A hipótese de que se parte neste livro é a seguinte: nos capitalismos contemporâneos alteraram-se significativamente os equilíbrios que conhecemos noutras épocas entre público e privado, entre interesse comum e interesses individuais, e produziu-se um desequilíbrio a favor de poderes de mercado e de esferas particulares desses poderes, mas isso não quer dizer que tudo assente no mercado e muito menos no poder individual de cada um que nele participe. Pelo contrário, formaram-se novos poderes, que se tornaram dominantes, e a sociedade carece de um nível de concertação capaz de lhes contrapor o interesse comum, a sustentabilidade da vida coletiva e objetivos estratégicos de organização que estão para lá de cada esfera; nisto consiste o exercício do que deve ser designado planeamento.
Licínia Simão, José Reis e eu estaremos a apresentar e a debater este livro na próxima quinta-feira, dia 21 de novembro, às 17h, na sala Keynes (ora bem) da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Aparecei.
Pela minha parte falarei do capítulo que para aí escrevi sobre a história da economia política internacional em torno do planeamento no capitalismo. Deixo aqui os dois primeiros parágrafos, com referências omitidas:
Num livro já clássico sobre o “capitalismo moderno”, o britânico Andrew Shonfield argumentou que “o planeamento económico é a expressão mais característica do novo capitalismo”. Pelo mesmo diapasão alinhava Max Milikan, também nos anos 1960, num volume sobre “planeamento económico nacional”, da Índia à França, editado pelo influente National Bureau of Economic Research (NBER) dos Estados Unidos da América (EUA). Falando de uma “moda entre os economistas”, constatava então que um volume destes seria “inconcebível há trinta e cinco anos, há vinte e cinco anos seria sobre a União Soviética, há dez sobre o planeamento em países em vias de desenvolvimento e nos últimos dez sobre qualquer economia nacional”.
O passado é feito de formas de economia política – de ideias e interesses cristalizados em instituições – distantes. Passadas cerca de quatro décadas de “desplaneamento”, há quem diagnostique atualmente “o grande regresso do planeamento”, dadas as lições extraídas da pandemia, a tendência para a desglobalização, os choques geopolíticos ou a crise ecológica e climática. A necessidade não garante, por si só, o regresso. Seja como for, neste contexto, pode ser útil revisitar brevemente algumas das práticas e das justificações subjacentes ao planeamento, muitas vezes dito indicativo, no quadro de uma “economia concertada”, sublinhando o contexto internacional que o favoreceu, mas também, ainda que de forma mais breve, as razões internacionais para a sua crise a partir dos anos 1980.
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