segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Qual é a mentirola predilecta dos economistas de Belém?

Acusar os que deles discordam de defender que “o Estado a gastar muito é que faz a economia crescer” (ver Vítor Bento no Público).

Vou tentar explicar outra vez: (a) um Estado a poupar muito num contexto recessivo de desemprego e de sub-utilização da capacidade é a receita para o desastre; (b) quando ninguém investe tem de ser o Estado a fazê-lo; (c) não é possível, nem sequer para o Estado, viver indefinidamente a crédito; (d) o défice e a dívida devem ser reduzidos na fase ascendente do ciclo económico; (e) as despesas estúpidas e pouco sérias do Estado, a evasão e os privilégios fiscais, devem ser combatidas em todas as circunstâncias.

É só isto. É assim tão difícil de entender? Claro que não. Só que é mais fácil correr a dizer agarra que é despesista.

11 comentários:

maria disse...

falta dizer em que é que vai o estado investir....é que se for em autoestradas , tgvs , aeroportos , recuperação de edificado nas cidades , que já existe a mais para a população existente , e tal , passo.
se for em agricultura , pescas e coisinhas assim "primitivas" para as quais não é preciso licenciados , mas dão de comer , e podem espalhar a população pelo território , concordo. claro que mão de obra para isso já não há , tudo com um canudo de letras à espera de entrar na função pública...

Anónimo disse...

Está tudo explicadinho que é uma maravilha.!
Só não vê quem não quer ou quem se faz de cego.!!!
Ora, isso, isto é, quem não queira ver e quem se faça de cego é o que nós temos mais, desde Vitores Bentos a Teixeiras, Leites e outros semelhantes.!!!! Pudera. É que se não for assim os patrões deles cortam-lhes a ração.

JP Santos disse...

Concordo com as quatro premissas, mas já gora o que sucede quando se atinge o limite referido em (c) e a economia perde a capacidade de se financiar. Nessa altura o Estado vê-se obrigado a poupar num contexto recessivo agravando obviamente a recessão, que é o que está a suceder (não por razões de política económica, que não existiu ou falhou, mas por razões de gestão financeira).

rui fonseca disse...

"as despesas estúpidas e pouco sérias do Estado,..."

Pois é precisamente por elas que se deve clamar "Agarra, que é despesista!"

Não vejo onde é que está a diferença.

José M. Castro Caldas disse...

Caro JP Santos

Em última análise nessa situação pode sempre monetarizar a dívida e/ou negociar com os credores. Para isto é claro que também há limites. No nosso caso isso é mesmo uma impossibilidade porque não temos moeda própria. Nesse caso (o que pode a vir a ser o nosso) está-se numa situação dilemática como alguém num décimo andar em chamas a quem perguntam de deve ou não saltar. Se não saltar morre à mingua de crédito, se saltar também morre. Por que diabo um orçamento recessivo é uma garantia de que voltamos a ter crédito? Quem quer emprestar baratinho a bancos e Estados de economias agonizantes?
Penso que resta uma possibilidade: preparar o plano B com outros nas mesmas circunstâncias (Espanha, Grécia, Irlanda) e confrontar os poderes constituídos na moeda única com essa eventualidade mesmo que fosse na maior das descrições. Pode bem ser que nessa contingência o BCE e a Alemanha achassem que valia a pena tentar outra receita. Quais são os contornos do plano B? Pois. Essa é a questão que deve ser discutida daqui para a frente sob pena de chegarmos à situação B (inevitabilidade de incumprimento) sem plano nenhum.

Mas mesmo que o orçamento de austeridade fosse uma boa ideia, ou uma inevitabilidade, será que tinha de ser tão regressivo e recessivo como este? Não poderia um orçamento de austeridade ser uma boa oportunidade para corrigir as desigualdades mais gritantes?

Quando me lembro que a PT está em vias de escapar a um imposto de mais-valias de mil milhões (tanto quanto a sangria dos trabalhadores da administração pública) só peço que me digam que isso não é verdade.

JP Santos disse...

Caro José Castro Caldas,

Muito obrigado pela resposta.
Seguindo o seu exemplo, também eu acho que talvez não seja má ideia começar a pensar na eventualidade de chamar "os bombeiros", mas já não sou muito optimista com a criação de uma aliança dos "endividados", pelo que penso que a opção será entre as medidas impostas por um Governo descredibilizado e as medidas impostas pelos bombeiros... e não gosto de nenhum dos cenários.

V. Almeida disse...

Gostaria de chamar a atenção para o infeliz título da mensagem objecto deste comentário. Este blogue vale mais do que o suficiente para não necessitar de se pôr em bicos de pés.

José M. Castro Caldas disse...

Onde está "descrições" acima devia estar "discrições". Obrigado Jorge Bateira pela correcção do erro e pela ideia que aqui tomei de empréstimo

Carlos Albuquerque disse...

"Por que diabo um orçamento recessivo é uma garantia de que voltamos a ter crédito?"

Garantia não é, mas convém notar que os juros implícitos da dívida portuguesa já baixaram quase um ponto percentual, entre o anúncio de medidas e a apresentação do orçamento.

Nuno disse...

Baixaram um ponto percentual pois foi, tb a Irlanda baixou inicialmente uns pontos.
Nada garante que amanhã os "investidores" não olhem para as recessões provocadas para tentar reduzir déficits (mas que temo q vão acabar por aumentar) e as fracas perspectivas de crescimento e os juros subam n pontos percentuais!
A vergonha e o preconceito ideológico da UE é o BCE facilitar liquidez a 1% aos bancos e não facultar ajuda aos estados nesta altura de elevado desemprego!

José Guinote disse...

Pareceu-me o seu post de uma grande clareza mas levanta-me algumas questões:
Do seu ponto de vista a poupança do Estado não é meritória por si só independentemente do contexto? Não deve existir sempre, em nome de uma ética na utilização dos recursos públicos, um esforço no sentido de se poupar? Não falo da redução dos salários e das pensões que tenho dificuldade em aceitar como poupança.
No actual contexto de hiper endividamento do Estado que investimento público seria possível concretizar e como financiá-lo? Trocando apenas – o que seria no mínimo justo – o montante sacado aos cidadãos de menores recursos por uma adequada tributação do sector bancário ou acabando com os benefícios fiscais de empresas em sectores quase monopolistas como acontece com a energia e facilitando a vida e a criação de emprego às pequenas e micro empresas não alterávamos os aspectos quantitativos da questão embora estivessemos a falar de um outro país.
Qual é o papel que atribui às PME´s e às micro empresas na promoção do crescimento económico e do emprego?