Durante demasiado tempo, mostrando o provincianismo e o preconceito que ainda marcam o debate das ideias em Portugal, muitos foram os que consideraram que a expressão neoliberalismo não passaria de um slogan sem qualquer dignidade intelectual, usado apenas pela "extrema-esquerda" para efeitos de propaganda. No entanto, um olhar de relance por alguma literatura académica, sobretudo anglo-saxónica, nas áreas da economia política, da sociologia, dos estudos de desenvolvimento ou da história das ideias facilmente revela que este termo é há muito usado de forma rigorosa e bem fundamentada. Para além da ênfase nos processos de privatização, de liberalização financeira e comercial ou de desregulamentação das relações laborais, uma das dimensões que tem sido recentemente sublinhada nos estudos sobre o neoliberalismo, como conjunto de ideias que inspiram as políticas públicas, é a sua aposta numa profunda reconfiguração do Estado e das suas funções. O resto pode ser lido no meu artigo mensal no Jornal de Negócios.
Nota: já sei que os neoliberais vão dizer que não, que o que eles realmente querem é reduzir o «monstro». Se calhar até são capazes de invocar o nome dos santos da casa. F. A. Hayek pode vir à baila. Desculpem a obsessão, mas não é em vão que se está investigar este economista político neoliberal (ele até usa a expressão algumas vezes...). Pois bem, foi Hayek que afirmou: «é o carácter e não o volume da actividade governamental que é importante» visto que «uma economia de mercado funcional pressupõe certas actividades por parte do Estado» (Constituição da Liberdade, 1960, p. 194). Quais? Onde é que se traça a linha? As que forem necessárias, onde for preciso, para servir os interesses das elites e acabar com todos os «atavismos» socialistas. Desde Pinochet até Bush, passando por Thatcher ou por Reagan, que é, na prática, assim. Muita, digamos, flexibilidade. De resto, acho que há muito menos diferenças entre as teorias e as práticas do que se diz.
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2 comentários:
Boa tarde,
Sou professor de Economia Política no Ensino Superior e gostei bastante do seu artigo.
Considero que, infelizmentte, o termo "Neoliberalismo" continua a ser usado de forma demasiado ligeira, como arma de arremesso político-partidário. Isso retira de facto alguma margem de manobra aos argumentos dos que (seriamente) pretendem fazer uma análise crítica do Neoliberalismo actual.
Para mim, Neoliberalismo é no essencial uma tentativa de revitalização das ideologias liberais mais conservadoras (muito desqualificadoras do papel do Estado na Economia), cuja aplicação cega foi responsável por episódios tristes da História europeia, entre os quais a Crise de 1929.
Parei neste "apeadeiro" vindo directamente do "Jornal de Negócios". Em boa hora o fiz!...
O "Sud Express" passará a ter mais uma estação.
Alvarez
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