A eficácia da estratégia reformista parece atestada pela história. Por isso, alguns dos que se reclamam como herdeiros dessa tradição prosseguem-na. Só que, desgraçadamente, agora os fins são outros. Isto é muito bem ilustrado num excelente artigo de Cipriano Justo, médico e renovador comunista, que saiu hoje no Público. A aposta consiste na criação de «um sistema de saúde a duas velocidades: o SNS a desacelerar e o sector privado hospitalar em franco crescimento. Financeiramente, esta desigualdade é dada pelo crescimentos de 20 por cento na despesa do SNS nos últimos cinco anos e pelo aumento de 42 por cento na despesa com cuidados no sector privado, no mesmo período. Significando que muita produção deixou de ser realizada no sector público para ser adquirida ao sector privado com o dinheiro do orçamento do SNS».
Dar músculo ao sector privado e assim consolidar o «mercado» da saúde eis a aposta de Correia de Campos. Impedir que esta estratégia seja bem sucedida eis uma aposta para todos os que acham que a saúde não pode ser um negócio.
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7 comentários:
E há quem ache que a água não devia molhar...
Ou que o Azul devia ser verde e por aí fora.
O SNS é um negócio, os intervenientes têm incentivos diferentes, mas é um negócio.
No dia em que os prestadores de saúde deixarem de cobrar para trabalhar deixará de ser um negócio.
Até lá a questão é como é que o negócio é feito.
Na passada sexta feira passei horas à procura de uma farmácia que tivesse um antibiótico ao qual o simpático médico não permitiu a sua subsitituição. Pensei...ainda bem que não vivemos numa sociedade neo-liberal onde as fármacias podem abrir onde quiserem e às horas que quisere. Numa sociedade liberal neo-liberal onde o médico escolhe o princípio activo e expediente e não a marca do medicamento.
Enquanto eu pensava nisso o médico em causa devia sonhar com a próxima "formação" ou "congresso" na polinésia pago pela marca do dito antibiótico.
Nada tenho contra os médicos. Eles apenas vivem dentro de um sistema de incentivos corporativo dentro de um estado social. Mas o problema é o neo-liberalismo. Se um médico comunista o diz é porque deve ser.
RGF,
Num sistema liberal em que cada um é movido pelos seus motivos egoistas, o que o leva a crer que o médico não lhe prescreveria a mesma marca? Afinal, ele tem a ganhar uma viagem à polnésia...
A alternativa é procurar outro médico, o que pode fazer hoje, neste sistema (mesmo não sendo economicamente sensato porque cada consulta paga-se).
Dir-se-ia que há regulação a menos e não a mais... Mas se um neo-liberal diz que a culpa é do estado social, é porque deve ser..
"Num sistema liberal em que cada um é movido pelos seus motivos egoistas, o que o leva a crer que o médico não lhe prescreveria a mesma marca? Afinal, ele tem a ganhar uma viagem à polnésia..."
Sistema coporativo dá poder de mercado artificial aos médicos:
1. Porque garante a excassez da ofreta dificultando ao máximo o acesso à profissão
2. Porque obriga ao conluio
O estado social português garante o poder à corporação via legislação e sendo o seu maior cliente, alinhando a procura com a oferta cartelizada.
Que todos se movem de acordo com incentivos não tem a ver com o sistema social em que vivemos. PAra a infelicidade de um colectivista como deve ser o caro I. Rodrigues.
Se houvesse de facto concorrência entre médicos...talvez estivessem mais preocupados com a bolsa dos seus clientes e menos com as idas pagas ao congresso. Digamos que correndo o risco de ficarem com o consultório vazio tinham muitos incentivos (dos egoistas se quiser) para se preocuparem se o cliente iria passar a noite à procura do medicamento ou se alteravam a subsitituição.
É sempre bom ver malta colectivista de esquerda a defenderem os sistemas colectivistas associados à direita como o corporativismo. Colectivismo é colectivismo o que muda são as palavras de ordem para alcançar o poder.
caro RGF,
Tem conhecimento de algum pais do mundo que tenha resolvido o problema que identifica com a solução que preconiza?
Caro I. Rodrigues,
Não vejo as coisas a preto e branco. De preto não tem de ser passado para branco ou vice versa.
As corporações da saúde e da justiça têm demasiado poder. Pela Europa fora tambem, embora menos.
Em relação aos genéricos veja como funcionam os países escandinavos.
Em relação à limitação de vagas e de existência de faculdades de medecina em geral acho (não tenho a certeza que sejamos) que somos caso único.
A nossa Ordem dos médicos é conehcida por dificultar ao máximo o acesso à profissão por quem não tenha estudado em Portugal, em uma das poucas vagas que existem.
Existem muitas pequenas "features" das corporações da saúde que tÊm como única função o controle ao acesso à profissão e logo à oferta total. Isto não é novidade, é uma herança especialmente forte do Estado Novo e não tem comparação por essa Europa fora.
Entenda, sou a favor da existÊncia de uma rede social paga pelo estado com os impsotos de todos. Nessa rede social incului-se a saúde. Como eu, pensam todos ou quase todos os participantes em blogs como o Small brother ou o Insurgente.
Caro R.G.F
A minha única questão, no fundo, é como evitar (se não pelos mecanismos de regulação do estado) a cartelização de sectores que, pela sua natureza, neste caso posse de conhecimento especializado, tendem para tal.
Pelo que tenho acompanhado do debate do serviço de saúde americano, a classe médica (provavelmente com recurso a outro tipo de influência) mantém um pulso forte garantindo que os seus rendimentos e status não são postos em causa.
No caso americano, tanto quanto percebo, isto passa-se ao nivel dos especialistas já que os clínicos gerais, de uma forma geral ficam de fora do cartel.
Isto para dar o exemplo de uma mercado presumivelmente mais livre do que o nosso.
Caro I. Rodrigues,
Não me vai ver a defender o sistema de saúde dos EUA. Sabe que é o sistema mais caro per capita do mundo? Sabe que é o sistema onde o financiamento público per capita é mais alto do que no Reino Unido onde a saúde é 100% pública?
O campo da saúde é muito sensível e é fácil de ser usado como arma de arremesso. Os problemas são fáceis de perceber independentemente das suas causas o serem ou não.
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