terça-feira, 15 de julho de 2008
Os resultados da utopia dos mercados financeiros «livres» II
É claro que os neoliberais de blogoesfera podem continuar entretidos com as suas patuscas teorias monetárias e com as suas fantasias anarco-capitalistas. Para nós, à esquerda, até é melhor assim. Esquecem-se, claro, que a inflação não é, no actual contexto, um fenómeno monetário, que o problema da deflação dos activos, e sua interacção com a dívida, está aí e que a criação de moeda, em sentido amplo (o que interessa), num sistema capitalista com instituições financeiras sofisticadas, é também um processo endógeno à finança, relacionado com as operações dos bancos nas suas inovadoras actividades de concessão de crédito. Minsky, um dos melhores discípulos de Keynes, explica tudo isto. Talvez por isso é agora popular no Financial Times ou em algumas boas instituições académicas. Aliás, não é por acaso que os bancos centrais desistiram de seguir a evolução dos agregados monetários e muito menos de os controlar. O monetarismo, em sentido estrito, já foi enviado há algum tempo para um sítio onde está bem: o caixote do lixo das ideias testadas e falhadas.
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1 comentário:
Será preciso considerar que os Bancos Centrais e a panóplia de académicos e comentadroes que reiteram as suas ideias de força têm uma visão instrumental da economia.
À parte uma reflexão "pura e desinteressada" de como é que os mercados funcionam, vertida em páginas e páginas da mais pura teoria, a prática dominante guia-se por uma efectiva confiança de que a intervenção estatal (B. Centrais e e...) no fim da história conseguirá endireitar as coisas. Por isso o neoliberalismo é uma ordem construída, também nesta vertente.
O facto de que a FED deixou de publicar os números dos agregados monetários, pode à partida parecer uma inversão dos dados do problema. Primeiro, essa decisão deve ter tido de facto a ver com o crescimento explosivo do défice comercial americano: esconder os valores da massa monetária, os biliões de dólares que estavam a ser vertidos no mercado mundial. Depois, "não interessa de que cor é o gato, desde que apanhe ratos" (vide: controlo da inflação"). Resta dizer q a decisão não foi secundada pelo BCE que, esse sim, mais pretensamente ligado à ortodoxia monetarista, ainda pensa ter mão no problema.
É indisputável que a mais recente a subida dos preços não tem a sua causa em nenhum aumento anormal da oferta da massa monetária. Isso não quer dizer que estruturalmente, e medido pela sua tendência, a causa última da súbida dos preços não seja a criação contínua da massa monetária. Isto só pode ser apreendido por análise histórica, pela constatação que a inflação é um fenómeno do século XX e está estritamente ligado ao funcionamento dos mercados de crédito nas economias capitalistas.
Agora, que essa criação de moeda se dê por necessidades económicas reais ou, como já chegou a ser sustentado, por necessidade de uma valorização fictícia das mercadorias, é uma discussão que vou aqui saltar.
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