domingo, 3 de maio de 2020

O dilema


A ministra da Saúde não podia ter sido mais clara, isenta e consistente. Questionada na SIC sobre «porque é que em Fátima, que é um espaço muito maior que a Alameda, em Lisboa, não se podem aplicar estas regras das filas bem separadas e as pessoas afastadas umas das outras», Marta Temido respondeu: «É possível aplicar essas regras (...), se essa for a opção de quem organiza as celebrações, de organizar uma celebração do 13 de maio onde possam estar várias pessoas, desde que sejam respeitadas as regras sanitárias. (...) Agora, cada organizador tem que fazer um juízo de valor sobre aquilo que entende que são os riscos que vai correr. (...) O estado de emergência, o estado de calamidade não é uma emergência totalitária».

Aparentemente, a Igreja Católica, que já tinha decidido não manter a peregrinação de 13 de maio, ficou surpreendida com estas declarações, estando agora a «reunir todos os elementos para tomar uma posição» sobre as celebrações de 12 e 13 de maio em Fátima. Como a decisão está evidentemente nas suas mãos (tal como o a decisão do 1º de maio esteve nas mãos da CGTP), coloca-se um dilema: mantendo a sua posição inicial, corre o risco de defraudar a expetativa de muitos crentes (que se apercebem agora que não é o Governo a impedir, sob determinadas condições, a realização do 13 de maio); revertendo a sua posição inicial, esvazia de sentido as críticas de discricionariedade e de imprudência e irresponsabilidade que têm sido feitas, mesmo no seu seio, à celebração do 1º de Maio na Alameda.

Adenda: A forma como Rodrigo Guedes de Carvalho conduziu a parte inicial da entrevista a Marta Temido converte-a num recurso interessante de «pedagogia pela negativa» para cursos de jornalismo e comunicação social. Não pelas questões colocadas, de indiscutível pertinência e acuidade, mas sim pelo tom agressivo e inaceitavelmente acintoso com que se dirigiu à entrevistada.

17 comentários:

Jose disse...

« o estado de calamidade não é uma emergência totalitária» mas a cultura totalitária tem a melhor possibilidade de adaptação.

Rui Chaves disse...

exactamente, é isso!

Jaime Santos disse...

Independentemente de as comemorações do 1 de Maio ou as celebrações do 13 de Maio poderem ser feitas em segurança, a realização das primeiras e a eventual realização das segundas configura ou configurará um péssimo exemplo numa altura em que o Governo recomenda e bem o isolamento social.

Ou acham que outros não reclamarão igualmente o direito de encherem as igrejas ou as praças? Esquecem-se de que na Coreia do Sul o surto começou justamente numa Igreja Protestante Carismática...

A Igreja Católica tem até agora sido um exemplo cívico de aderência às regras, perante as insistências de certos prelados mais tradicionalistas ou fundamentalistas. Como se viu anteontem, o PCP e a CGTP optaram por seguir o mau exemplo dos jarretas... Os extremos por vezes de facto tocam-se...

João Pimentel Ferreira disse...

Todos já sabemos que apenas as religiões do regime estão consagradas pelo direito constitucional da liberdade religiosa. Em qualquer caso, que não se preocupem os peregrinos, que os pastorinhos lá do céu vão protegê-los do "bicho", para citar o arcanjo vermelho Jerónimo de Sousa. E já agora, dra. Temido, se uma celebração é menos gravosa que uma peregrinação, será que se os peregrinos forem a cantar o Avante de bandeira em riste o bicho pega menos?

Anónimo disse...

Excelente esta posta.

Até na forma como no final desmascara Rodrigo Guedes de Carvalho e o seu trabalho "jornalístico" acintoso e boçal. Estávamos todos espantados pela forma como este conduzia a entrevista

Ricardo Paes Mamede tem toda a razão quando diz que RGC não foi bonito. Mas permitiu à Ministra da Saúde revelar-se no que tem de melhor nas actuais circunstâncias.

Anónimo disse...

Mais uma vez não merecem qualquer crédito os jogos florais "linguísticos" de um tal Jose

Os"discursos de Salazar" têm também, para além de tudo o mais, o demérito de se exprimirem numa linguagem seminarista, bolorenta e hipócrita.

Jose devia ter tido um melhor ensino

PauloRodrigues disse...

Veremos então se o xicão e o rui das corridas vão ter que engolir o que disseram sobre as comemorações do 25/abril e 1/maio.

Anónimo disse...

Há algo de deliciosamente revelador na forma com se agitam certos seres

Anónimo disse...

Porque será que o Sr Jaime Santos vem , mais papista que o papa, dizer que o sucedido no 1º de Maio configura um péssimo exemplo?

Porque será que o Sr Jaime Santos vem dizer se achamos que outros não reclamarão igualmente o direito de encherem as igrejas ou as praças?

Porque será que Jaime Santos nunca consegue dizer nada sem descer para a demagogia barata ao vir falar neste modo do que se passou na Coreia do Sul onde o surto começou justamente numa Igreja Protestante Carismática?

Porque será que Jaime Santos vem dizer que os extremos se tocam,repetindo uma ladainha que é o seu toque de "classe"?

Não interessa vir para aqui etiquetar outros e saber se o Sr Jaime Santos é ou não jarreta ( um pouco de nível nestas pretensas elites não fazia mal a ninguém, mas adiante)

Mas interessa desmascarar estas amizades e insinuações do sr Jaime Santos

Anónimo disse...

"-as celebrações do 1º de Maio estavam expressamente referidas como excepção no decreto (que Rui Rio aprovou) do estado de emergência o que protege explicitamente as deslocações inter-concelhos que a iniciativa englobou ;
- as iniciativas da CGTP foram acertadas ao pormenor com as autoridades de saúde e ninguém consegue invocar a mais pequena violação das regras de protecção e segurança recomendadas;
- os autocarros transportaram apenas 16 pessoas cada um com distribuição de gel desinfectante;
- como as imagens documentam, as filas de activistas (com máscaras) estavam distanciadas 5 metros e dentro de cada fila a distância era de 3 metros;
- os críticos da CGTP que a este respeito falaram da «ordem» para estar em casa (JMT proclama mesmo absurdamente que «todos os portugueses necessitam de permanecer em estrito confinamento doméstico» ) esquecem-se de que todos os dias centenas de milhares de trabalhadores saem de casa para ir trabalhar e muitas vezes em transportes públicos onde não há 3 metros de distância"

(Vitor Dias)

O Sr Jaime Santos vem tentar fazer chicana política.

E ninguém encheu nem praças nem igrejas. Repetindo o que Nuno Serra transcreve do que Marta Temido disse: «É possível aplicar essas regras (...), se essa for a opção de quem organiza as celebrações, de organizar uma celebração do 13 de maio onde possam estar várias pessoas, desde que sejam respeitadas as regras sanitárias. (...) Agora, cada organizador tem que fazer um juízo de valor sobre aquilo que entende que são os riscos que vai correr. (...) O estado de emergência, o estado de calamidade não é uma emergência totalitária»."

Jaime Santos não se envergonha um pouco destas suas figurinhas?

Anónimo disse...

Fala o Sr Jaime Santos na Coreia do Sul, onde o surto "começou justamente numa Igreja Protestante Carismática..."

Qual a necessidade do Sr Jaime Santos tentar atirar-nos poeira para os olhos ao agir assim?

Tentar comparar a igreja Shincheonji com a igreja católica em Portugal é no mínimo demagogia barata

A Shincheonji, ou, Igreja de Jesus, o Templo do Tabernáculo do Testemunho ( definida carinhosamente como "igreja protestante carismática" por Jaime Santos) é uma de muitas seitas que existem no país maioritariamente não-religioso, mas onde o cristianismo permanece a religião mais praticada, seguida do budismo.

A Shincheonji obriga os seus membros a comparecerem nos serviços mesmo quando estão doentes. As orações são feitas com os membros muito próximos uns dos outros, e são proibidos de usar máscara no templo, por se considerar que isso ofende a Deus.

Acima de tudo, a igreja encoraja os seguidores a ocultarem a sua condição de membros, em parte para facilitar as práticas de proselitismo subrreptício que têm feito com que seja vista como uma das seitas cristãs mais agressivas no país, e mesmo fora da Coreia do Sul

Quando o caso da doente da seita foi noticiado e começaram as críticas, a igreja instruiu os fiéis para desobedecerem às ordens do governo e esconderem que eram membros. Numa mensagem que escreveu numa aplicação interna da igreja, Lee Man-hee dizia: "Este caso de doença é visto como a obra do demónio para parar o rápido crescimento da Shincheonji. Tal como as provas que Job atravessou, é para destruir o nosso avanço".

O Sr Jaime Santos quer que nós esqueçamos o que é esta seita cristã para assim poder fazer uso de comparações francamente néscias

Anónimo disse...

Estranho esta visao TACANHA, dos comentadores apoiantes do PCP.

Se a A. R. aprovou as comemoracoes do 1 Maio, tambem estava em vigor a norma, que impedia qualquer cidadao, de se deslocar de um concelho para outro, com poucas excepcoes, manifs nao estavam incluidas.

Trazer pessoas do distrito de Setubal, e de todo o distrito de Lisboa, para a cidade, foi um erro tremendo, digam o que disserem, inventem as desculpas que quiserem.

Anónimo disse...

Linguagem medíocre esta do PauloRodrigues

"Xicão",o termo carinhoso em uso pelos amigos do líder do PP?

"Rui das corridas", a designação jocosa utilizada pelos passistas no Observador?

Continuamos no mesmo registo indigente

Anónimo disse...

É inútil este choradinho idiota do pimentel ferreira em torno das comemorações do Primeiro de Maio.

Tão idiota como o facto da ignorância do dito cujo ser acompanhada pela pesporrência do cujo dito.

- As celebrações do 1º de Maio estavam expressamente referidas como excepção no decreto (que Rui Rio aprovou) do estado de emergência, o que protege explicitamente as deslocações inter-concelhos que a iniciativa englobou

Não houve quaisquer manifestações. A CGTP-IN manifestou publicamente que não iria realizar manifestações nem desfiles.

O que esperar assim do pimentel ferreira que descabelado exige que a realidade caiba na realidade da parafernália histérica dum ressabiado publicitário do neoliberalismo caceteiro?

Travestido de anónimo,pimentel ferreira está perturbado.

Serão as citações desajeitadas, o bastardo ou a raiva pelo facto de Marta Temido ter desmontado o argumentário dum coitado que fede a ódio ao SNS?

A.R.A disse...

Não houve um beijo à cruz no 1o de Maio e isso deixou muita gente desiludida, a julgar pelos comentadeiros de serviço.
O vírus trás ao cimo o melhor é o pior da nossa condição humana e o melhor exemplo é o que concordamos e aprovamos a 17/04 e o que apelidamos de vergonha e de um Estado sem respeito a 01/05.
Se calhar estavam mesmo a pensar que iria a haver lugar a cerimónia do beijo à cruz ... e com isso lá se despachavam uns quantos comunas.
Pois, isto do trabalhador celebrar o seu dia deverá ser só para quem efectivamente trabalha portanto compreendo o estranheza de tal data para quem só manda trabalhar.
Contudo, mais se informa que não houve, efectivamente, lugar ao beijo à cruz na Alameda.

Anónimo disse...

A CGTP comemorou o 1º de Maio e fez muito bem, nada a dizer, cumpriu as regras da DGS. Para isso, encheu a alameda de sindicalistas disciplinados e entusiastas de qualquer forma.
A Igreja, poderia fazer o mesmo, embora num recinto muito maior teria de recorrer a um numero muito grande de Padres, disciplinados, e claro por certo entusiasmados. Fez bem a Igreja, já que as cerimonias de Fatima são uma manifestação popular, em não comemorar.
Só aqueles que estão contra o 25 de Abril, fizeram questão de o comemorar, e não houve grande mal nisso. É uma comemoração de um 25 de Abril que não aconteceu, felizmente para os Portugueses.
O verdadeiro 25 de Abril está aí no nosso dia a dia, alegrias e tristezas, avanços e recuos, numa situação de crise sanitária, não é nenhum drama não o comemorarmos, para o ano haverá mais, e para o ano...

Anónimo disse...

Isto é o que se chama de tretas para ver se passa:

"Só aqueles que estão contra o 25 de Abril, fizeram questão de o comemorar, e não houve grande mal nisso. É uma comemoração de um 25 de Abril que não aconteceu, felizmente para os Portugueses.
O verdadeiro 25 de Abril está aí no nosso dia a dia, alegrias e tristezas, avanços e recuos, numa situação de crise sanitária, não é nenhum drama não o comemorarmos, para o ano haverá mais, e para o ano..."

Só aqueles que estão contra o 25 de Abril, fizeram questão de não o comemorar,etc etc etc

Este tipo pensa que somos todos parvos.

Lá na Holanda trabalhará para uma das cotadas?