terça-feira, 1 de julho de 2008

Compromisso Portugal namorisca o PS

Num artigo publicado na última edição do Expresso (28/6/2008), intitulado "O estado da governação em 2008", três dos mais proeminentes ideólogos do "Compromisso Portugal" fazem uma análise da governação PS, fazendo um balanço entre os objectivos do governo (em 2005) e os resultados da governação entre 2005 e 2008 (mais expectativas para 2009).

Por entre uma análise globalmente benevolente, sobressaem sobretudo duas críticas. Primeiro, "mais sério é o facto de o grande objectivo de aumentar para 3% até 2009 o potencial de crescimento da economia portuguesa e retomar a convergência com as economias da União Europeia não ter sido alcançado nem parecer em vias de o ser." E, segundo, discorrem também sobre a falta de "progressos assinaláveis no que diz respeito ao reforço da coesão social e à diminuição da pobreza."

E como se conseguiriam atingir esses objectivos falhados? Com (muito) mais neoliberalismo, claro, explica a guarda avançada do Think Tank dos patrões ultraliberais: "Temos aqui de evitar o logro daqueles que querem fazer crer que as nossas dificuldades advêm de supostas reformas «liberais». É precisamente o inverso."

E depois perguntam, na sua abordagem cândida e aparentemente cientifica da realidade: "Perguntar-se-á se haveria, em termos de opinião pública, margem para um programa de reformas mais ambicioso?" Depois discorrem sobre a contestação social dos "grupos de pressão" e de "certos sindicatos da função pública próximos de um dos partidos da oposição." E concluem positivamente pela existência de apoio eleitoral a mais reformas no sentido neoliberal: "No entanto, essa contestação não se reflectiu excessivamente nas sondagens de opinião relativas à intenção de voto em eleições legislativas."

Bom, mas é precisamente aqui que a porca torce o rabo e se revela em toda a linha a sua análise enviesada das tendências na opinião pública.

Primeiro, vários estudos académicos têm relevado ao longo do tempo uma clara preferência da população portuguesa por uma significativa protecção social, mesmo que isso implique aumento de impostos, e por uma forte presença do Estado nos serviços públicos, nomeadamente nas áreas da saúde e da educação (é, por exemplo, o que revela, mais uma vez, o último inquérito pós eleitoral dirigido por mim e outros colegas, no âmbito de um projecto de investigação do ICS-UL, a seguir às legislativas de 2005).

Segundo, se alguma coisa as sondagens têm relevado, pelo menos desde finais de 2007 a esta parte, é que há uma significativa erosão das intenções de voto no PS, erosão essa que tem reforçado sobretudo os partidos à esquerda do PS (BE e PCP/CDU) e pouco, ou mesmo nada, os partidos à sua direita. Por exemplo, o último barómetro da Marktest para o Diário de Notícias, referente a Junho de 2008, revela o PS com 35,2% (um resultado semelhante ao que tem conhecido desde Janeiro de 2008 nos inquéritos deste instituto), contra cerca de 45% em 2005, o PSD com 30,8%, o CDS com 6,7% e, finalmente, as duas forças mais à esquerda somando 23,4% (BE: 12,3%; PCP/CDU: 11,1%). Embora se trate apenas de uma sondagem, refira-se que ela é de um instituto absolutamente credível e, além disso, os resultados são semelhantes a outros resultados recentes da Marktest e, também, de várias outras sondagens de outros institutos credíveis (nomeadamente do CESOP-UCP).

Em qualquer caso, é preciso muito desejo de mais liberalismo para ver aqui apoio dos eleitores portugueses a mais reformas no sentido neoliberal. Mas, enfim, a análise rigorosa e empiricamente ancorada não é propriamente apanágio destes senhores.

Concluímos que, primeiro, o Compromisso Portugal já adoptou a estratégia por vezes seguida pelo PS (e certos spin doctors) de designar toda a contestação social como estando circunscrita aos "privilegiados da função pública", ainda por cima controlados pelos comunistas: «a contestação social dos "grupos de pressão" e de "certos sindicatos da função pública próximos de um dos partidos da oposição."» O único problema desta interpretação da realidade é que os dados das sondagens simplesmente não a validam: o BE e o PCP/CDU não tiveram 23% dos votos em 2005, pois não?

Segundo, Marinho Pinto dizia há uns tempos ao Expresso que o PS ainda iria pagar caro o "concubinato" com José Miguel Júdice - cito de memória. Ora eu pergunto se este piscar de olhos (e estes conselhos totalmente desfasados da realidade) do "Compromisso Portugal" ao PS, caso viessem a ser efectivamente correspondidos por este partido, não poderiam também trazer-lhe uma factura elevada em 2009?

É caso para dizer: com amigos assim, quem precisa de inimigos?

2 comentários:

Anónimo disse...

É a primeira vez que entro no seu blogue por link de outro e quero comentar o seguinte:

- O PS, é o partido que continua à frente nas intenções de voto! Concorda?

- As manifestações publicas de desagrado às medidas governativas, são organizadas e participadas esmagadoramente por funcionários públicos e corporações adjacentes ! Concorda ?

- Alguns, muitos, jornalistas têm feito campanha cerrada contra o PM , Porque também eles foram objecto de justiça social, através da "correcção" do seu sistema privado de segurança social! Concorda?

- No próximo comentário, (a haver)explicar-lhe-ei (aquilo que não necessita):

A maioria (intenção de voto) que o PS mantém, não advém de eleitores burros , advém de eleitores saturados de serem "burro de carga" ...

Continua.

Bem Haja,

Fersal

Pedro Sá disse...

Lamento, mas o André nunca verá concretizado o seu sonho de Frente Popular.

Aliás, antes fazer coligações com o CDS do que com o BE.