sábado, 9 de outubro de 2010

Economistas de Belém...

Vítor Bento, um dos principais conselheiros de Cavaco, anda todo ufano a lembrar as opiniões do seu livro em defesa de um choque salarial que imitasse uma desvalorização cambial indisponível. Opiniões seguidas agora, mas Vítor Bento ainda não está contente, claro. Diga-se que a defesa que faz no livro da redução da força de trabalho ao estatuto de uma mercadoria descartável, à pala da conversa ideológica sobre a “rigidez do mercado de trabalho”, se insere no mesmo projecto de cortes salariais e de transferência de custos sociais para os trabalhadores da base. É a “reforma do factor trabalho”, para invocar a desumana expressão de Cavaco.

Será que Vítor Bento fez bem as contas sobre os salários? Não me parece. Recomendo então a Vítor Bento que as reveja à luz dos dados que estão lá para o fim desta intervenção de Vítor Constâncio e dos cálculos de João Ferreira do Amaral. Isto para não falar do que já aqui defendemos sobre os enviesamentos nacionais e europeus. E recomendo-lhe que leia Paul Krugman com um pouco mais de atenção. Já não é a primeira vez que Vítor Bento faz leituras enviesadas de economistas liberais “lá de fora”, como Martin Wolf, para defender posições, agora politicamente vencedoras, que nos levam para a recessão em dois tempos. Um pouco mais de rigor, por favor.

Publicado no Arrastão.

3 comentários:

Banda in barbar disse...

opiniões....

eu lembro-me da desvalorização de 92 que levou 25% das poupanças que os emigrantes cá tinham posto em francos e em marcos

é verdade que os 6% de juros anuais atenuaram essa perda

mas sinceramente os emigrantes desses tempos vão lembrar-se
de voltar a pôr em escudos o que dantes eram euros

logo antes recessão que mantenha marginalmente o poder de compra daqueles que ganham em notas de 20

que desvalorização que nos leve a triplicar ou quadriplicar o valor da dívida em poucos anos
e quem viveu na década de 70
carne e ovos eram luxos semanais

e a sorte é que a sardinha que subia dos 5$00 para os 100$00 em poucos anos continuava a ser abundante

Banda in barbar disse...

se descobrir um modo de deixarmos de importar 60% do que consumimos
agradeço

que com uma base produtiva destas

qualquer dia emigramos nós para a moldávia pour faire la ménage

e não será a três...

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo amigo João Rodrigues,

As soluções conjunturais dos economistas neoliberais, da confiança do actual Presidente da República, só vão agravar a crise abrindo as portas da recessão e provocando a perda de qualidade de vida dos trabalhadores potenciando uma crispação social cada vez maior no país.

A estratégia económica tem de superar o mero saldo contabilístico, porque as questões de fundo são de ordem estrutural para a economia Europeia e Portuguesa. Não bastam estes meros exercícios contabilísticos, embora sendo importantes, ao ritmo das pressões externas dos batimentos das desacreditadas estruturas financeiras internacionais.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt