segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Debater sempre

“Dizem que os portugueses vivem acima das suas possibilidades, mas quem é que vive acima das suas possibilidades? Os desempregados? Os 57 por cento de portugueses que vivem com 900 euros por mês? É preciso dizer quem é que vive acima das suas possibilidades. Nós temos um programa de endividamento que nos tira autonomia de decisão, sobretudo no estado em que se encontra a Europa. Nós aderimos a uma Europa de crescimento, de prosperidade social partilhada. Neste momento temos uma Europa em que a Alemanha ditou políticas de austeridade. Isso leva à recessão.”

Manuel Alegre

Amanhã (dia 26) estarei no Porto a debater a crise económica e as alternativas com António Figueiredo e José Carlos Ferraz. O debate começa às 21h30m e terá lugar na sede candidatura de Manuel Alegre (largo Tito Fontes, metro Trindade). Uma iniciativa da Comissão de apoio da candidatura de Manuel Alegre. Apareçam.

8 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

Um país que tem uma das maiores redes de auto-estradas da Europa e que se prepara para construir um TGV vive certamente acima das suas possibilidades! Quem é que aprovaria tais obras mesmo quando já era óbvio que não havia dinheiro sequer para as prestações sociais mais básicas? Só os grandes bancos, as construtoras e que partidos?

José Luiz Sarmento disse...

Caro Carlos Albuquerque:

Mesmo que o país viva acima das suas possibilidades no cômputo geral, subsiste a questão de saber quem contribui no particular para esta situação. Você mesmo dá parte da resposta quando menciona os grandes bancos, as construtoras e os partidos. E de entre estes, acrescento eu, os que pouco mais são do que braços políticos dos interesses económicos.

A resposta a esta questão, sendo em si mesma um juízo de facto, suscita uma outra a que só podemos responder por um juízo de valor: de entre as várias austeridades possíveis, qual é a mais justa, ou a menos injusta?

É politicamente impossível deixar esta questão sem resposta: nenhuma política viável pode ser formulada, e muito menos executada, se for baseada unicamente, quer nos factos, quer em valores. O lugar geométrico da política está na zona de intersecção dos factos e dos valores. Se assim não fosse, a política seria meramente uma técnica.

Todas as decisões políticas, incluindo a austeridade, levam a que alguém perca e a que alguém ganhe. Nunca estamos todos no mesmo barco. A relevância da moral na política decorre da pergunta que todos (particularmente os que perdem) inevitavelmente farão: se quem ganha merece ganhar e se quem perde merece perder.

Carlos Albuquerque disse...

Caro José Luiz

Estou de acordo consigo.

Não tenho dúvidas quanto à injustiça das medidas que estão a ser tomadas. Quer porque poderiam ter sido perfeitamente evitadas, quer porque mesmo no momento actual seria possível proteger muito mais os mais desfavorecidos.

O que me leva a ser crítico é ver que aqueles partidos que pelo seu posicionamento político deviam procurar a justiça (PS, BE, PCP) ou têm sido os que mais têm contribuído para destruir o estado social (claramente o caso do PS de Sócrates) ou têm andado tão entretidos a sonhar com a política europeia e internacional, que vão deixando arruinar as finanças nacionais.

No meio disto não percebo o que anda a fazer e a dizer Manuel Alegre.

maria povo disse...

CA em que é que o PCP ou o BE têm destruído o estado social???

Onde é que o MAlegre defendeu a politica de esquerda??? só se lembram dos votos dos comunistas quando em eleições presidenciais querem o seus votos para assim poderem ser eleitos (Soares, Sampaio)!!!

não me lixem!!!!

Dédé disse...

"Nós aderimos a uma Europa de crescimento, de prosperidade social partilhada."

Essa não, essa só contaram pra você.

Carlos Albuquerque disse...

"CA em que é que o PCP ou o BE têm destruído o estado social???"

Maria, o BE e o PCP não têm destruído o estado social. Essa referência é para o PS.

O que o BE e o PCP têm feito é apoiar obras faraónicas ao gosto de Ricardo Salgado e companhia. E nisso contribuiram para o agravamento da situação financeira do estado. Na hora da dificuldade vê-se agora bem quem é que vai pagar para que essas obras avancem.

Neste momento haveria que escrutinar o orçamento e procurar formas de redução de despesa que não penalizassem os mais fracos. E "entrar" mediaticamente nesta reunião PS/PSD, com argumentos sérios e contas bem feitas. Isso é o que eu esperava de quem tem influência política e defende os mais desprotegidos.

Agora acusar o mundo inteiro sem ver as asneiras (a raiar o criminoso) que cá dentro se fazem, pode ser confortável mas é um bom serviço aos beneficiários do regime que temos vivido.

Tiago Santos disse...

O amigo Carlos Albuquerque não chega a perceber que, mais do que o problema da austeridade ser assimétrica, é a austeridade em si que está errada. É a austeridade em si que é caminho para o desastre. Quanto mais assimétrica a favor dos mais ricos pior, mas é a própria austeridade que é o erro económico mais sério.

Carlos Albuquerque disse...

Tiago

De onde vem o dinheiro que o Estado gere com o Orçamento Geral do Estado?

É que um Estado que gasta mais 10% do que recebe está necessariamente à mercê dos credores, perde independência. E quando os credores exigem contenção nos gastos, esse estado pode aceitar ou largar e reduzir-se quando muito a um défice zero e ficar sem crédito.

A única margem de manobra que Portugal tem neste momento enquanto país independente é gerir a austeridade, não é evitá-la.

Pode o Tiago perguntar-se como é que chegámos a este ponto em que perdemos a independência económica. A resposta é que andamos há demasiado tempo a imaginar que as auto-estradas e pontes e TGV's nos vão levar a algum lado. Para isso endividámo-nos até não podermos mais. Nem a economia cresceu nem temos independência.

Quem conduziu e apoiou este caminho devia começar a avaliar o que se fez. A menos que as ideologias sejam mais importantes do que as consequências para aqueles que dizemos defender.