
Infelizmente este excelente artigo de Pierre Khalfa mostra que este novo tratado mantém, no essencial, os arranjos em que tem assentado o desgraçado governo económico da Europa. Assim, «as razões de fundo para rejeitar o TCE permanecem para este tratado. Marcado de ponta a ponta pelo neoliberalismo, tanto nos princípios que promove como nas políticas que louva, este tratado situa-se no prolongamento dos de Maastricht e de Amesterdão. A União Europeia será um espaço privilegiado de promoção das políticas neoliberais». Princípio do mercado interno alargado a esferas crescentes da vida em sociedade, liberdade de circulação de capitais sem qualquer garantia de harmonização fiscal, estabilidade de preços elevada a princípio único da política económica a ser mantido por um dos bancos centrais mais anti-democráticos do mundo, reafirmação do moribundo e irracional pacto de estabilidade. E podíamos continuar. É verdade que existe a carta dos direitos fundamentais e que esta vai ser alardeada como uma grande conquista. Grande coisa. Um conjunto de declarações de intenção vagas e muito recuadas que não criam um «direito social europeu susceptível de reequilibrar o direito da concorrência, que continuará dominante à escala europeia».
Enfim, vai continuar tudo na mesma o que significa que o paradoxo europeu não vai cessar de se acentuar: uma União com condições para se dotar de instrumentos valiosos para regular a globalização neoliberal vai continuar a constituir-se, na realidade, como elemento da sua expansão.
1 comentário:
A Europa é que decide tudo, e os europeus não decidem nada.
Alguma vez estas leis todas saíam da cabecinha do Sócrates? Claro que não. As leis portuguesas são pura e simplesmente adaptações das directivas europeias.
É a UE que manda em Portugal.
Isso não me chocaria, se as instituições europeias funcionassem democraticamente. Quem é que elege os comissários?
As únicas eleições europeias são para o parlamento. O problema é que essas eleições são ignoradas e os partidos não fazem nada para mudar isso (nas últimas europeias a mensagem do PS era "mostrar um cartão amarelo ao governo"... a do PSD era "Força Portugal!"...).
Quem é que votou para entrarmos na UE? Quem é que votou para entrarmos na moeda única? Quem é que vai votar nesta nova constituição?
Uma europa unida é essencial. Nesse aspecto eu sou quase federalista. Mas a Europa tem de funcionar democraticamente, e não pode haver países beneficiados.
Não sei quem é que teve a brilhane ideia de abrir completamente as fronteiras económicas à China, que usa trabalho escravo... É suposto competirmos com escravos? O trabalho terá de se flexibilizar a esse ponto, para competirmos "globalmente"? Alguém votou para que essas leis fossem aprovadas?
Este tratado é limitativo politicamente. Como dizia o texto, é "Marcado de ponta a ponta pelo neoliberalismo". A partir do momento em que a Europa aponta um caminho como inevitável, e oficializa constitucionalmente esse caminho, torna-se totalitária. Porque tornar um caminho inevitável é isso mesmo: impossibilitar que seja evitado pelo voto dos cidadãos.
Ainda estamos a tempo de remediar. Rejeitar este tratado em referendo é só o primeiro passo.
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