O PSD lançou um site no endereço www.cortardespesas.com . Nesse site, convidam todos os cidadãos a enviarem os seus contributos para cortar na despesa. Uma espécie de orçamento participativo, mas ao contrário, com contribuições negativas. É uma ideia muito democrática. Não tão democrática que permita fazer propostas de investimento público que reduzam o desemprego e combatam a recessão e, dessa forma, contribuam para o ajustamento orçamental no longo prazo. Isso já era pedir de mais. A aplicação informática foi programada para produzir mensagem de erro se alguém tentar inserir propostas expansionistas.
Muitos chamarão a isto o fim da linha em matéria de populismo. Outros se interrogarão sobre a competência do Gabinete de Estudos do PSD para ter de promover esta feira de ideias. Mas eu acho que a ideia só pode ter resultados positivos. Actualmente, Passos Coelho só tem acesso a um exército (se fosse um, ia dar ao mesmo) de economistas, que fazem todos as mesmas recomendações e se acotovelam para ver quem faz as propostas mais desastrosas. Este novo site pode ser a única hipótese de expôr o presidente do PSD a algumas ideias mais razoáveis. É certo que é pouco provável que cidadãos medianamente esclarecidos não percebam o carácter puramente publicitário da iniciativa. Mas temo bem que, no que diz respeito a Passos Coelho, não haja outra esperança...
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11 comentários:
Enviei a minha sugestão: acabar com o site.
Uma vez que é falacioso o discurso do "cortar despesa" quando os aumentos de défice em Portugal e por essa Europa fora se devem à nacionalização dos prejuízos do mercado financeiro toda a premissa da iniciativa cai pela base.
"os aumentos de défice em Portugal e por essa Europa fora se devem à nacionalização dos prejuízos do mercado financeiro"
Parece-me que em Portugal os aumentos do défice se devem a muitos outros factores. Ou acha que a gestão do orçamento tem estado bem, para além do socorro ao BPN?
Caro José Guilherme
Com que dinheiro se há-de fazer o investimento público?
Quando não há dinheiro, só há tempo para esperar pelo "longo prazo" se houver quem confie em nós, possa esperar e nos empreste os recursos para investir. Sim, porque não basta sair do euro, imprimir muitas notas para termos política orçamental própria e depois não sermos capazes de comprar bens importados.
Ora o que Sócrates (e, pelos vistos, não só ele) se negaram a compreender foi que já ninguém confia em nós para nos emprestar recursos.
Não poderíamos ter uma esquerda mais realista, que fosse capaz de sonhar com os pés assentes na terra?
Ora o realismo seria poupar em despesas disparatadas (que as há muitas, a começar pelo TGV) e investir o pouco de que podemos dispor naqueles que mais precisam.
Caro Carlos Albuquerque,
Se está preocupado com os recursos para investimentos públicos, não é boa ideia atirar-se ao TGV. O modelo de financiamento do TGV inclui 600 milhões de financiamento comunitário a fundo perdido mais 1300 milhões de empréstimos a taxas baixíssimas e longas maturidades.
Quanto aos recursos para investimento público, dou-lhe um exemplo: 3800 milhões de euros de sub-tributação das empresas em Portugal. Não defendo que se vá buscar isso tudo, mas com mil milhões de euros, podia-se começar a executar em simultâneo três planos: reabilitação urbana, energias renováveis, rede ferroviária.
Acresce que o primeiro teria retorno financeiro total durante cinco a dez anos e qualquer dos três diminuiriam o nosso desequilíbrio externo no plano imediato (o primeiro através da baixa do preço da habitação, o 2º e o 3º através da factura energética).
Claro que só há recursos se houver uma reforma fiscal corajosa...
Caro José Guilherme
Um investimento não se avalia apenas pelo custo inicial, mas pelo retorno. E a exploração do TGV será deficitária, pelo que além dos "juros baixíssimos" será preciso pagar por múltiplas vias esse défice, ano após ano, sem retorno que justifique.
Fazer esta análise apenas pelo custo inicial faz lembrar aquelas pessoas a quem "oferecem quase grátis" um bem qualquer, ao mesmo tempo que lhe pedem que assinem um contrato em letras miudinhas, onde ficam a pagar um balúrdio todos os meses.
"Claro que só há recursos se houver uma reforma fiscal corajosa..."
Estou de acordo que é necessário que todos paguem, mas uma reforma fiscal mal pensada pode ser como matar a galinha dos ovos de ouro. E não estou a ver como é que mil milhões de euros vão aquecer ou arrefecer a economia portuguesa.
Mas acho que deve haver investimento público, desde que bem pensado e não feito para ser concentrado de forma a proteger esquemas de corrupção.
O que me impressiona às vezes é a falta de critério na defesa do investimento público, como se qualquer despesa do estado fosse automaticamente boa para o país.
Sócrates e o grade capital têm aproveitado essa ingenuidade até ao limite, sendo que o limite é o momento em que nem há dinheiro nem há crédito.
Carlos Albuquerque,
"Um investimento não se avalia apenas pelo custo inicial, mas pelo retorno. E a exploração do TGV será deficitária"
Gostava que me apresentasse dados que comprovem o que afirma...
Tiago
A RAVE mantém no site uma série de estudos. Creio que um dos mais actuais sobre o eixo Lisboa-Madrid é este.
Mas estes estudos têm que ser lidos com atenção e sobretudo é necessário apreciar as hipóteses que usam.
Uma leitura de uma versão anterior da análise custo benefício foi feita por Álvaro Santos Pereira no seu livro "O medo do insucesso nacional", Esfera dos Livros, 2009. O resultado é arrasador para o TGV.
Aliás, basta olhar para o tráfego aéreo entre Lisboa e Madrid, a preço inferior e muito mais rápido que o TGV. Gastar dinheiro que não se tem em coisas que não se podem suportar parece ser um desígnio nacional. A Cetelem que o diga.
@Carlos Albuquerque
Há espaço para aumento da eficiência dos serviços públicos, concordo absolutamente- é uma excelente altura para estar particularmente vigilante em relação aos regabofes da gestão da CP ou das Águas de Portugal, por exemplo.
Existindo outros factores, conhece no entanto mais algum que isoladamente tenha contribuído para a quase duplicação do défice?
É curioso mas não inédito que na Irlanda os 32% de défice atingidos com as ajudas à banca estejam a servir como argumento para erodir o Estado, de repente tornado responsável pela sua "ineficiência", qual Chile do Atlântico Norte.
O espaço para aumento de eficiência (diferente de redução) do Estado não desculpa de repente o saque, apesar de quase todos os tele-comentadores o esquecerem.
Não deixa de ser peculiar este ordenamento de prioridades que não me parece acidental e é mais bizarro ainda que se fale de forma recorrente de "subsidiodependentes" que custam 80 milhões por ano quando se esquece sempre uma nacionalização de perdas num valor que foi dezenas de vezes superior.
A memória é uma coisa levada da breca.
Quando se pensa de forma diferente daquilo que há género "cortar na despesa" podendo, deve contrapor-se algo porque não lançar um site para receber propostas de boas práticas de investimento público...
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