"Confio que, enfim governados por sábios insensíveis aos clamores da rua, nos aguarda um futuro risonho. O mundo é hoje demasiado complexo para admitirmos que as sociedades estejam dependentes dos caprichos de eleitorados ignorantes em grande medida parasitas do Estado Social. Talvez não haja emprego para todos, mas a verdade é que nem todos querem trabalhar. Talvez alguns se escandalizem com as desigualdades económicas, mas é preciso premiar o mérito. Os que estão a mais, tarde ou cedo serão forçados a aceitar que, como lapidarmente proclamou o Reverendo Malthus: 'Não há lugar para eles no banquete da Natureza.'"
João Pinto e Castro. Entretanto, João Galamba faz uma breve história de uma fraude que deu origem a uma arquitectura económica disciplinar: "A liberalização dos mercados financeiros foi iniciada no final dos anos 70 e o número de crises financeiras, como é óbvio, aumentou exponencialmente desde então. Misterioso é Rogoff achar que nada disto é óbvio."
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9 comentários:
A realidade é que se aceitarmos viver numa economia capitalista, seremos forçados a aceitar a sua natureza cíclica. Se aceitarmos viver num capitalismo conivente para com o Estado Social, cuja construção foi possível numa época de acesso a energia barata que mais não voltará, seremos forçados a ceder bens adquiridos quando o ciclo estiver na fase da lama. JPC diz que muitos são parasitas do Estado Social; tem razão e o João Rodrigues sabe até que ponto. Assim como teria razão ao criticar o modelo de gestão burocrática da produção na URSS, onde a ineficiência primava porque os interesses miópicos dos que dirigiam as fábricas não coincidiam com os interesses macroeconómicos.
Que há gente que não quer trabalhar, é a mais pura verdade. Está na hora de a esquerda de classe média se mentalizar que nos bairros sociais há quem trabalhe 40 horas e ganhe pouco mais que quem vive de migalhas do estado, o que origina mau-estar e votos nos partidos de direita, que querem acabar com essas medidas.
Agora, é evidente que nos devemos escandalizar com as diferenças económicas, sobretudo porque não existe mérito nenhum em nascer no topo da pirâmide e deixar o bolo a crescer no banco, enquanto alguém tem de trabalhar para ele. Mas é uma ilusão pensar que a redistribuição iria alterar o carácter cíclico da economia.
Um filósofo nominalista disse há já umas décadas que uma das formas de resolver um problema, em filosofia, é colocar-lhe outra pergunta ou perspectivá-lo de uma outra forma.
Parece, pois, que esse é o problema de JPC. Efectivamente, oferece a mesma solução posta em cima da mesa desde o ponto de origem do estado moderno: Só uma elite seria capaz de governar um conjunto de cidadãos ignorantes, tendo em conta a tal complexidade dos assuntos de estado e da organização política, social e económica.
Em última análise, se acreditarmos na simplificação que expus acima, foi essa mesma elite que falhou e, com ela, o próprio raciocínio de JPC.
E se quisermos ser comezinhos, então porque anda o filho do senhor que guarda dinheiro no banco a gastar o dinheiro do pai ou a mãe a gastá-lo em compras em Milão enquanto foge aos impostos? Contribuem estes mais para o colectivo do que o ignorante que está em casa?
Anomia social provoca o consecutivo erigir de guetos mascarados em condomínios privados ou a ilusão sempre posta nos rankings das escolas entre escolas públicas e privadas, sabendo nós que as diferentes condicionates do grupo de alunos de umas e outras justifica em muito o facto de as privadas aparecerem sempre melhor classificadas.
Anomia social provoca o chorrilho de palavras atiradas a quem tem dificuldades todos os dias para saber como pode comer, mesmo que receba o rendimento mínimo, colocando-se o que é um dos objectivos mais nobres da história do estado moderno no que concerne ao respieto pela dignidade da vida de qualquer dos seus cidadãos porque há abusadores. Por um acaso pensam (e suspeito bem que sim) que a melhor forma de impedir a fuga aos impostos é simplesmente acabar com eles?
Conclusão, resta não acreditar nos benefícios que uma economia capitalista possa ter? (junto exponho que não tenho fé em qualquer sistema, todos terão pontos positivos e negativos e são ferramentas, modos de conhecimento ou de abordar a realidade, e não fins em si mesmos) E em que é que isso será benéfico? É possível reformar e adaptar os modelos às realidades locais ou temos que nos conformar como diz JCP?
Não muitas certezas, e mesmo tendo-a creio que não interessariam a ninguém, mas esta exponho-a. Palacras como aquelas servem apenas para lamber feridas e fazer-nos enfrentar uma realidade que não tem que ser a que JCP quer fazer passar. É tudo muma questão de perspectiva e torna-se, no mínimo, anti-liberal, assumir as palavras que escreveu ao mesmo tempo que defende (não li o resto, e não se o faz directamente ou não) o neo-liberalismo.
Portugal estado-novista também defendia as corporações, e não me lembro de o operariado ter sido beneficiado por essa altura ou por essa orientação ideológica. Ao menos que limpasse o discurso das suas contradições de base.
Cumprimentos, já agora, com bastante simpatia. Até pelo JCP.
peço desculpa pelos erros de redacção do post anterior. faltam ums palavras, troquei umas letras, tal como a sigla do JPC. mas a ideia ficou, embora mal formulada...é fruto da velocidade de escrita provocada pela irritação (amenizada pelo reconhecimento das virtudes do diálogo).
Lê-se no artigo do JPC:
"Anexado ao Euro veio o PEC, invocando com indiscutível razoabilidade a necessidade de proteger a zona monetária do comportamento fiscal eventualmente irresponsável dos seus membros."
Como pôde alguém pensar isso?
Não acredito que nenhum governo da zona Euro fosse capaz de manter défices desnecessários durante anos para construir infraestruturas inúteis e claramente acima das capacidades de pagamento do seu país.
Nenhum governo do Euro seria capaz de durante anos assinar compromissos a pagar no futuro, desorçamentando as despesas e ocultando-as em contratos obscuros e empresas detidas pelo estado.
Até porque qualquer governo da zona euro saberá que as crises económicas acontecem e guardaria as suas possibilidades de endividamento para quando fosse realmente necessário.
Comportamento fiscal irresponsável na zona euro? Não, não acredito.
Tanto sábio por aqui e não perceberam nada do que foi escrito !!
O artigo do João Pinto e Castro é um exercício de ironia do princípio ao fim. Mostra aonde nos levarão a utopia dos mercados livres e a arquitectura financeira actual da UE se continuarem de forma consequente o seu caminho actual.
Mas a Sociedade existe, e sabe organizar-se para se defender. Se for a organização "Estado" a cumprir esta função, muito bem; se a não cumprir, arranjam-se outras organizações, porventura menos formais, mas seguramente mais eficazes.
Enquanto isto não acontece, seria aconselhável que as Marias Antonietas da banca e da economia "ortodoxa" começassem a pensar um pouco menos nos seus interesses económicos e um pouco mais no seu interesse vital, que é conservar a cabeça em cima dos ombros.
É fácil cortar as cabeças das Marias Antonietas. Depois cortam-se mais algumas cabeças, mesmo que não tenham nada a ver com o assunto. Depois um período em que nos habituamos a cortar cabeças, seja de quem for, sem perguntar porquê. E depois há sempre um generoso Napoleão desejoso de nos ajudar a repor alguma ordem e de se coroar a ele próprio com mais glória do que as Marias Antonietas.
Devemos ter cuidado com o que desejamos porque podemos consegui-lo.
The Debt-Deflation Theory of Great Depressions....a deflação foi por enquanto afastada
e a de 1891
foi diferente da de 29
e a de 91-93 foi regionalizada
e a actual deve-se a muito mais do que o endividamento do mundo ocidental
deve-se também a alterações no poder económico
que foram promovidas e financiadas pelo sistema financeiro
durante a década de 90 e até hoje
a deslocalização da pesada indústria poluidora europeia
foi ambientalmente um sucesso
mas financeiramente um desastre
para a europa claro
e o problema demográfico que os japoneses já tinham previsto desde os idos de 68 também entram na equação
Pois é, Carlos Albuquerque, o problema é que é demasiado fácil cortar as cabeças das Marias Antonietas. Fácil, e quase sempre irracional.
O meu ponto é que as situações insustentáveis acabam sempre, por definição, por encontrar uma solução ou um desenlace. E nada garante que este desenlace não seja tão mau ou pior do que a situação em si.
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