domingo, 2 de fevereiro de 2014

Más lecturas

A tradução para castelhano do livro de Costas Lapavitsas, Eugénia Pires, Nuno Teles (relembro o seu artigo de Março de 2010 no Público), entre outros economistas, merece ser assinalada, até porque pode reflectir um aumento da procura do outro lado da fronteira por alternativas que não fiquem circunscritas ao que cada vez mais me soa como o equivalente político dos pedidos de paz no mundo realizados nos concursos de beleza. Como dizia o outro, vocês sabem do que eu estou a falar. De resto, economistas como Martín Seco, cujo livro já aqui recenseei, ou como Montero Soler, que tem um bom artigo de economia política sobre a saída do euro como condição necessária, ainda que obviamente não suficiente, para uma alternativa de esquerda, têm ajudado do lado da oferta. O próprio Vicenç Navarro, provavelmente um dos mais influentes à esquerda, está agora muito mais aberto a considerar a questão da recuperação da soberania monetária. Vamos assumir que a prazo não há nada como “o gradual entranhamento das ideias”, de que falava Keynes. Só espero que isto não seja no longo prazo, porque aí estamos mesmo mais do que derrotados...

7 comentários:

Anónimo disse...

E,esta leitura???? http://www.eutimes.net/2014/02/15-february-catastrophe-warned-will-shake-entire-world/

Jose disse...

«Contudo, para evitar a armadilha da autarcia, exigir-se-ia uma difícil manutenção do acesso ao comércio internacional, tecnologia e investimento.»

Contudo?
Como assim se não condiz com nada do que possa razoavelmente esperar-se vir a acontecer numa economia dependente em extremo?

Alexandre de Castro disse...

Eu julgo que a "guerra" começa a ficar perdida, já que os agentes e os seus acólitos do capitalismo financeiro internacional, sediado nos bancos, conseguiram desenvolver uma estratégia de ocultação das suas próprias culpas na ocorrência da crise iniciada em 2008, o que foi fácil, pois os aparelhos políticos dos países ocidentais (os partidos conservadores e os partidos da social democracia) já se encontravam devidamente domesticados para lhe dar a respetiva sequência, através da aplicação das políticas de austeridade sobre as classes médias e as classes trabalhadoras (resguardando, da sua incidência, os rendimentos do capital).
Apanhados ideologicamente desprevenidos, os cidadãos, que mais penalizados foram por essas políticas austeritárias, não tiveram tempo de perceber o que estava em causa. E a principal causa reside na financeirização acelerada e extrema da economia real, nos últimos trinta anos, possibilitada pela globalização desenfreada e pela deslocalização dos meios de produção para os países de mão de obra barata, processo este que permitiu aumentar a liquidez dos grandes bancos e dar início, em grande escala, por uma questão de rentabilidade, ao engenhoso esquema da especulação financeira e imobiliária e à sibilina imposição da dívida aos Estados e às famílias. É necessário que o cidadão comum perceba que os bancos necessitam de uma economia assente na dívida para sobreviverem e aumentarem os seus lucros e mais-valias. Conquistado este patamar, o seu poder sobre a política dos Estados e sobre os comportamentos dos cidadãos tende a consolidar-se. É o que está a acontecer.
Para Portugal e para os outros países do sul da Europa, um outro problema se agiganta: a moeda única, que foi a grande ratoeira armada pelo capitalismo europeu e pela sua maior potência, a Alemanha, aos países menos desenvolvidos. Poucos perceberam que a perda do poder cambial e monetário seria um perfeito suicídio, que deixava o Estado manietado para poder gerir o seu próprio quadro macro económico. E até a este nível, o capitalismo financeiro encontrou fiéis aliados na classe média, pois, todos aqueles cidadãos, mesmo os de esquerda, que possuem depósitos bancários acima de cinquenta mil euros, rejeitam a hipótese da saída do euro, que é uma condição estruturante para poder ultrapassar a crise do país.
A outra condição (e ninguém fala nisto), é a nacionalização dos bancos, o verdadeiro instrumento de poder do capitalismo financeiro. Na perspetiva de uma economia orientada para o bem comum, nenhum argumento invalida as vantagens de ser o Estado a gerir a atividade do crédito às empresas e às famílias.
Mas estes dois desideratos (a saída do euro e a nacionalização da banca) não poderão ser conseguidos no atual modelo político de ditaduras democráticas (ou de democracias travestidas). Só um amplo e generalizado processo revolucionário, que mude o paradigma, tal como a burguesa Revolução Francesa mudou o paradigma feudal, conseguirá restituir aos povos a liberdade e o desenvolvimento de economias, baseadas na produção de bens e de serviços, para satisfazer as suas necessidades.

Alexandre de Castro disse...

No meu anterior comentário, na parte final do último parágrafo, deve ler-se:
"... bem como o desenvolvimento de economias saudáveis, baseadas na produção de bens e de serviços, que visem satisfazer as necessidades das populações".

Jose disse...

Quem nada mais sabe que fazer, nacionaliza a banca e vai dormir sossegado!
O poder da finança resulta de uma permanente pressão para antecipar consumos que leva os Estados a prescindirem da regulação dando à banca um ilimitado poder de criar moeda.

Carlos disse...

e para quando uma traduçãozita para português???

Alexandre de Castro disse...

O grande problema é tropeçarmos naqueles que, sentados num cómodo sofá, julgam estar a descobrir a pólvora.