«O pensamento mágico chegou ao Ministério das Finanças e Vítor Gaspar, na última comunicação efectuada ao país, voltou a demonstrar a extensão do problema. Apesar da linguagem e pose tecnocráticas, o ministro das Finanças - tal como, aliás, o primeiro-ministro - mostrou que o projecto político deste Governo e da ‘intelligentsia' que o rodeia é relativamente simples: desejar com muita força que algo ocorra e, se as coisas não correren como desejado... bom, desejar com força ainda maior e esperar que o céu, i.e. o conjunto de variáveis macro-económicas que norteia a pseudo-política fiscal deste governo troikista, não nos caia na cabeça. (...) No mundo real, aquele em que medidas draconianas são impostas a mando de um clube de credores e sujeitam um povo inteiro à destruição do seu modo de vida, com o beneplácito de elites políticas cartelizadas e hipnotizadas pela alquimia monetarista, esse país está em queda livre e urge reinventar a política, desmontando o pensamento mágico de auto-proclamados feiticeiros como Vítor Gaspar ou os representantes da 'troika'»
Luís Pais Bernardo, em «Pensamento mágico nas Finanças»
«Fechado no seu gabinete ministerial, concentrado no corte à despesa pública, transformou os portugueses em algarismos, numa contabilidade que soma, subtrai e divide desigualmente. No seu mundo de ‘experts' circulam teorias, experiências e estudos que nunca ninguém viu e poucos poderão entender. Aliás, o estudo, que fez o ministro optar pela decisão relativa à Taxa Social Única, é uma incógnita para jornalistas, investigadores e observadores. A medida que desagradou a todos os sectores da sociedade, sendo o mais equitativa possível na contestação e apenas nisso e gerando uma crise política, é fundada em alicerces técnicos até agora não publicados, algo estranho para um ‘expert'»
Cátia Miriam Costa, em «'Expert?'»
«Algo mais está em risco neste momento, com potencial impacto na própria actividade económica. A economia portuguesa tem evoluído para assentar cada vez mais em serviços e quando se fala em criatividade, inovação, serviços, está-se a falar de actividades económicas com uma característica particular – o seu sucesso depende do empenho que se puser nessas actividades. Não é possível verificar se há esforço de criatividade no desenho de novos produtos. É quase impossível verificar se em cada atendimento a um turista há um sorriso e uma forma de tratar que o faça querer voltar. Verificar a produção robotizada, ou mesmo a produção manual, é fácil. Verificar o intangível não é. E a perda de valor associada pode ser relevante. O problema central, o de aumento da produtividade, continua fora das discussões, e deverá reganhar espaço.»
Pedro Pita Barros, em «Manif e Economia»
A (má) moeda do pensamento económico dominante que nos atrofia tem duas faces. E ambas se ligam por um elemento comum: o desligamento à realidade. Seja pela via do entendimento da economia como um modelo mecânico imaginário, seja pela via do despojamento – na análise dos processos económicos – de tudo o que não é tangível e ultrapassa, por isso, as fronteiras de uma racionalidade simplista e limitada. Uma parte muito considerável do desastre em que estamos mergulhados tem aqui as suas raízes.
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