Perry Anderson, historiador, é certamente um dos maiores intelectuais vivos. O seu percurso e produção intelectuais são notáveis. Fundador da New Left Review, Perry Anderson escreveu sobre os mais diversos temas, desde a transição da Antiguidade ao Feudalismo (Passagens da Antiguidade ao Feudalismo) à história do pensamento marxista no século XX (Considerações sobre o Marxismo Ocidental). Ultimamente, o seu trabalho oscila entre a história intelectual de grandes pensadores do século XX - ver este livro, onde os grandes ideólogos da ultra-direita (Hayek, Oakeshot, etc) são escrutinados - e a reflexão política geograficamente localizada - boas análises de países tão diversos como a França ou Taiwan na London Review of Books. Para o conhecer melhor, vejam esta bela entrevista.
O seu último (longo) trabalho, publicado na LBR, é uma reflexão original, culta e lúcida sobre a União Europeia. Opondo-se à visão idealista da integração europeia, onde esta é parece ser sinónimo de qualidade de vida, sustentabilidade e direitos humanos, Perry Anderson é implacável na sua avaliação política.
Os três grandes marcos das últimas décadas (reunificação alemã, união monetária e expansão ao leste europeu) são desmontados e entendidos ou como falhanços, ou como futuros bloqueios à integração e democratização políticas. Em seguida, o autor analisa o quadro institucional europeu para explicar como as democracias europeias ficaram politicamente esvaziadas com a transferência dos seus instrumentos de política económica para o Banco Central Europeu ou para a tecnocracia de Bruxelas. A Comissão Europeia é mesmo comparada ao ideal, defendido por Hayek, de uma estrutura constitucional supra-nacional tão distante dos cidadãos que impeça a efectiva soberania destes. Finalmente, Anderson defende, eloquentemente, como a U.E. está longe de conseguir uma política externa independente dos E.U.A., seja no Iraque ou no conflito israelo-árabe.
Um texto obrigatório, que merece ser amplamente discutido, da esquerda à direita.
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