quarta-feira, 27 de setembro de 2023

O desemprego nunca é natural


Esta manchete do Público de ontem torna visível como a hegemonia neoliberal perdura. Infelizmente, aceita-se aí o conceito de “taxa natural de desemprego”, originalmente forjado por Milton Friedman. É preciso lembrar que pleno emprego é quando quem quer trabalhar tem emprego. Estamos longe do pleno emprego e logo do mais baixo que é desejável e possível.

Nada é natural em economia e muito menos a ideologia com impacto na política económica. Esta taxa arbitrária destina-se precisamente a naturalizar uma suposta impotência de uma política económica orientada para o pleno emprego e a esconder o programa ineficiente e injusto: é preciso usar o desemprego para manter os trabalhadores sem veleidades reivindicativas para também assim estabilizar os preços. Isto é parte de uma opção de política, com óbvia declinação de classe, dominante a partir de 1979, aquando do brutal aumento nas taxas de juro decidido por Paul Volcker da Reserva Federal dos EUA. 

Convém mesmo tornar invisíveis as várias formas de austeridade, da orçamental à monetária, e o seu impacto negativo no que é decisivo: a procura e o emprego. Portugal já teve taxas de desemprego mais baixas e os direitos laborais eram superiores ao actuais, vejam lá. E, sim, há um antes e um depois do euro, que também não é natural, nestas e noutras matérias. 

Naturalizar é uma forma de se tentar despolitizar. E isto é uma forma intensamente ideológica de se fazer política económica, de resto naturalmente favorável a uma redistribuição do trabalho para o capital.

4 comentários:

Anónimo disse...

Quando a esquerda abandonou a exigência do pleno emprego e do salário mínimo que permite a vida confortável deixou de ser esquerda.

Anónimo disse...

Alguém acredita na dignidade sem o pleno emprego?

Anónimo disse...

Quem acredita que o desemprego é natural também não acredita na democracia.

JM disse...

Anónimo das 18:56
A esquerda que sempre foi, continua a ser e, certamente, será, sempre defendeu o pleno emprego e um salário mínimo que permita uma vida confortável e, já agora, digna. Como, aliás, se pode ver pelas propostas que estão em cima da mesa.