domingo, 22 de junho de 2008

A lição alemã


Crise financeira internacional, inflação global, apreciação do euro, redução das exportações, declínio do excedente externo. Estes são indicadores do que, provavelmente, seria uma economia alemã deprimida. Porém, com um crescimento de 1,5% no primeiro trimestre de 2008, correspondente a uma taxa de crescimento anual de 2,6%, esta economia escapa à crise internacional.

Como explicar o "oásis"? Graças a um movimento sindical particularmente combativo durante 2007, apoiado politicamente por um Partido da Esquerda (Die Linke) em ascensão, o governo (sobretudo pelo SPD, parceiro minoritário da "grande coligação") foi obrigado a abandonar a política de austeridade salarial que imperou na maior economia europeia nos últimos dez anos. Mesmo com os avisos e ameaças do BCE, os salários dos trabalhadores alemães, quer no sector público, quer no sector privado, cresceram consideravelmente. Dois exemplos simbólicos: os trabalhadores ferroviários conseguiram um aumento de 10% até 2010, enquanto os trabalhadores dos correios impuseram um salário mínimo de 10 euros horários, o dobro do particado em outras empresas postais privadas.

A Alemanha abandona assim a exclusiva aposta na competitividade externa, da qual só algumas grandes empresas beneficiaram. O resultado é uma notável recuperação do consumo e do investimento que contrabalançam a conjuntura internacional adversa. Uma lição para o resto da Europa. A necessidade de mecanismos de coordenação salarial ao nível europeu sai daqui reforçada.

3 comentários:

josé manuel faria disse...

A esquerda tem de unir-se no País.

Anónimo disse...

Organização, competência, determinação - e ainda há quem chame a isto "milagre". Exactamente o contrário do que se passa por cá: a desorganização, a incompetência e a balda.
Nunca trabalhei na Alemanha, mas já trabalhei na Suíça. Até dá gosto ver o esforço e a competência reconhecidos, apreciados e premiados. Os portugueses queixam-se de quê, aqui na república das "cunhas"? Não é assim que acham que deve ser?

Anónimo disse...

Não me parece que as coisas estejam tão bem assim na Alemanha. Estou pouco informado, mas, para dar uma ideia, são já 7 milhões o número de pobres nesse país. Há a este propósito um blog bem interessante de uma francesa na Alemanha: http://allemagne-et-plus.a18t.net/