na tecla do simplista, daí a necessidade do esclarecimento. mas parece-me, acompanhando "literatura" não lusófona que pelo menos desde ontem, com a publicação do artigo de opinião do Boris no Telegraph, que o foco mudou.

nmlima disse...

Ola

Eu vivo no Reino Unido e assisti a esta campanha eleitoral com algum receio e frustracao.

Pelo que vi - e isto e igualmente minha perspectiva, nao e facto - houve uma campanha apontada aquela populacao que gosta de dizer "isto esta cada vez pior"; e outra para quem ja 'sabia' a partida que "isolados isto ainda vai ser pior".
Muito se tentou convencer os indecisos, porque os outros nao estavam com nenhum tipo de duvida ou hesitacao.

Convido a leitura dos jornais Daily Mail e Daily Express para quem quiser mesmo procurar algum tipo de racionalidade nao-xenofoba para a campanha Leave.EU. Garanto-vos que nao vai ser facil.


Se por um lado nao discordo com a ultima conclusao deste blog, sugiro que tambem se veja o que significa essa resposta "as decisoes sobre o Reino Unido devem ser tomadas no Reino Unido".
Esse chavao foi usado e abusado para chegar precisamente aquele publico desconfiado em relacao ao que e estrangeiro, e acompanhado de ilustracoes coloridas (googlem 'bendy cucumbers rules from Brussels', por exemplo), como uma regulamentacao excessiva que provem de Bruxelas e alegadamente impede o negociante britanico de vender e de inovar.

A ligacao foi muito tenuemente demonstrada pela campanha Leave.EU entre essa excessiva regulamentacao e os problemas que preocupam as pessoas (habitacao, servico nacional de saude, emprego & salarios). Poucos dias passaram ate vermos recuos nessas promessas e conviccoes.

Tambem nao tardou muito para os partidos de extrema direita se chegarem a frente e ate afirmarem orgulhosamente que o UKIP (menos radical que eles pelo menos a superficie) ja serviu o seu proposito, e agora e preciso partir para o fim de emigacao e para o comeco da repatriacao.

Eu antes nao tinha grande estima pelo 1o Ministro Cameron, mas vejo grande merito em como se demite, com tempo para nova lideranca se assumir, ou seja, obrigando os eurocepticos mais radicais a sairem da sombra da 2a e 3a linha do Partido Labour e do Partido Conservative. Assim terao que disputar eleicoes afirmando a sua posicao pro ou contra a UE. Vai ser interessante conhecer que aliancas e coligacoes se vao construir agora que Cameron esta de saida, com ambos os 2 partidos principais fracturados pela questao europeia.

Jaime Santos disse...

Se a questão que foi colocada aos inquiridos é aquela que aparece no resumo da sondagem 'Please can you rank the following in order of how important they were for your decision?, então seria mais esclarecedor se os inquiridos tivessem classificado com pontuação sucessivamente mais elevada motivos cada vez mais relevantes para si e no final se determinasse a classificação total obtida por cada uma desses motivos. A sondagem foi feita como se tratasse de um 'alternative voting system' (se a interpreto corretamente) e apresentada como uma 'first-past-the-post election'. Quanto à questão de falta de entusiasmo pró-europeu dos votantes no remain, a sua conclusão é um 'non-sequitur', Nuno Serra. Pode ser-se euro-entusiasta ou euro-cético e temer de igual forma as consequências de um Brexit. Eu, se estivesse no RU e pudesse votar, teria votado antes de mais para evitar uma recessão e para travar os fascistas (que gostem ou não, são os vencedores desta eleição). Quer para os votantes de um lado quer para os de outro, um motivo não exclui os outros. Depois, há dois aspetos que não referiu, um dos quais que deve estar a provocar calafrios ao seu colega Jorge Bateira. A esmagadora maioria dos votantes do Labour (63%) votaram pelo Remain. Será que o Jorge Bateira acha mesmo que eles irão atrás de um Corbyn que irá agora revelar a sua face de verdadeiro euro-cético? Eu duvido. Mais, seria interessante perguntar qual o motivo principal porque votaram Leave aos votantes do Labour que o fizeram, se a questão soberanista, se a questão da imigração. Em segundo lugar, a pergunta 'Do you think of each of the following as being a force for good, a force for ill or a mixed-blessing?' enterra quaisquer veleidades que você, o João Rodrigues e o Jorge Bateira possam ter quanto ao apego a valores humanistas dos votantes do Leave. A não ser que claro, vocês planeiem liderar uma Esquerda que é muito ligeiramente crítica do capitalismo, mas profundamente anti-feminista, anti-ambientalista, anti-imigração e até tecnófoba.

Anónimo disse...

São 9 seculos e meio de existencia como Naçao e Estado Independente e organizado. temos o dever de honrar aqueles que nos legaram este rectangulo a´ beira mar plantado – Portugal.
Na actual virolencia em que se encontra a Uniao Europeia não é preciso ser de esquerda para sopesar e refletir a gravidade do que se divisa da janela da Europa: basta ser lúcido, contemporâneo e consciente das responsabilidades públicas com o futuro portugues.
E´ minha opiniao que se quisernos preservar, neste caso, restaurar a republica por inteiro, so temos uma via - a saida da U. Europeia… de Adelino Silva

Anónimo disse...

Antes de mais os parabéns ao Nuno Serra Pelos dados e pelo aporte de mais informação. Informação preciosa que, hélas, deita por terra muita da (sempre a mesma) informação que o Jaime Santos aqui repete.

Anónimo disse...

Como é que alguém que tem comentários por vezes sólidos agora está atascado nesta paranóia anti-brexit, anti-Corbyn e anti-tudo o que não lhe siga o seu pensamento?
Como é que o Jaime Santos põe em causa estes dados apresentando como alternativa os inquiridos classificarem com pontuação sucessivamente mais elevada?
E quais fascistas travados? Os fascistas em Portugal choram baba e ranho contra o Brexit.

Anónimo disse...

Acho que não é preciso ser bruxo para prever que, caso não tivesse havido Brexit, já tinham declarado sanções.A nós e a Espanha, logo após as eleições neste país.
Provavelmente ainda o farão e António Costa esteve bem nas suas últimas declarações a ta propósito.
Mas é duma ingenuidade total pensar que se pode esperar alguma coisa deste directório europeu.

Anónimo disse...

Nesta altura
Salazar levanta-se da tumba
E exclama com aquela voz fina e rouca
"Para Londres, rapidamente e em força"
(Rogerio G. V. Pereira)

Anónimo disse...

"Fora do euro os britânicos podem ter políticas de esquerda ou de direita. Dentro do euro só podem ter políticas de direita ou de direita.

Mais de direita ou menos de direita, mas sempre estruturalmente de direita. Pesem as intenções ou os desejos de eventuais governantes de esquerda.

Políticas de direita combatem-se, mas políticas de direita potenciadas numa União Europeia reacionária, onde se concentra toda a força do capital acumulado à custa da exploração e da fome dos povos europeus, são muito mais difíceis de combater e rebater.

Governos de direita, com maior ou menor dificuldade, mudam-se nas eleições. A União Europeia, dentro dela, ninguém corre ela."

Jose disse...

Tudo vai dar ao mesmo, bem pesadas as duas primeiras razões do Brexit.
E quando os '0progressistas' vêm no nacionalismo soberanista o rumo regenerador da humanidade estamos conversados.

Uma coisa se sabe pela experiência nacional: os compradores de votos sempre encontram na UE um pretexto para enganar o pagode!

Jose disse...

Ó Adelino, em nove séculos e meio pensa se não te sentes confortável com a existência dos Tribunais Europeus!

Anónimo disse...

Porque começam a cheirar mal estas acusações tontas a membros deste blog, com acusações patetas e rascas do género de anti-ambientalistas, anti-emigração, anti-tecnofoba e porque quem não se sente não é boa gente, é altura de relembrar alguns dados objectivos já aqui referidos

Tentar crismar como de vitória da extrema-direita um acontecimento que tem várias leituras diz muito da objectividade como alguns se empenham nesta discussão. Escrever que os votantes do Brexit não mostram apego a valores humanistas é a comprovação que de facto alguns não perceberam o descontentamento que grassa contra esta União Europeia e acreditam que o apego a tais valores humanistas está apenas do seu lado. Uma visão tao simplista como idiota, perdoe-se o excesso de linguagem.
Para o Brexit concorreram muitos factores. Um leito que foi alimentado por muitos confluentes.Tentar apontar para um dos lados apenas é desonesto e é falso. Não corresponde nem à realidade nem a qualquer análise intelectual fria e objectiva.
E, por ser desonesta, também é perigosa

Anónimo disse...

Não houve eminência parda ou menos parda dos mandadores deste mundo em que vivemos que não tivesse apoiado a permanência do RU na UE : a City, os bancos , os patrões das grandes empresas (1300 deles haviam lançado um apelo final dois antes do escrutínio), secundados pelo G7, chefes de Estado e de governo, ministros, dirigentes de multinacionais, banqueiros, agências de notação, OCDE, FMI... Tudo ao molho e fé em Deus. Todos juntos em nome, se se seguisse o trajecto de algumas afirmações demagógicas, infelizes e simplistas, tudo em nome dizia eu do feminismo, ambientalismo, imigração e da tecnologia. Tudo em prol , se se continuasse o rumo seguido por algumas afirmações desonestas e perigosas, do apego a valores humanistas.

Pois é.Não colhe esta narração primária dos bons estarem todos num sítio e os maus todos no outro. A confluência do voto no Brexit teve tantas causas como a do não brexit. Desmentir isto não vale a pena, porque é fazer figura de tolo ou de papagaio dos media instrumentalizados, o que não é de todo indicador de sagacidade.

Anónimo disse...

Pode-se dizer que as pessoas tiveram na tomada da sua decisão os mais variados motivos. E provavelmente muitos terão votado no que pensaram ser o mal menor.
Mas é duma agressão intelectual acantonar tudo atrás duma dicotomia falsa e sem sentido.

Não se pode negar o que Pierre Lévy escreveu:
"É verdade que uma parte da burguesia inglesa apoiou a opção de retirar o Reino Unido da União Europeia. Mesmo assim a clivagem é gritante: de um lado, as elites institucionais e políticas (e sindicais, com algumas louváveis excepções), a City, os bancos , os patrões das grandes empresas (1300 deles haviam lançado um apelo final dois antes do escrutínio) – e os meios urbanos abastados; do outro, os bairros populares, as cidades operários e os arrabaldes abandonados, as regiões desindustrializadas e no abandono".

Reduzir a clivagem entre os esclarecidos anti-xenófobos e os ignorantes é desonesto. E perigoso.

Anónimo disse...

Tal como é desonesto e perigoso dizer que ganharam os fascistas. Para além do insulto que é a quem votou por muitos outros motivos no Brexit, é também um render de armas aos argumentos do adversário.

Porque motivo o voto no Brexit não foi precisamente para derrotar os que estão por detrás do fascismo?
Porque motivo votar ao lado do grande poder económico , que é o verdadeiro motor da extrema-direita? Porque raio de carga de água votar ao lado dos banqueiros e de Soros, e das agências de notação e dos donos da UE e dos donos do Capital e dos donos do mundo? Porque raio votar ao lado da serpente que põe os ovos do fascismo e do racismo e do nazismo?

Que a situação oferece perigos, lá isso oferece. Mas que perigos esconde este deixar-se levar na onda, nesta onda cega e surda que se não detém perante nada? Ir para o matadouro em fila indiana e vermos os nossos companheiros, os nossos povos, as nossas nações a caírem individual e sucessivamente?

Anónimo disse...

Um fascista confesso- o jose- ao lado do Remain britânico.

Um racista confesso -o jose- ao lado do Remain britânico

Um colonialista confesso - o jose . ao lado do Remain britanico

Um nacionalista confesso - o jose - ao lado do Remain britânico

Um defensor dos votos à moda de Salazar- o jose - ao lado do Remain britânico

Não significa que muitos dos fascistas, colonialistas racistas, nacionalistas estão do lado do Remain. Mas ajuda a pintar o quadro

Anónimo disse...

"Tudo vai dar ao mesmo, bem pesadas as duas primeiras razões do Brexit".

É mesmo?

(Bem pesadas refere-se concretamente a quê? Ao peso de quem diz esta atoarda?)

No fundo, bem pesadas as coisas tudo vai dar ao mesmo.Todas as razões vão dar ao Brexit ou ao Remain.
Uma espécie de dois em um à boa maneira dos raciocínios pueris de quem prima pela desonestidade.

A prova?

Esta frase "Uma coisa se sabe pela experiência nacional: os compradores de votos sempre encontram na UE um pretexto para enganar o pagode!"
A que se refere este tipo? Que experiência nacional? Que votos comprados? Sabe o tipo da ocorrência de mercadejo de votos e agora vem dar com a língua nos dentes, em vez de ter denunciado a situação atempadamente? E qual o papel da UE? espectadora inocente do mercado de votos? E qual o papel de quem anuncia os votos comprados? O de intermediário? O de comprador de votos? Ou apenas se trata de atestar como virgem uma merectriz que manda de facto, independentemente dos votos? E servida pelos vende-pátrias que agora se escondem atrás dos supostos votos comprados?

R.B. NorTør disse...

Caro 2:26, infelizmente em lógica A->B não significa que B->A. É isso mesmo que o Nuno Serra desmonta no seu post. O facto de gente menos recomendável se rever no voto Leave/Remain não significa que quem vota Leave/Remain seja menos recomendável.

Anónimo disse...

La´ chegaremos senhores – o tempo e´ mestre - não se esqueçam disso!
Com a certeza que ainda não repararam que o sonho comanda a vida… ainda que o actor de cinema António Silva dissesse que sonhar e´ fácil.
O acontecido na GB deixou suspenso na atmosfera europeia um odor que nos devaneia, um cheirinho a Liberdade, ainda que ligeiro, mas Liberdade.
Por quê discutir se foi pobre se foi rico, se e´ novo ou velho…
Por vezes fazem lembrar um certo velhinho que dizia entristecido – “eu nasci na monarquia e a república desejei, se na monarquia mal estava, na república pior fiquei.”
Isto da GB só indica que as sociedades estão vivinhas da silva. De Adelino Silva

Anónimo disse...

Lê-se de novo o que Jorge Bateira escreveu. Isto a propósito dos calafrios que parece que o Jaime Santos lhe iria provocar.Lê-se e relê-se e não se percebe a alusão referida

O que diz Jorge Bateira sobre Corbin?
"O Labour está numa encruzilhada: ou Jeremy Corbin assume em definitivo os anseios das classes trabalhadoras, dos jovens precarizados e das regiões deprimidas, e ainda pode ganhar as eleições no Outono, ou o Labour expulsa Corbyn e iniciará um declínio inexorável. Aliás, o mesmo dilema espera os socialistas de outros países, com destaque para França, Espanha e Portugal."

Mais claro que isto é difícil. O labour foi destroçado ideologicamente desde que Blair tomou as suas rédeas: e os seus sucessores mais não fizeram que seguir esta política de traição.
Corbin ganhou as eleições contra todso os pragmáticos do partido trabalhista e contra toda a comunicação social. Corbin está sozinho no meio dos pragmaticos deputados do Labour.Sozinho entre os que se apoderaram do partido para manter o rumo neoliberal seguido pelo Labour desde a governação de Thatcher.

O que falhou nas contas é que o partido é o que as pessoas querem fazer dele. E os militantes estão a começar a rebelar-se contra os traidores institucionais. Corbin pode ganhar ou pode perder. E Corbin pode ter hipóteses se assumir os anseios das classes trabalhadoras. Porque as pessoas estão fartas destes neoliberais de pacotilha, enfeudados aos grandes interesses económicos. Tais hipóteses foram postas e bem por JB.
Não se percebem os calafrios.É ao Labour e aos seus militantes que cabe dar a respsota

E não se percebe a cegueira face à opinião pública cada vez mais desfavorável em relação à UE

Jaime Santos disse...

Os calafrios, caro anónimo das 13:59, vêm do facto de que o Euro-cético não-assumido Corbyn (e que pelos vistos não revela exatamente boa fé nem se submete à vontade da maioria, ver https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jun/26/corbyn-must-resign-inadequate-leader-betrayal, como é que era aquela de respeitar a democracia) é afinal líder de um Partido do qual a esmagadora maioria dos votantes (63%, pelos vistos) é pró-europeia. Se ele se assumir como o Jorge Bateira deseja (à Michael Foot, imagino), quem esfregará as mãos são os europeístas liberal-democratas, que já prometeram fazer campanha nas próximas eleições contra a saída (que tem que ser retificada no Parlamento). Como vê,tudo se explica...

Jaime Santos disse...

Caro anónimo das 22:55 de ontem, Se tivesse consultado a sondagem como eu e lido o que escrevi, veria que não deita nada por terra do que eu disse, se não fizer uma leitura truncada da dita sondagem e prestar atenção em particular às respostas àquela pergunta chata 'Do you think of each of the following as being a force for good, a force for ill or a mixed-blessing?'. Tal como alguns votantes do Remain que estão ainda em denial, os Esquerdistas pelo Leave ainda não aceitaram que deram uma linda vitória aos fascistas: https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jun/28/campaign-bigotry-racist-britain-leave-brexit. Quem deve estar secretamente a esfregar as mãos é o troll de serviço a este blog, pois claro... Com inimigos destes...

Jaime Santos disse...

Caro anónimo das 23:04 de ontem, Peço desculpa pela demora, mas é difícil distinguir as respostas aos meus comentários. Sou Anti-Brexit por duas razões. Primeiro, ainda acredito na união europeia e não vi ninguém defender uma alternativa coerente que permita desmantelá-la sem consequências desastrosas para os povos europeus, sobretudo para os mais fracos. Segundo, porque como expliquei, a vitória do Brexit foi a vitória da Extrema-Direita. O Governo será agora de Johnson e Gove e veremos como Farage se comporta em eleições quando o povo britânico perceber que os primeiros não vão cumprir nada do que prometeram. Eu tinha simpatia por Corbyn, até perceber que o carácter deste não se recomenda: https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jun/28/campaign-bigotry-racist-britain-leave-brexit. Se o que aqui se diz, e o Guardian não é tablóide nenhum, é verdade, Corbyn atuou de forma cínica e efetivamente ajudou os fascistas. Finalmente, e é a minha opinião (habitue-se que eu penso pela minha cabeça e não sou muito dado a ideologias), considero que o Nuno Serra fez cherry-picking ao ler a sondagem como leu, só foi buscar o que lhe interessava...

Anónimo disse...

Jaime Santos volta com a conversa fiada de Corbyn a que propósito?

Não gosta dele? Não o ama? Não gosta da sua posição face ao referendo?

Mas o que temos nós a ver com isso? O que temos nós a ver com o ressabiamento face a Corbyn? Já vincou a sua posição e insiste,insiste, repetindo opiniões apoiadas em factos distorcidos e aldrabados?

E ainda por cima dá como exemplo um comentário do Guardian, o jornal que tomou oficialmente partido contra Corbyn?´É ler o seu editorial. O Guardian não é tablóide? Mas desde quando um jornal procede assim?

E que raio é isso de julgar o comportamento moral de quem quer que seja?Como o pode fazer alguém que anda aqui às voltas a atentar identificar o voto no Brexit com a extrema-direita e o racismo?Que padrão moral é este? Que duplicidade moral é esta?

Anónimo disse...

Um padrão moral de quem tem a lata de dizer que Corbyn ajudou os fascistas. Mas o que vem a ser isto?
Não tem vergonha do que diz? Não tem pudor? Não cai em si para pensar pela sua própria cabeça em vez de se juntar aqueles que dizem só pensar pela sua própria cabeça mas que vomitam o ódio parido nos media fidelizados e pragmáticos?

Mas vamos lá a ver.Quem lhe deu a autorização moral para pensar que os demais não pensam pela sua própria cabeça?

Anónimo disse...

Mas ainda há mais.

Mais uma vez servindo-se como fonte de uma coisa chamada Guardian registem-se estas afirmações no mínimo espantosas:
"se submete à vontade da maioria, ver https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/jun/26/corbyn-must-resign-inadequate-leader-betrayal, como é que era aquela de respeitar a democracia) é afinal líder de um Partido do qual a esmagadora maioria dos votantes (63%, pelos vistos) é pró-europeia"

Mas desde quando um partido é chefiado de acordo com "sondagens" efectuadas aos votantes do partido?
Que raio de democracia é esta? Mas quem manda nos partidos? É o Guardian a funcionar como pasquim de serviço, o Jaime Santos, ou são os militantes dos partidos?
A maioria dos pragmáticos deputados do Labour estão contra Corbyn.Mas se a democracia funcionar, quem decide não são os adeptos da dança comum com os tories e com outra canalhada idêntica. Quem manda são os seus militantes.E são eles que decidem.Isto é apenas democracia.Essa de serem os outros a contornar este tipo de obstáculos surgiu com Bush, não foi?

Quem decide não sou eu, nem o Guardian, nem o Jaime Santos. Lembro-me do que disseram quando Corbyn se candidatou. Como o Guardian. Que não iria longe. Os tubarões do labour disseram que com ele, nunca alcançariam o poder.E todavia , ele aí está e ainda não é garantido que perca

Anónimo disse...

Cá para nós Corbyn devia ter apoiado sem rebuços o Brexit.Este ampliaria sua vantagem

Mas Corbyn fez o que fez. Agora que autoridade moral tem Cameron para dizer para aquele: Vá-se embora, homem”. Que autoridade tem Gordon Brown para dizer:"“Não me parece que ele vá continuar, ele sabe que tem de sair”. Gordon Brown pensa que o que o Labour precisa de decidir é se “é um partido de poder, com princípios que quer implementar na prática, ou um partido de oposição”

Como? Onde já ouvimos algo parecido com isto? Em Portas não foi?, a respeito dos partidos do arco da governação

Um parágrafo curioso do Público sobre esta questão:
"A divisão entre a bancada parlamentar e os militantes e apoiantes do Labour ficou exposta em todo o seu esplendor esta quarta-feira, com as deserções na Câmara dos Comuns a prosseguir em ritmo acelerado, e as manifestações de solidariedade com Jeremy Corbyn a engrossarem: além dos sindicatos, e de 45 das 50 das comissões políticas do partido que o nomearam em Setembro de 2015, ainda contou com o apoio do antigo mayor londrino Ken Livingstone e até do primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras." ( este último verdadeiramente escusado).

A democracia tem coisas levadas do arco da breca

Anónimo disse...

Quanto ao estado de negação perdoe-me o Jaime Santos mas quem parece estar nesse estado é mesmo o senhor. A sua interpretação do resultado do aqui exposto pelo Nuno Serra é , na minha modesta opinião, um exercício de trapézio. De facto, acho que vários comentadores o referiram, afunilar o voto no Brexit como Jaime Santos o faz é completamente posto em causa pelos dados deste post.

Mas muito mais importante do que isto é a persistência nesta ideia: "porque como expliquei, a vitória do Brexit foi a vitória da Extrema-Direita".

Ora vejamos. O senhor não explicou nada. Deu quanto muito a sua opinião pessoal, a sua, vá lá, "explicação" da sua opinião pessoal, privada, particular.E mais nada.

Porque essa opinião é contrariada por muitas outras opiniões. Porque essa história de identificar o voto no Brexit com a extrema-direita xenófoba não corresponde aos dados. Porque muita gente confirma que votou no Brexit sem ser pelos motivos ideologicamente enviesados do Jaime Santos. Porque é perigosa uma tal atitude, já que reduz o debate a uma farsa e oculta o profundo mal estar que varre a união europeia. Porque mete mais uma vez a cabeça na areia.Porque e isso tem que ser dito, favorece os movimentos fascistas e xenófobos.Porque a posição a favor da UE é, como alertou a tempo Gisela Stuart, o melhor “agente de recrutamento do UKIP na Grã-Bretanha". Porque quem está e esteve pelo Remain são as piores companhias possíveis, os donos do mundo , as agências de rating, o G7, o FMI e até a Nato. Porque a UE é um projecto falhado e conduzirá inexoravelmente os povos a consequências desastrosas.

Porque entre Farage e Blair, o primeiro é um xenófobo desprezível, Mas o segundo é bem pior do que isso.É, para além dum aliado objectivo da extrema-direita, um criminoso-de-guerra, um patife, um tipo que devia estar preso. E este esteve ao lado do Remain.

E agora é ler o tudo já dito, pelos diversos comentadores. Tenho amigos e familiares que votaram em ambos os lados da barricada. Reduzir o debate a essa caricatura e a esse "preconceito" como o faz, é um insulto à inteligência de quem votou em qualquer dos lados

Jose disse...

A importância dada ao Brexit decorre da necessidade da esquerda europeia de o associar a malefícios da UE.
Mal conseguem identificar alguns desses malefícios (embora se reconheça ser justíssimo o destaque dado à interferência de Bruxelas na dimensão da salsicha britânica), nem conseguem antecipar quais os benefícios que daí advirão para a GB.

Quanto aos votos, fiquem em paz, que o Brexit ninguém o quer travar. Só os britânicos o querem atrasar!!!

Anónimo disse...

A importância dada ao Brexit decorre da necessidade dada a ?

Eis a confirmação ponto por ponto do escrito por Correia Pinto:

" Têm-se dito que os “burocratas de Bruxelas” têm saído incólumes dos múltiplos calafrios por que a União Europeia tem passado. De acontecimentos graves que estão na iminência de acontecer mas que acabam por não se verificar. Este comportamento, se bem analisarmos o que agora se está a passar, não vale apenas para as angústias que antecederam o que acabou por não acontecer. Ele continuará a ser o mesmo, manter-se- á inalterável, mesmo quando o terramoto se desencadeia à vista de todos.

É isso o que está a acontecer com o resultado do referendo britânico. Entre as declarações raivosas dos que culpam os ingleses por tudo o que aconteceu e deixam pairar a ameaça de retaliação e a linguagem dúplice (como sempre) da diplomacia germânica dando falsamente a entender que é preciso respeitar e compreender o voto britânico, a linha que está subjacente a uns e a outros, e que acabará por impor-se se não for derrotada pela luta dos povos europeus, é a de que é preciso tratar a situação decorrente do voto britânico com toda a normalidade, como se nada de importante tivesse acontecido.

À direcção política da União Europeia, nomeadamente ao seu poder hegemónico, não lhe interessa aprofundar, nem sequer ao de leve, as causas do voto britânico. É preferível deixar essa tarefa à comunicação social de serviço que se encarregará de fazer passar a mensagem nos quatro cantos da Europa e do mundo que a decisão britânica assenta em pressupostos xenófobos, se não mesmo racistas, no bom estilo de uma eficiente divisão internacional do trabalho."...

Anónimo disse...

A dimensão da salsicha britânica será assim um pono de particular importância para o das 23 e 22.
Tem preocupações impotentes quanto ao voto dos do RU. Querm que se antecipem os benefícios o coitado.

"O que os britânicos querem ou não fazer com a democracia é um problema deles. Independentemente de estarmos de acordo ou não. Essa ideia de que temos de ser nós a dizer o que os outros devem fazer com a democracia é uma ideia relativamente recente, posta em prática por Georges Bush, em cumprimento da cartilha neoconservadora."

Ó das 23 e 22. Quando deixa essses tiques bushistas já visualizados na mocidade portuguesa que frequentava de mão alçada?