quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ainda um espaço de solidariedade?

A Europa é tradicionalmente um espaço de solidariedade. Recordemos os programas para reduzir as disparidades socioeconómicas entre países e regiões da UE, para (re)qualificar a mão-de-obra, para as redes de transportes transeuropeias, etc.

Nas últimas décadas, a Europa poderia ter sido um instrumento de afirmação do modelo social europeu. Com a perda de poder dos Estados, a defesa de tal modelo teria de passar por entidades com poder para domesticar as forças do mercado à escala planetária: a UE é um gigante comercial e poderia jogar o seu peso na Organização Mundial do Comércio, etc., no sentido de impor mínimos sociais, ambientais e políticos nas transacções comerciais. A proposta de Paulo Rangel, para se adoptarem “taxas nas transações comerciais com países que não cumpram as regras ambientais e sociais dos 27”, poderia ser um passo nesse sentido, entre outros (alguma harmonização social e fiscal na UE, um orçamento comunitário mais substancial para corrigir assimetrias, etc.).

Porém, na senda dos ventos neoliberais, a Europa tem-se tornado uma espécie de Cavalo de Tróia da globalização neoliberal. E tem sido cada vez menos um espaço de solidariedade. Lembremos a tentativa falhada de pressionar para baixo as condições sociais: a directiva Bolkenstein. Ou a entrada de 10 novos estados, cujo rendimento per capita era metade da UE 15, acompanhada de uma contracção do orçamento comunitário. Privados da solidariedade que teve a Europa do Sul, para se afirmarem estes países tiveram de competir através da protecção social e da fiscalidade...

E a Turquia? Com um rendimento per capita que é cerca de metade dos novos 10, e com a UE sem fundos capazes de compensar tais desiquilibrios (o país tem 70-80 milhões de habitantes), só mesmo se for para aprofundar a lógica do Cavalo de Tróia…

Publicado originalmente no Diário de Notícias de 3/6/2009

4 comentários:

Luís disse...

Será q ainda nos podes valer da seriedade de A. Freire? Certamente q sim. A europa, um espaço de solidariedade devia ser efectivamente o nosso lema, o nosso mote, a perspectiva! Trocar os valores monetários por aqueles da ajuda ao outro. No fundo, trocar a economia da dívida insana e insustentável pela solidariedade e pela moral dos povos ---

http://www.nytimes.com/2009/06/04/business/economy/04rates.html ---.


A economia que nos trouxe até aqui vai ter q dar lugar a outra coisa qualquer. No plano do político temos que batalhar pelos estados europeus solidários, e no plano económico pelo planeamento mínimo de uma nova articulação produtiva do espaço europeu. A europa q se move pela dívida e pelos encontros do Conselho tem que dar lugar a outra coisa qualquer. Mas os Estados tb têm de se reformar; o português em primeiro lugaar --- O Tratado de Lisboa ou de Palermo para depois!

É um erro grave de certa esquerda querer fazer acelerar o comboio da europa, rumo ao federalismo, à dívida europeia, ao imposto europeu; qd ainda não se percebeu que o que é determinante não é a homogeneidade entre os países da europa, mas a sua diferença! O paradigma da homogenezeição (directórios, directivas, regulamentos...) terá de dar lugar a outro da diferenciação cultural e ao mesmo tempo económica. Sem dominação; um reequilibrio interpares, sem perda de autonomia!

Enfim, já me tá a bater o sol!

Luís disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís disse...

http://www.nytimes.com/2009/06/04

/business/economy/04rates.html

Miguel Fabiana disse...

Caros,

Isto é que é solidariedade: http://www.youtube.com/watch?v=JzkpX6CHrj8

O resto são mais-valias...

Toma e embrulha!
MF