sexta-feira, 27 de junho de 2008

Acrescentar pontos II

No quadro de uma economia anémica em desaceleração e com os efeitos da crise financeira ainda a fazerem-se sentir, o BCE prepara-se para subir uma vez mais as taxas de juro. A sua ortodoxia monetarista só está ao nível da sua complacência com a especulação financeira que desestabiliza as economias. Não esqueçamos que, como afirmou Andrew Watt, da rede europeia do trabalho para a política económica, «tanto em 1999-2000 como agora, o crescimento europeu terminou não devido à rigidez do mercado de trabalho, mas sim devido à correcção das bolhas especulativas nos mercados financeiros» (Financial Times, 13/05/2008). O argumento do BCE para aumentar a taxa de juro parece ser forte: o combate à inflação. No entanto, a evolução da taxa de inflação, fruto da subida internacional do preço das matérias e não de qualquer desenvolvimento interno à zona euro, apresenta-se apenas ligeiramente acima do muito conservador limite de 2% do BCE. Segundo este excelente relatório, não se prevê que suba muito mais devido ao abrandamento da actividade económica à escala global.

Os riscos prioritários são outros. No entanto, e como o Nuno Teles já aqui argumentou, a política do BCE prepara-se para acrescentar crise à crise. Trata-se de promover a contracção da procura, ou seja, de promover o desemprego para conter supostas pressões salariais. Os trabalhadores mais vulneráveis serão sacrificados. Perante esta tragédia, que inclui poderosos incentivos à perda de competitividade das empresas industriais europeias e à sua deslocalização para fora da zona euro, por via da valorização do euro, acho espantoso que se continue a defender que as soluções para o desemprego europeu passam por um «aligeiramento da regras» dos mercados de trabalho, ou seja, por uma alteração da regras por forma a que sejam os trabalhadores a suportar os fardos de todos os ajustamentos económicos. Isto quando as revisões dos estudos empíricos existentes e a própria OCDE indicam que a criação de emprego não passa necessariamente por aqui. E a criação de emprego de qualidade muito menos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Joao, acho que podias fazer um post sobre, os verdadeiros custos da inflacao... Mais, um post que ilustre que nao haa um uunico estudo empiirico seerio que demonstre que inflacao abaixo de 40-60% ee um problema para o crescimento econoomico...

Tudo o mais sao, mecanismos de distribuicao da riqueza de aforradores para devedores... ou efeitos na taxa de cambio real efectiva, se existirem...

Abracos
Joao Farinha