domingo, 2 de setembro de 2012

Impasse social

No início do ano, o governo reduziu os descontos do passe escolar de 50 para 25%. Agora, ao decidir extinguir os passes «4-18» e «sub-23», confina estes apoios a alunos beneficiários de acção social escolar (nos ensinos básico, secundário e superior) até um limite de 60% de desconto.

Com estes cortes, o Estado reduz para metade o montante de apoios, concedidos neste âmbito através dos municípios e empresas de transporte (a título de indemnizações compensatórias). Dos 51,1 milhões de euros despendidos em 2011, cerca de 24 milhões passam portanto a ser assumidos pelas famílias, já de si sobrecarregadas com o aumento vertiginoso das tarifas (15% em 2011 e mais 5% em Fevereiro passado). Mas não teve problema nenhum, no início do ano, em brindar as instituições de ensino privado com um bónus inesperado de 12 milhões de euros, a somar aos 253,7 milhões cabimentados no Orçamento de Estado.

Para além da clara transferência de recursos dos sistemas públicos para os interesses privados em educação, esta medida acentua a concepção incompetente e medíocre sobre o papel transversal e os impactos em cascata que uma errada política de transportes comporta. Nesse sentido, aliás, não deixem de ler este post certeiro do Sérgio Lavos.

3 comentários:

Diogo disse...

Ouve-se muitas vezes dizer que "a violência gera violência", que "a violência nunca consegue nada", ou que "se se usar a violência para nos defendermos daqueles que nos agridem, ficamos ao nível deles". Todas estas afirmações baseiam-se na noção errada de que toda a violência é igual. A violência pode funcionar tanto para subjugar como para libertar:


- Um pai que pegue num taco para dispersar à paulada um grupo de rufias que está a espancar o seu filho, está a utilizar a violência de uma forma justa;

- Uma mulher que crave uma lima de unhas na barriga de um energúmeno que a está a tentar violar, está a utilizar a violência de uma forma justa;

- Um homem que abate a tiro um assassino que lhe entrou em casa e lhe degolou a mulher, está a utilizar a violência de uma forma justa;

- Um polícia que dispara contra um homicida prestes a abater um pacato cidadão, está a utilizar a violência de uma forma justa;

- Os habitantes de um bairro nova-iorquino que se juntam para aniquilar um bando mafioso (que nunca é apanhado porque tem no bolso os políticos, os juízes e os polícias locais), estão a utilizar a violência de uma forma justa;

- Um povo que usa a força das armas contra a Máfia do Dinheiro, coadjuvada por políticos corruptos, legisladores venais e comentadores a soldo, cujos roubos financeiros descomunais destroem famílias, empresas e o país inteiro, esse povo está a utilizar a violência de uma forma justa.


Num país em que os políticos, legisladores e comentadores mediáticos estão na sua esmagadora maioria a soldo do Grande Dinheiro, só existe uma solução para resolver a «Crise»... Somos 10 milhões contra algumas centenas de sanguessugas...

Anónimo disse...

A propaganda resulta sempre: até os Ladrões de Bicicletas acreditam que os transportes públicos aumentaram apenas 5% no ano passado.

Primeiro, os passes (todos eles) aumentaram bastante mais do que isso — e ninguém que tenha de usar os transportes públicos diariamente usa outro bilhete que não o passe.

Depois, a fusão de passes, se pode ter o seu interesse intermodal, implicou ou implicará um aumento superior a 100% para quem usava apenas o Metro (ou apenas a Carris).

Tinha de haver aqui uma ponderação qualquer, mas 5% não corresponde nem de longe à verdade.

Nuno Serra disse...

Caro Anónimo,
Admito que tenha razão quanto aos reais valores do aumento dos transportes. Limitei-me aqui a citar os que a notícia apresenta.