segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os activos de um balanço desequilibrado

Do Diário Económico pediram-me há dias uma resposta rápida a algumas interrogações sobre a crise. Como o texto não está disponível em acesso digital, aqui fica. Foi publicado em 9 de Junho.

Os activos de um balanço desequilibrado
Poucas coisas se afiguram positivas para encararmos o futuro com optimismo. O quadro político ensombrou-se, a governabilidade aparenta ser difícil, a reconstrução de um modelo sócio-económico ameaçado carece de consensos que não estão sequer formulados. Para agravar as coisas, só falta que os vencidos de domingo considerem, como narcisos, que a sua verdade é indiscutível porque a vêem nítida nos seus espelhos e que os vencedores se tomem por iluminados que prescindam do debate entre alternativas. Pior que tudo isto, é a sabedoria dos que proclamam que não há margem para nada – para o debate colectivo, para a inovação política, para a invenção social que fundou os melhores períodos que conhecemos da história.
Parece-me que há três planos da economia e da sociedade portuguesas que merecem a nossa atenção como activos de um balanço desequilibrado: o trabalho, o Estado e a Europa.
O trabalho porque somos uma das sociedades europeias em que a predisposição (ou a necessidade) para trabalhar é maior: mais de ¾ dos que estão em idade activa estão no mercado de trabalho, coisa rara lá por fora; o Estado, porque a estrutura administrativa – a que gera serviços públicos, a que lança novas bases – não é coisa de somenos nem “monstro” perverso, como alguns afiançam: a Europa, porque me parece que o mundo vai precisar mais de espaços de entendimento mútuo. E, dirão outros, as exportações? As PME? O investimento estrangeiro? E o conhecimento? Para isto é necessária a capacidade institucional e colectiva para agir e inovar. Os mecanismos parecem-me claros: qualificação do trabalho e pacto social baseado em valores de igualdade; estratégia política e pública para concertar a acção; uma União com audácia e capacidade para estruturar e governar em concreto um espaço de integração activo, em vez de um espaço sem rumo fascinado por modelos alheios e envelhecidos.

1 comentário:

Miguel Fabiana disse...

"British Airways pede aos colaboradores que trabalhem de graça"

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=373076


...e esta hein?!?!?


MF