Entre o mercado municipal da minha terra, que muito aprecio e que não gostaria de ver destruído pela concorrência das grandes superfícies, e outros mercados, igualmente existentes, as diferenças de qualidade são evidentes. Na realidade, no mundo em que vivemos há mercados que são repugnantes; tão repugnantes do ponto de vista moral aos olhos de uma esmagadora maioria que o Estado os proíbe. Estou a pensar no mercado de seres humanos ou de órgãos humanos, por exemplo. Existem ainda outros que são pelo menos contestados e muitas vezes igualmente ilegais: os mercados de sexo ou de narcóticos, por exemplo.
O que há de comum entre o mercado municipal da minha terra e os mercados repugnantes que referi como exemplo? Em todos eles há um bem (ou bens) a que se pode aceder através de um pagamento em dinheiro. Tudo o resto são diferenças.
Serve isto para dar mais um passo. A existência de um mercado particular depende de um entendimento (de natureza moral) acerca do bem cuja transformação em objecto de comércio se contempla. Este entendimento é sempre sancionado pelo Estado, quer quando o permite, quer quando o proíbe. Em ambos os casos o Estado está presente. No primeiro, a proteger os direitos de propriedade do detentor do bem e a zelar pelo cumprimento dos termos contratuais da transacção, no segundo, a procurar impedir que a transacção tenha lugar. Mercado e Estado talvez comecem já a surgir embutidos um no outro. Mas a história continua.
3 comentários:
Excelente (série de) post(s). Até agora subscrevo e recomendo.
Do que eu vejo na literatura ou na nossa blogosfera, para liberalismo mais radical existe apenas O Mercado.
Nele, se uma pessoa quiser trocar um rim seu por uma propriedade tem toda a legitimidade. E da mesma forma, poderia ir ao mercado municipal e trocar favores sexuais por peixe fresco.
A segmentação é artificial, e consequência da acção do estado. Um liberal que me corrija...
De facto o liberalismo levado ao extremo é mesmo assim, salvaguardado que a liberdade de uns não interfere sobre a liberdade de outros (o que já dá pano para mangas). Tudo de livre vontade e de mútuo acordo.
Tudo o resto será moralismo. O Estado a impôr os valores de quem o dirige. E para um liberal o Estado não tem nada que se armar em papá.
Não o corrigi, só o complementei.
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