O que está em jogo é também a capacidade inesgotável por parte das elites do país de fingir a indignação a fim de criar mais espaço para restabelecer os seus interesses e manter os seus privilégios intactos. Por isso, o problema do Brasil não é este conflito particular, antes o fracasso em lidar com os conflitos reais. Estes incluem o processo incompleto de abolição da escravatura, a desigualdade económica abissal e o apartheid racial e social que são debates inexistentes. Os governos de Lula e Dilma optaram por acomodar-se a estas estruturas históricas em vez de as enfrentar decididamente.
Eliane, Brum, jornalista brasileira
O juiz, ou Super Moro como é chamado pelos brasileiros, reacendeu as chamas de uma antiga tradição brasileira: o linchamento. Em vez de justiça, sempre mais lenta do que os pregadores do ódio gostariam, ele deu às pessoas que clamavam por sangue o que elas queriam. Mesmo sendo um linchamento moral, a imagem simbólica produziu resultados muito concretos, como as manifestações mostram.
Eliane Brum
Este não é apenas um momento de brutalidade extrema no Brasil. É também um momento de potências emergindo. E começos de alianças até então impensáveis. É preciso perceber onde estão as possibilidades - e fazer frente àqueles que, diante da democracia corrompida do país, avançam sobre os corpos humanos.
Eliane Brum
O perigo real aqui é o retorno duradouro a um estado oligárquico como o do Brasil no século XIX, no qual as rendas de uma economia de exportação relativamente estagnada eram distribuídas entre umas poucas famílias poderosas, enquanto a grande maioria era deixada de fora. Na versão contemporânea, em vez da escravidão, uma massa de desempregados sobrevive nas favelas à mercê de um estado policial repressivo. O patrocínio e o uso de empresas estatais para ganho pessoal aumentariam, e a justiça e os media teriam desempenhado o seu papel permitindo que organizações ilegais penetrassem no estado. O brasil tornar-se-ia mais um narco-estado no qual os cartéis da droga teriam um papel menor do que na Colômbia ou no México, mas onde uma extorsão similar seria obscurecida por uma fachada de legalidade sob as instituições oficiais. Seria a mexicanização do Brasil e a entronização do que tem sido descrito como a "ditadura perfeita".
Matías Vernengo, economista argentino
15 comentários:
Vernengo é um otimista. Parece desconhecer os aviões com 500 kg de cocaína que teimam em pousar em fazendas de senadores brasileiros envolvidos no golpe.
Bem, o PT rapidamente se acomodou de facto a estruturas existentes, tanto que desenvolveu comportamentos em tudo semelhantes aos restantes partidos. A acusação particular a Lula pode não fazer sentido, mas o Lava-Jacto é uma realidade.
Mesmo assim gostava de perceber como é que o Jorge Bateira pensa que Lula e Dilma poderiam ter enfrentado tais estruturas. A via gradualista de Lula e Dilma, passe embora a profunda corrupção que referi acima, foi ainda assim muito mais bem sucedida em tirar milhões da pobreza que a revolução bolivariana de Chavéz e de Maduro, com uma Venezuela à beira da implosão onde a inflação é galopante (sim, Jorge Bateira, o controle desta variável é importante) e onde 80% da população é pobre.
A não ser, claro, que se pense que uma qualquer ditadura de Esquerda é melhor que uma de Direita. Eu cá acho que entre as duas venha o diabo e escolha...
Muito bom
Bem sucedida a via escolhida por Lula e por Dilma?
Mas este tipo não percebe que essa via de compromisso e de rendição vai fazer que se voltte tanto atrás, aos tempos da ditadura fascista e aos da escravidão laboral?
Que se volte tanto atrás que a pobreza já acolhe nos seus braços os retirados por Lula da miséria?
A via escolhida que vai levar o pobre do Lula directamente com os costados na prisão?
A via escolhida por JS é esta. Escolhe pelo diabo e faz estas cenas para evitar que se perceba ao que conduz estás políticas gradualistas sistematicamente papadas pela extrema-direita e pelos grandes grupos económicos
Tudo isto por causa de um triplex que Lula e a mulher nunca habitaram, nunca compraram e existindo até esmagadora documentação mostrando que a mulher de Lula saiu da cooperativa de habitação de bancários que mandou construir o prédio.
Cheira mal.Cheira a golpe de Estado. Cheira a botas cardadas e a justiça fascistóide
A realidade de cada país é cada vez mais complexa,
e não só porque a imprensa propala factos e não todos
esconde uns e manipula outros.
O que parece evidente, pode não ser.
O que parece especulação, pode ser realidade.
Quem sabe?
Há capacidade de dar a volta ao que está?
Há!
Assim o povo se mova!
Essa é a grande porra!
A inércia é uma grande força...
Quem fala que o PT se acomodou, desconhece a realidade do parlamento brasileiro, no qual a esquerda mal chegou a 20% da composição nos melhores anos. Duvido que algum partido, mesmo com maioria parlamentar absoluta ou governo revolucionário (com a possível exceção de Cuba e URSS), tenha feito em seu país as mudanças que o PT fez em tão exíguo espaço de tempo. É fácil jogar pedras desde a esquerda teórica.
Nenhum país é um retrato tão fiel do mundo de hoje quanto o Brasil. Uma maioria de negros e pardos, como eles dizem, que além de exploração económica a que são sujeitos padece dos problemas culturais herdados da escravidão: não se dão conta de que são a maioria, que o país é deles, há muito mais séculos do que da minoria mais ou menos branca emigrada n século XIX, exatamente para tomar o lugar dos escravos na plantações, quando da abolição da escravatura. No dia em que o mundo resolver os problemas da desigualdade talvez o Brasil resolva os seus. Antes disso continuará vendo desfilar todos aqueles que lhe chupam a riqueza: portugueses, ingleses, americanos, chineses... como em África. Nem Angola ou a Africa do Sul têm tão poucas chances de fugir ao subdesenvolvimento crónico.
Pois é. Mas foi isso que aconteceu. Toda a solidariedade com Lula Todo a força contra o golpe de estado. Mas Lula devia saber que contra as hienas não pode haver contemplações. E que o seu suporte deveriam ser os excluídos que tirou da miséria. E não os negócios com os abutres que aguardavam a sua hora.
Que lindo cenário montado à volta de um corrupto.
Sem vergonha!
O lindo cenário à volta de um corrupto ?
Referir-se-á concretamente a quem? A Bolsonaro de quem já tentou apropriar-se do seu linguarejar?
De Temer? Dos promotores do golpe institucional, em curso desde a demissão de Dilma?
A quem josé pensará enganar com esse seu “ sem vergonha” com que esconde o seu apreço pelo fascismo que desponta no Brasil?
Não passa o lindo cenário montado à volta de Lula, acusando-o desta forma néscia de corrupto
Tudo isto por causa de um triplex que Lula e a mulher nunca habitaram, nunca compraram e existindo até esmagadora documentação mostrando que a mulher de Lula saiu da cooperativa de habitação de bancários que mandou construir o prédio.
Repare-se na categoria como Eliane Brum, jornalista brasileira, responde à priori ao lindo cenário montado por Jose:
"O que está em jogo é também a capacidade inesgotável por parte das elites do país de fingir a indignação a fim de criar mais espaço para restabelecer os seus interesses e manter os seus privilégios intactos. Por isso, o problema do Brasil não é este conflito particular, antes o fracasso em lidar com os conflitos reais. Estes incluem o processo incompleto de abolição da escravatura, a desigualdade económica abissal e o apartheid racial e social que são debates inexistentes. Os governos de Lula e Dilma optaram por acomodar-se a estas estruturas históricas em vez de as enfrentar decididamente".
E continua:
"O juiz, ou Super Moro como é chamado pelos brasileiros, reacendeu as chamas de uma antiga tradição brasileira: o linchamento. Em vez de justiça, sempre mais lenta do que os pregadores do ódio gostariam, ele deu às pessoas que clamavam por sangue o que elas queriam. Mesmo sendo um linchamento moral, a imagem simbólica produziu resultados muito concretos, como as manifestações mostram".
Jose segue apenas os predicados das referidas elites brasileiras. Em jeito de slogan publicitário telegráfico a repetir os estribilhos da horda.
Num artigo de Manuel Cordeiro no Aventar:
"Pouco percebo de política brasileira, pelo que me limito a citar duas evidências e a tirar uma ilação.
Parece que Lula foi condenado por corrupção devido a um apartamento no valor de cerca de 2.2 milhões de reais (531 mil euros). Por outro lado, Temer foi formalmente acusado pela Procuradoria-geral da República em Junho, tendo, no entanto, escapado ao julgamento devido à Câmara dos Deputados não o ter autorizado. Apesar das provas claras.
Dilma afirmou ontem que Lula estava a ser alvo de “perseguição política”. Penso que a declaração não é exacta. O ex-presidente do Brasil está a ser objecto de excepção política, num país onde a corrupção é lei. Concluo que a justiça é um instrumento político no Brasil, muito ao contrário do título sonante da Folha de S. Paulo, “Julgamento de Lula mostra que ninguém está acima da lei, diz jornal britânico“."
Percebe-se a razão de Eliam Brum. E percebe-se que os amantes de Bolsonaro sejan incapazes de responder a isto
O maior problema do Brasil não é a corrupção, mas sim a miséria, a desconstrução social. O que é mais grave um apartamento na praia (Lula), uma amante paga pela Globo (Fernando Henrique Cardoso) etc etc, ou a mortalidade infantil no Brasil acima da média da América Latina? A inexistência de esgoto em áreas mesmo rica no Brasil como parte da barra da Tijuca, onde classe média vive sobre lagos de merda, e em algumas favelas ela corre nas ruas para o mar?
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