João Pinto e Castro é um dos raros economistas que diverge publicamente da economia pacóvia, que nos colocou alegremente neste colete de forças. Somos poucos. E concorde-se ou não, e eu tendo a concordar, é sempre um prazer lê-lo. As divergências estão, talvez, no último e propositadamente ambíguo parágrafo: “Resta a um governo português decente e responsável proteger o seu povo na medida do possível das consequências de uma política sem grandeza e sem visão.” De resto, João Pinto e Castro sabe muito bem que as regras que estão em vigor na UE foram também geradas pela social-democracia das vias da moda. As estruturas que geram resultados de direita tiveram a cumplicidade activa de gente que se diz de esquerda, mas que na realidade passou a alinhar por bitolas intelectuais produzidas na década de noventa pelos Consensos de Washington ou de Berlim. A pergunta que se impõe: o actual governo português protege o povo com o PEC III? Ou estará mais preocupado com as necessidades dos senhores com quem se deixa fotografar em Wall-Street? O que é bom para o BES, não é necessariamente bom para Portugal.
Será que a descrição simples do governo burguês, feita por Marx e Engels em 1848, está a tornar-se verdadeira de novo? Temos de contrariar esta tendência ou aprofundaremos brutalmente a crise de legitimidade das democracias. Não há democracia sem uma economia civilizada. Os sindicatos europeus sabem-no e por isso fazem propostas sensatas, como a de se usar o fundo europeu para criar um programa de investimentos europeus que estimule a economia. E colocar o BCE a operar como um banco central, financiando directamente os Estados em dificuldades. Isto para não falar da emissão de euro-obrigações. Não há moeda única sem política económica digna desse nome.
4 comentários:
As crises da Grécia, Espanha e Irlanda têm factores específicos que nós não tivemos: défices elevados há muito na Grécia (desde antes do início do euro, ocultados nas contas), rebentamento de bolha imobiliária em Espanha e colapso dos bancos na Irlanda (onde o défice estoirou por ainda estarem a injectar dinheiro nos bancos).
A questão é saber como é que um país que há uns anos não tinha um problema orçamental grave, de repente, está à beira da ruptura.
A explicação não é difícil: a crise internacional serviu para todo o tipo de despesas mais ou menos absurdas por parte dos governos Sócrates/PS.
Supostamente as dívidas contraídas para permitir os défices portugueses dos últimos anos deveriam ter feito de nós um dos primeiros países a sair da crise. A realidade mostra que as dívidas e os juros ficam, enquanto os efeitos positivos das despesas desaparecem bem depressa (excepto para alguns, claro; e é aqui que se deve procurar a raíz dos problemas).
É compreensível que o João Pinto e Castro queira desviar as atenções da governação e por isso defenda que a crise era igual para todos os países.
A última frase é de uma ternura ao estilo de Salazar: tal como na segunda guerra mundial, o governo protege os portugueses das asneiras dos estrangeiros. E proteger as crianças dos maus passa por não lhes revelar a verdade.
"A questão é saber como é que um país que há uns anos não tinha um problema orçamental grave, de repente, está à beira da ruptura."
Depende da definição de "grave", mas a verdade é que mesmo nos melhores anos a nossa situação orçamental não era, digamos assim, muito famosa, tendo alvo de dois procedimentos por défices excessivos em por ter excedido claramente o limiar de 3%, primeiro em 2001 e depois em 2005 e conduziu a um nível de dívida pública que nos punha no limite do "conforto".
Some-se a isto os claros problemas relacionados de falta de competitividade e grave desequilibrio externo (para os quais contribuem claramente a conjugação de políticas europeias inadequadas e a incapacidade de adpatação da nossa economia - e dos nossos políticos - ao novo regime monetário), junte-se uma política eleitoralista pseudo-keynesiana e temos o cenário que nos conduziu onde estamos.
Tenho para mim que a economia de que se fala tem pouco de pacóvio, creio até que, do ponto de vista dos interesses que defende, é bem espertalhona.Porquê? Porque creio bem que ela tenta arrastar até onde puder que o mundo veja a tecnologia com base no petróleo, que domina por inteiro,como a única oportunidade de garantir uma vida de bem-estar para os povos. Mentira? Sabemos nós que sim, o problema é que a lógica desta "dinâmica capitalista" envolve quem nos governa a todos os níveis, desde o que vende o pão ao que dá crédito, desde o que reza ao que diz que nos informa? Complicado? Que sei eu!
A economia de que se fala, não tem nada de pacóvia, terá, isso sim, de espertalhaça, pois tenta arrastar até ao limite do impossível a ideia generalizada de que a técnologia do petróleo, que esta economia controla absolutamente, é a única que pode garantir aos "povos" uma vida de bem-estar e conforto político, social, familiar, o que se queira, afim de obter, para os poucos a quem interessa, avultadissimas receitas e os consequentes privilégios. para tanto, garantiram, a tempo e horas, o controle e a adesão dos que fazem o pão, dos que rezam, dos que dizem que nos informam, dos que nos dão emprego, dos ...Pacóvia? Será que queriam dizer devastadora?
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