sexta-feira, 18 de julho de 2008

Num momento de crise e de elevados preços da gasolina, aumentam as vendas de automóveis. Conclusão: é preciso taxar os ricos

Segundo os dados do INE, entre Janeiro e Abril o valor das importações de mercadorias cresceu 13.7 % face a igual período do ano passado. Parece um paradoxo que as importações cresçam tanto num momento de crise económica, mas não é: uma boa parte desse crescimento é explicado pelo aumento dos preços do petróleo e dos bens alimentares, os quais se reflectem na factura que o país tem de pagar ao exterior.

Esta evolução dos preços internacionais, no entanto, não explica tudo. A julgar por esta notícia publicada no Diário Económico de ontem, os portugueses continuam a comprar carros novos como poucos povos na Europa. Ora, uma vez que a maior parte dos carros adquiridos em Portugal vem do exterior ( a moda de só comprar o que sai da Autoeuropa ainda não pegou...), o fascínio pelo carro novo continua a contribuir para o desequilíbrio das contas externas portuguesas.

Acontecendo isto num momento em que os preços dos combustíveis atingem máximos históricos, em que surgem sinais de um aumento da utilização dos transportes públicos como resposta à perda de poder de compra de grande parte dos automobilistas, e em que o nível das taxas de juro desencoraja as compras através de empréstimos, há motivos para acreditar que o crescimento das vendas automóveis é mais um sinal da grande assimetria na distribuição de rendimentos no nosso país. Não tenho dados sobre isto, mas não me admiraria que a quase totalidade do recente aumento das importações de automóveis em valor se ficasse a dever a carros de gama elevada.

No relatório preliminar que o FMI acabou de publicar sobre Portugal, sugere-se a introdução de uma contribuição semi-obrigatória dos trabalhadores para complementos de pensão, como forma de aumentar o nível de poupança e assim diminuir as necessidades de financiamento da economia portuguesa. Faço uma sugestão alternativa - aumentem-se as taxas sobre a importação de automóveis de gama alta - faz-se um favor ao ambiente, à justiça social e ao desequilíbrio externo da economia portuguesa.

18 comentários:

L. Rodrigues disse...

Seria interessante ver a composição por marca e modelo das subidas na venda de automóveis.
Frequentemente o lançamento de um modelo novo de Jaguar ou Porsche faz maravilhas pelas vendas das respectivas marcas no nosso país.

NC disse...

«Não tenho dados sobre isto, mas não me admiraria que a quase totalidade do recente aumento das importações de automóveis em valor se ficasse a dever a carros de gama elevada.»

Pois, mas não sabe. Já lhe vou dizer.

Entretanto, e se as vendas que mais contribuiram fossem devidas ás classes mais baixas? O que sugeriria? Só é problema se forem os ricos?

Tiago Moreira Ramalho disse...

Isto mete-me tanta raiva, sinceramente. Todas as soluções para o país passam necessariamente por taxar os ricos, ser rico é crime em Portugal. Essa medida não iria influenciar em nada a balança comercial, iria apenas ser uma nova fonte de financiamento do Estado. Os "ricos", os verdadeiramente ricos, já dão mais de metade do seu rendimento mensal ao Estado (42% de IRS mais 11% de Segurança Social), não chega? Que é que querem fazer mais para diminuir assimetrias?

NC disse...

Pronto! Podem ver os dados lá na minha xafarica.

http://caldeiradadeneutroes.blogspot.com/2008/07/robins-dos-bosques.html


Cumprimentos

Anónimo disse...

Tiago,

Desconte a raiva nos seus empregados e/ou serviçais.

Diogo disse...

Para sorrir:

Jon Stewart, do Daily Show, mostra-nos, com a sua habitual ironia, a ida dos três candidatos à presidência norte-americana à AIPAC (American Israeli Political Activity Committee), a principal representação dos interesses judaicos em Washington. Em suma, John McCain, Hillay Clinton e Barack Obama foram prestar tributo ao lóbi israelita:

Jon Stewart: O virtual candidato republicano John McCain, o virtual nomeado democrata Barack Obama e a PresidenteVirtual Hillay Clinton, foram à conferência da Comissão Israelo-Americana (AIPAC). A AIPAC é o principal grupo de pressão pró-Israel e para um candidato a Presidente é importante fazer uma visitinha e ligar-lhe de vez em quando. Obviamente estes três candidatos são vistos de forma muito diferente pela comunidade judaica. Mccain é visto como um guerreiro no qual se pode confiar. A Senadora Clinton é vista como uma figura política histórica. E Obama, não têm bem a certeza. O gajo é preto? Ou é árabe? Ou é o quê? Não sabem, não fazem ideia.

Barack Obama: Há muito que compreendo o desejo que Israel tem de paz e a necessidade que tem de segurança. Mas isso tornou-se óbvio durante as viagens de que o Lee falou há dois anos quando fui a Israel.

Jon Stewart: Ah, uma visita em pessoa? Um ponto para ele na coluna gimmel. Senadora Clinton?

Hillay Clinton: Desde a minha primeira visita a Israel em 1982, até à mais recente, vi em primeira-mão o que Israel conseguiu.

Jon Stewart (a imitar Hillary): ele (Barack) só lá esteve uma vez! Eu vou lá tanta vez que até tenho cartão de passageira frequente. O McCain vai ver-se à rasca para fazer melhor.

John McCain: Estive recentemente em Jerusalém com o senador Lieberman…

Jon Stewart: Ganhou senador. Mas, sabe, quando se vai a Israel não é preciso levar o nosso próprio judeu. Há lá uma grande variedade por onde escolher. Mas foi um bom toque. Tem um grande amigo que é judeu. Senadora Clinton?

Hillay Clinton: Estar aqui hoje faz-me recordar uma passagem de Isaías…

Jon Stewart: Ena! Ela conhece um judeu da Bíblia.. Conhece-o no sentido bíblico. Senador Obama, tem de matar o jogo…

Barack Obama: Conheci um conselheiro num campo de férias … que era um judeu americano mas tinha vivido em Israel durante uns tempos.

Jon Stewart: O melhor que arranjas é um judeu num campo de férias há 30 anos? Pior do que isso só dizer – “eh, pessoal, uma vez aluguei o filme Yentl”. Bom, mas uma coisa é verdade, grande parte da amizade por um país como Israel é fazer uma crítica construtiva às suas políticas que poderão não ser positivas para o mundo. Portanto vamos ouvir as críticas dos candidatos às actuais políticas de Israel.

Barack Obama: (silêncio).

Hillay Clinton: (silêncio).

John McCain: (silêncio).

Jon Stewart: Ora, esqueci-me. Não se pode dizer nada de crítico sobre Israel quando se quer chegar a Presidente. O que é engraçado, porque, sabem onde é que se pode criticar Israel? Em Israel.


Vídeo legendado em português (5:24 m):

Ricardo Paes Mamede disse...

Caro Tarzan,
aparentemente acabou com o meu argumento em 3 tempos. Obrigado pelo empenho, vou continuar a acompanhar o assunto.

Miguel Madeira disse...

«Os "ricos", os verdadeiramente ricos, já dão mais de metade do seu rendimento mensal ao Estado (42% de IRS mais 11% de Segurança Social)»

Os ricos não pagam 42% do seu rendimento de IRS (só o pagariam se o seu rendimento tendesse para infinito): os 42% são uma taxa marginal - apenas o rendimento acima de dado valor e taxado a 42%.

RAF disse...

No dia em que acabarem com os ricos em Portugal, ou antes, com a riqueza, ai vão ficar milhões de portugueses à cabeçada para saber quem fica com a bolacha e as suas migalhas.

Há, contudo, alguma ignorância sobre a forma como se gera em Portugal a receita fiscal.Portugal é o país da Europa que, em percentagem do PIB, mais depende do imposto automóvel; e é, também, dos que mais receita gera na utilização dos combustíveis.

Ainda bem que os ricos desatam a comprar carros: imaginem que optavam, antes, por poupar, e colocavam os seus recursos em obrigações isentas, obtinham mais-valias isentas nas acções, dividendos ou juros sujeitos a taxas de 20%,ou pior, enfiavam tudo num offshore ou na Suiça e investiam nas bolsas de países emergentes, em hedge funds ou fundos de private equity no exterior, ou torravam tudo no casinho e em gajas, daquelas que não pagam impostos: lá se ia a receita fiscal. Comprem, comprem mas é carrinhos, e de preferência de alta cilindrada, que são os mais penalizados pela tributação...

F. Penim Redondo disse...

Notícias do mundo real:

1. Os realmente ricos não compram automóveis, usam os das suas empresas que foram comprados sem IVA e cuja amortização reduz os lucros que são taxados

2. Os realmente ricos não podem ser mais taxados pois têm os rendimetos e propriedades nos paraísos fiscais

3. A fúria contra os riscos redunda assim numa maior espoliação dos "remediados", os ricos "pexisbeque" que vivem de empréstimos da banca, os tais que pagam todas as loucuras e incompetências do nosso país.

altc disse...

"1. Os realmente ricos não compram automóveis, usam os das suas empresas que foram comprados sem IVA e cuja amortização reduz os lucros que são taxados"

Exactamente é só ricos a passear em veículos de mercadorias e camiões (os únicos cujo IVA é dedutível).
Isto para não falar de ricalhaços a passear de autênticas bombas com valor inferior a 30000€ (valor máximo amortizável).

Enfim, notícias do mundo bem real das mesas de café e dos bancos dos táxis...

Tiago Moreira Ramalho disse...

Bem uma resposta ao Anónimo:

Eu não tenho empregados nem serviçais, infelizmente. Sou estudante e menor, logo, ainda não tenho nada disso, asseguro-lhe.

Em resposta ao Miguel Madeira, quando eu me referi a ""ricos", verdadeiramente ricos" estava, obviamente, a referir-me àqueles cujo rendimento lhes permite uma confortável posição no último escalão do IRS, mas posso também dizer que aqueles que sendo ricos são mais pobrezinhos e ainda não chegaram a tal luxo, também descontam mais de metade (40% para o IRS e 11% para a Seg. Social), como pode haver mal entendidos, estou a referir-me aos ricos, mesmo ricos, que se situam no penúltimo escalão.

F. Penim Redondo disse...

ah ! ah ! ah! A resposta do altc é uma anedota que não vale a pena comentar...

altc disse...

"ah ! ah ! ah! A resposta do altc é uma anedota que não vale a pena comentar..."

Conte-me lá então a anedota, deve andar por aqui:

1 - Artº21 nº1 al. a) do Código do IVA

2 - Artº33 nº1 al. e) do Código do IRC

Anónimo disse...

"Que é que querem fazer mais para diminuir assimetrias?"

Tirem aos ricos para dar aos pobres = taxem mais quem tem mais rendimentos e com isso subam os ordenados/pensões dos mais pobres.

Resultado: Existiriam mais pessoas a investir/comprar ou a poupar ... não é isso que realmente se pretende ?

O que é melhor para a economia, 1 rico a comprar um jaguar por 40000 eur ... ou 40 não ricos a gastar 1000 eur em vários produtos assegurando a venda em diversidade (= aumento de vendas em vários sectores de actividade) ?

Coisas da distribuição equalitária do rendimento ... pois é ...

Agora devemos ter pena dos ricos ... LOL

Tiago Moreira Ramalho disse...

entao croky, diga lá quanto mais é que se deve taxar? deve se taxar ate que todos tenhamos o mesmo rendimento? É que isto tem que ter um limite. Para melhorar o saldo orçamental trata se de taxar os ricos. Para dimunuir as assimetrias, em vez de se agir na parte dos pobres com politicas sociais decentes, age-se na parte dos ricos para lhes tirar. Eu acho isto da redistribuição dos rendimentos muito bonito, mas tem de haver um limite. Na URSS haviam carros, casas e ordenados todos iguais... é isso que querem? Tudo bem... Eu, da minha parte não quero isso num país que se diz liberal economicamente. Não tou a dizer que os ricos são coitadinhos, acho é que não devem ser os únicos responsabilizados... Nunca percebi isto, em Portugal parece que ser rico é crime, parece que os ricos são os papões, são as bruxas da idade média. Eu não sou rico, asseguro-lhe, mas se fosse não gostava de ser tratado como o culpado de todos os males sempre que um sindicalista burro vem a televisão falar...

Miguel Madeira disse...

"Em resposta ao Miguel Madeira, quando eu me referi a ""ricos", verdadeiramente ricos" estava, obviamente, a referir-me àqueles cujo rendimento lhes permite uma confortável posição no último escalão do IRS"

Ninguém paga 42% de IRS - mesmo que ganhe 30 biliões de euros por mês (é verdade que, à medida que o rendimento tende para infinito, a taxa de IRS tende para 42%, mas nunca lá chega)

"mas posso também dizer que aqueles que sendo ricos são mais pobrezinhos e ainda não chegaram a tal luxo, também descontam mais de metade (40% para o IRS e 11% para a Seg. Social), como pode haver mal entendidos, estou a referir-me aos ricos, mesmo ricos, que se situam no penúltimo escalão."

Os contribuintes do penúltimo escalão NÃO PAGAM 40% de IRS sobre o seu rendimento.

Dá-me a impressão que o Tiago Moreira Ramalho está algo confundido acerca do funcionamento dos escalões do IRS - o facto da taxa do ultimo escalão ser de 42% (ou a do penultimo 40%) não significa que os contribuintes do último escalão (ou do penúltimo) pagam uma taxa de 42% (ou de 40%); significam que pagam um taxa de 42% (ou de 40%) sobre a parcela do seu rendimento que excede o limite do último escalão (ou do penúltimo).

Miguel Madeira disse...

"Na URSS haviam carros, casas e ordenados todos iguais..."

Na URSS as diferenças salariais eram ligeiramente maiores que na Europa ocidental.