segunda-feira, 13 de abril de 2009

É o desastre da deflação...

Em Julho de 2008, quando o BCE, guiado por teorias monetárias bizarras (I e II), ainda andava preocupado com a inflação, já aqui se alertava para os enviesamentos deflacionários das suas políticas e para o desastre das suas escolhas. Agora podemos estar trancados num ciclo vicioso com semelhanças ao que Fisher, aqui lembrado, tinha diagnosticado nos anos trinta. Estamos mesmo em muito maus lençóis: a taxa de inflação homóloga atingiu menos 0,4% em Março. Não estamos sós.

O jornalista Vítor Costa do Público sintetiza bem alguns dos problemas: «[M]esmo os que conservam a sua capacidade de consumo tendem a adiar as suas compras uma vez que têm a expectativa de que os preços irão continuar a descer. Com a quebra do consumo, as empresas, ao não conseguirem vender, são levadas a reduzir a produção e a baixar ainda mais os preços na tentativa de escoar os seus produtos. Mas com menos necessidade de produção são levadas a não aumentar os salários dos seus funcionários ou mesmo a recorrerem a despedimentos. Sem aumentos salariais e com mais desemprego, a tendência é para que haja novos cortes no consumo, criando-se assim um ciclo vicioso de descida continuada dos preços e de abrandamento económico». O desemprego em larga escala segue dentro de momentos.

Que fazer? Ben Bernanke, como já aqui se assinalou, tem uma resposta monetária que já está muito para além do que é convencional: a moeda é uma criação do Estado e é preciso retirar todas as consequências deste facto simples. O controlo central directo dos mecanismos de crédito, associado a nacionalizações do sistema financeiro, também pode ajudar.

Só os poderes públicos podem superar a descoordenação mercantil que, no actual contexto, gera uma dissociação radical entre o que é racional do ponto de vista 'individual' e o que é racional do ponto de vista colectivo em todas as esferas da economia. Combinar por todo o lado aumento dos gastos públicos, nacionalizações dos bancos e capacidade de manter e forjar regras exigentes que diminuam a discricionariedade empresarial. Só um credor, comprador e investidor de última instância pode superar a incerteza radical e forjar novos pontos focais que estabilizem as expectativas dos agentes. Haja vontade porque há poder. Depois disto temos de garantir que as utopias liberais se tornam irrelevantes no campo das políticas públicas por muitos e bons anos. Já basta o que basta.

7 comentários:

Diogo disse...

A deflação é assim tão má, João Rodrigues? A descida generalizada dos preços não poderia servir para mudar o paradigma da economia-emprego?

Não poderíamos trabalhar apenas uma fracção do tempo e aumentar os salários?

Será que as máquina, em evolução tecnológica exponencial, não nos estão a substituir? Continuamos agarrados ao Keynes ao fim deste tempo todo?

Carlos disse...

"Que fazer? Ben Bernanke, como já aqui se assinalou, tem uma resposta monetária que já está muito para além do que é convencional: a moeda é uma criação do Estado e é preciso retirar todas as consequências deste facto simples. O controlo central directo dos mecanismos de crédito associado a nacionalizações do sistema financeiro, pode também ajudar."

O problema é que estes pseudo-economistas nem percebem o absurdo destas afirmações. As causa da crise derivam precisamente do facto do Estado e dos Bancos Centrais se terem apoderado da instituição a que chamamos dinheiro. O dinheiro é simplesmente a medida que a humanidade (e não a instituição "Estado") utiliza para atribuir valor aos recursos utilizados numa economia. Criar mais unidades desta medida não cria riqueza nem prosperidade, apenas a distribui, em beneficio dos que a ele têm acesso em 1º lugar (bancos e governos). A manipulação da quantidade de dinheiro e das taxas de juro é que planta as sementes para os ciclos de boom e bust.
Keynes é um mago que diz conseguir criar riqueza simplesmente se ligarmos a printing press.

Anónimo disse...

Macroeconomia, macroeconomia, macroeconomia...

Numa economia monetaaria, o equilibrio ee encontrado no mercado monetaario, e nao no mercado de trabalho ou capital...

Keynes, Modigliani e Tobin!!

Bravo Joao, boa posta!!

Macroeconomia!!!

Carlos, aconselho-o um paper chamado "Modern Money" to Randall Wray, vai aprender sobre esta coisa estranha que o dinheiro ee... fiat money ee muito mais antigo que commodity money...

Abracos
Joao Farinha

Carlos disse...

O problema é que quando os Bancos Centrais injectam dinheiro novo na economia ao toque de um botão, distorcem esse equilíbrio e fixam as taxas de juros artificialmente. Essa é a 1ª causa para os desequilíbrios que levaram a esta crise.

Se puder vou ler esse livro. Mas já agora digo-lhe também que leia Theory of Money and Credit de von Mises. Pode ser que fique com outra perpectiva do dinheiro fiat, e talvez perceba que a deflação não é o monstro que os economistas liberais e keynesianos dizem ser. A deflação é perigosa no sistema monetário que temos hoje em dia em que o dinheiro é criado a partir de divida e não é suportado por nada. Talvez seja básico de mais para si mas aconselho também a ver o Crash Couse @ www.chrismartenson.com
em que o autor explica de forma bem simples os problemas deste sistema monetário que temos.

Luís disse...

Eu já percebi qual este escândalo à volta da deflação... é que os economistas conseguem todos papaguearem-se uns aos outros.. digamos...de um César das Neves a um João Rodrigues, passando por um infalível João Duque ou João Loureiro. Pontes que a humanidade tece; neste caso pronto, a moeda! (e Marx dá uma volta na tumba); (keynes tb dá mas para ele estão sempre com paninhos quentes...)!

Tenho cá uma desconfiança que isto inda vai levar à abertura de novos cursos de mestrado e quejandos! Mestrado em Inflação e Deflação. Um campo emergente do saber. ABERTURA PROXMO ANO FISCAL!

Como Bernanke sabe... o careca da FED tem uma teoria! E tão à espera que os tugas, o pessoal que fez a Guerra, o pessoal do 5.º Império engula uma teoria desse género?
"A moeda é uma criação do Estado" pega lá! E o Estado pode fazer o que quiser; pois o Estado que vá para o caralh* que quem não quer os seu dinheiro sou eu!! As únicas conclusões a tirar são: se imprimes a mais, ou seja, se circula mais dinheiro, tb tem de circular num dada proporção certa quantidade de mercadorias! Não me venham com balelas!

Dás um crédito; e a mercadoria? Ah, isso logo se vÊ; mais um ford escort; mais um pixeis na câmara digital; mais uns trocos que o pessoal da investigação fundamental tb precisa de comer! Há uns tempos, alguém comparava a economia americana a um donut; pois o donut continua a ser roído por dentro; podes por lá as notas para tapar um enorme buraco. Rezem para que ninguém lhe ponha a mão; que esse é q seria o desastre total; hiperinflação!

Mas tá-me a cheirar, que nem essa se dá; ninguém vai pegar nessa guita, porque ela arde mesmo, vai ser a gestão pura e simples da crise; da valorização; quando as bancarrotas estatais sobrevierem logo se vê; pedimos perdão; benzemo-nos e olha, sempre conseguimos manter o edificado: 100.000 casas devolutas; auto-estrada para o Algarve; um novo aeroporto; e mais umas migalhas para o povo...

Carlos disse...

finalmente alguém que parece saber o que diz

Luís disse...

Aproveitando da deixa de aprovação.

É evidente que um mecanismo descordenado de mercado pode não fornecer a melhor via de resolução da falência sistémica com que nos deparamos. Mas isso não quer dizer que a socialização do crédito ou quejandos vão eliminar a incerteza radical coisa nenhuma!

O grande défice de uma economia como a portuguesa não são prima face os financeiros; pq esses foram isso sim gerados pela dependência que o exterior nos impôs (última das quais via mercados financeiros em sentido lato, adesão à moeda única com câmbio valorizado, modernização e endividamento do sistema bancário)!

Mas tal evolução contituiu a "fuga em frente" de uma economia que era débil estruturalmente e apresentava baixos níveis de produtividade geral dos factores! Estes problemas não foram resolvidos. Estes problemas são em última instância aqueles da produção, da distribuição e do consumo; à maneira Clássica, também, isso sim! A circulação monetária; a endogeneidade da moeda ao sistema que parece q Keynes assume no seu Tratado sobre a Moeda é por assim dizer o derivado (o sub-produto) desse movimento real das mercadorias...

A crise fiananceira inverteu a lógica que até pouco tempo bramia a pés juntos. Mas os reflexos dessas acçõe só se verão a prazo; na insustentabilidade das finanças estatais e numa elevação dos ´níveis de inflação.

A cena é que "o dinheiro agora criado" ainda não serviu para criar um real poder de compra; está apenas a circular na esfera financeira! agora sim, temos a financeirização pura; desconectada da economia real que se vai desfazendo em pedaços. Bernanke inverteu o problema! Não é a moeda que nos vai salvar: é o movimento meus senhores; agora resta agora saber qual o das mercadorias ou o do Bloco?

Cumprimentos