Na história por escrever dos dias que correm, a comunicação de Passos Coelho ao país na passada sexta-feira marcará, muito provavelmente, o momento-chave da ruptura entre o governo e sectores decisivos da opinião pública que têm ajudado a manter a caminhada para o abismo. Isto é, o ponto em que se quebra a confiança de muitos portugueses que concederam o benefício da dúvida à austeridade ou que acreditaram ser esse o caminho da redenção (ajudados, na sua boa fé, pelos mantras diariamente regurgitados - e dispensados do contraditório - dos economistas que colonizam, em regime de monocultura, os espaços de debate televisivo).
A «carta» enviada aos portugueses pelo primeiro-ministro através do facebook é um dos sinais da percepção dessa ruptura por parte do próprio governo. É um texto imponderado (que não antevê a mais que previsível avalanche de revolta que sobre ele se abateu), abrupto (pois parece ter sido escrito com os pés) e profundamente irreflectido no seu conteúdo (o paternalismo cínico a que Passos Coelho recorre deixa perplexo o mais cândido dos leitores). A somar a isto, sinais claros de que a manifestação do próximo dia 15 poderá agora assumir proporções absolutamente invulgares; a sinalização de «voto contra» no Orçamento de Estado de 2013 pelo PS; e um indigente e desesperado «manual de instruções», editado pelo gabinete de Relvas e distribuído pelos diferentes ministérios, para ajudar as tropas a defender o indefensável.
Tudo indica, portanto, que estamos a entrar em tempos decisivos de mudança. Mais do que nunca, a sociedade portuguesa reclama caminhos alternativos à tragédia austeritária, que não se dispensem de equacionar todos os cenários possíveis, tanto à escala nacional como europeia. Há um espaço de esperança que ficou vazio para todos quantos, intoxicados e iludidos, encararam a austeridade como solução para os nossos problemas. Eles juntam-se agora a quem, desde há muito, vive inquieto com a necessidade de quebrar os impasses que tolhem o país e o futuro. O Congresso Democrático das Alternativas ganhou por isso, desde a passada sexta-feira, um redobrado sentido e exigência.
8 comentários:
Penso que um contributo, singelo mas objectivo é de cariz importante.
O Lugar de Portugal na Europa e no Mundo é meu foco de interesse.
Saudações
(momentos de ruptura)
O “Lugar de Portugal na Europa e no Mundo” não passa de uma abstracção, enquanto a vida dos cidadãos deste país se precipita rumo à sobrevivência.
Os tempos não estão fáceis para quem tente encarar as coisas com alguma seriedade. Tudo isto começa a ser rocambolesco para além da conta.
Esta, então, da cartilha é extraordinária.
Mas, se quiser conferir, parece que não está a dar muito bons resultados.
http://umjeitomanso.blogspot.pt/2012/09/li-no-expresso-que-o-governo-criou-uma.html
Aguardemos agora pela rábula do Gaspar-não-acerta-uma.
Gostava muito de acreditar nas boas intenções..., mas:
- Deixar de fora o PCP (e não venham com tretas que o PCP se auto-excluiu, sabendo como sabem que não são de ir a qualquer jogo);
- Ver gente distinta que escorou durante décadas a fio as condições para que este ajuste de contas se concretizasse (sem nenhuma autocritica ou "meter a mão na consciência"; e pior
- A profusão de ilusões de reforma deste sistema trágico de esbulho e regressão social.
Como pequeno passo do longo caminho a percorrer, desejo a lucidez para dar o cunho de ruptura e de justiça que tarda em ser adoptado.
Se as doutrinas económicas monetaristas da Escola de Chicago têm fracassado em todo o Mundo , porque haviam de ter exito em Portugal?
Perdão, alguém pode esclarecer-me: o Coronel Vasco Lourenço não é um tal ex-militar de Abril que acabou com o 25 de Abril, quando participou activamente no golpe de 25 de Novembro?
Vasco Lourenço é um militar de abril ou de Novembro?
Vasco Lourenço é um militar de Abril ou um militar spinolista de 16 de Março ( golpe que anticipou o 25 de Abril preparado pelos spinolistas na tentativa de evitarem o 25 de Abril.
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