sexta-feira, 11 de julho de 2008

Do cherne ao BCE: o desastre europeu

Através do Beat the Press do norte-americano Dean Baker, um dos melhores blogues de economia que eu conheço, fiquei a saber que, em Bruxelas, o cherne lamentou o dólar fraco, que prejudica, e muito, a competitividade das exportações europeias, ao mesmo tempo que manifestou o seu apoio à irresponsável subida das taxas de juro efectuada pelo BCE. Acentua-se assim o diferencial das taxas de juro dos dois Atlântico. É evidente que isto só vai contribuir para a fraqueza, até agora bem controlada, do dólar. Os norte-americanos agradecem que seja a Europa a suportar os fardos da correcção dos seus desequilíbrios externos. Dean Baker expõe certeiramente a lógica que subjaz à decisão do BCE: a subida das taxas de juro «combate a inflação diminuindo o crescimento nas economias europeias, aumentando o número de desempregados e reduzindo o poder reivindicativo dos trabalhadores». Já sabemos quem anda a pagar os custos do enviesamento deflacionário da política monetária do BCE. Depois ainda há quem tenha a lata de dizer que os problemas de desemprego na Europa se devem à «rigidez do mercado de trabalho». Como se defende neste excelente relatório, o BCE devia ter descido as suas taxas de juro em meio ponto percentual. Uma taxa de inflação moderada, e cujo agravamento é, em larga medida, importado, representa uma brincadeira de crianças ao pé dos riscos de um período prolongado de estagnação ou de recessão. A crise financeira parece estar longe de ter terminado. A especulação que a gerou combate-se com mais regulação, taxação e controlo de capitais. Sobre isto o BCE nada tem a dizer. O fundamentalismo de mercado em todo o seu esplendor. Até quando?

5 comentários:

Filipe Melo Sousa disse...

Não existe enviesamento deflacionário algum. A subida das taxas pretende criar desinflação (baixa da inflação), e não deflação (inflação negativa).

A deflação só é possível com dinheiro verdadeiro, coisa que já não existe desde o fim do padrão ouro. Admira-me que este blog que se quer tão erudito e pseudo-intelectual mante estas bojardas.

Planetas - Bruno disse...

Pois é a subida da taxa de juros é apresentada como a única e lógica solução para enfrentar a Crise.
Não podemos esquecer que os vizinhos Americanos, muito menos Ortodoxos que nós Europeus, implementam as medidas que forem necessárias para reanimar a Economia, sem meias tintas nem conservadorismo de meia tigela.

Para os cépticos de que o BCE poderia fazer diferente e melhor, aguardem pelos índices económicos dos USA nos próximos tempos...

João Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
João Rodrigues disse...

Não existe porque o Filipe assim o diz? É evidente que o objectivo declarado do BCE é o que descreve: reduzir a inflação. No entanto, e para além dos objectivos formais, existe uma discussão sobre se o “alvo” para a inflação (abaixo de 2%) que o BCE tem não implica uma política de tal forma agressiva que os riscos de deflação aumentam, ou seja, o BCE pode com a sua politica, criar, na boa lógica das consequências não intencionais, essa situação. Enviesamento deflacionário quer sinalizar isso. O crescimento e a criação de emprego sacrificados no altar do fundamentalismo de mercado. Tal como no Japão. Anos noventa. Muito depois do fim do padrão ouro, felizmente confinado aos livros de história ou aos contos anarco-capitalistas. Depois do rebentamento de uma bolha no imobiliário. Seguida de uma política monetária errada. Antes da bolha tivemos a liberalização. Ele há coincidências...

Filipe Melo Sousa disse...

não há coincidências. primeiro mantêm os juros abaixo da inflação. depois aumentam para 5,5%. e admiram-se da insolvência dos particulares. que coincidência...

realmente, o que urge é dar ainda mais poderes reguladores aos bancos centrais para poderem "remediar" os disparates que fazem