quarta-feira, 11 de abril de 2018

E não há medo de continuar no euro?


"Passaram 11 anos desde o começo da última crise e é apenas uma questão de tempo para que tenhamos uma nova crise - como tem sido a regra nas modernas economias capitalistas pelo menos desde 1825. Quando isso acontecer, teremos a margem de manobra monetária e orçamental para a enfrentar, impedindo uma queda do produto por um longo período? O actual ambiente político não inspira grande esperança."

Quem diz isto é um muito respeitado professor de economia convencional com alguma inclinação keynesiana. Um 'liberal' americano. Se está pessimista quanto aos EUA, um país com moeda soberana que paga as importações com a própria moeda, governado por alucinados, é certo, então como será na UE?

A resposta é simples: muito pior que nos EUA.

A zona euro já esgotou a margem de manobra da política monetária e continua aquém do nível anterior à crise, pelo menos na periferia. As ideias ordoliberais impedem o BCE de fazer algo que os EUA e muitos outros países fazem, financiar os défices contracíclicos do orçamento do estado. Por isso, não há política orçamental na zona euro. O Tratado Orçamental não dá margem de manobra para uma política orçamental digna desse nome.

O "projecto europeu" é este: atar os governos de pés e mãos para que as escolhas democráticas, designadamente quanto ao orçamento, não sejam possíveis, ao mesmo tempo que uma política orçamental supra-nacional também é impossível porque não há um povo e um estado europeu que validem politicamente a existência de transferências correntes e de investimento como as que fazemos em Portugal para o interior do país e para as regiões autónomas.

Em suma, se agora há crianças a fazer quimioterapia nos corredores, e saem do bloco operatório para se cruzarem com o caixote do lixo no elevador, ... o que mais irão pedir os especuladores financeiros, na crise que aí vem, para manter a "confiança" na nossa economia?

Os que têm medo de sair do euro deviam ter muito mais medo de continuar no euro.

19 comentários:

Geringonço disse...

Na próxima crise os especuladores, os banqueiros, os gestores de fundos, o Goldman Sachs, enfim, os parasitas vão ser extremamente originais... vão dizer assim para os políticos "passem para cá o guito porque senão destruímos o que ainda resta da economia real!".
Tal como fizeram há dez anos...

E depois os políticos vão aparecer nos média a dizer assim "Não há alternativa"; "Andaram a viver acima das possibilidades"; "Não sejam piegas" entre outros "afectos" semelhantes.

Alice disse...

"Se está pessimista quanto aos EUA, um país com moeda soberana que paga as importações com a própria moeda, governado por alucinados, é certo, então como será na UE?"

Mas alguém duvida que a UE também é governada por alucinados? São é mais polidinhos, porque o interior da cabeça é tirado da mesma lixeira.

Excelente post.

Anónimo disse...

Não acredito que Portugal saia do euro. A menos que ele deixe de existir. Dentro de 10 anos quando todos os que conhecerem Salazar e o 25 de Abril morrerem, nos quais me incluo, haverá talvez uns 10% de portugueses que aceitariam viver confinados nas fronteiras portuguesas com uma moeda que não valerá uma pataca. Isto para não falar na demografia... Aqueles que sonham com a saída do euro fariam melhor em sonhar com o fim do capitalismo, porque o euro é o capitalismo. Ora o pior capitalismo nunca teve tanto poder, basta ver o que acontece no Brasil. O sonho acabou, dias muito sombrios se aproximam.

Anónimo disse...

Sair ou ficar neste Euro é realmente assustador, é normal que se tenha medo, o Jorge Bateira está convencido que é possível sair do Euro de qualquer forma, é só reunir o apoio necessário nesse sentido, o resto são pormenores, esta simplicidade é o que na minha opinião nos amarra invariavelmente a este projecto falhado, penso até que contribui para o desânimo e para a descrença generalizada. Certa esquerda continua acomodada ao seu papel de pouca relevância e isto é o outro lado da mesma tragédia.

Anónimo disse...

O Euro não é exactamente um sistema capitalista. É algo ainda pior porque ao criar mecanismos perversos de concentração de capital nos países do centro da EMU/UEM funciona como um sistema neocolonialista em que largas maiorias dos povos do sul são privados de emprego e crescimento económico.

Não é o cidadão comum que mais tem medo de sair do euro. São as elites compradoras que vivem das migalhas europeias dos seus empregos de feitores.

Se a moeda não valer uma pataca isso será mau para quem tenha gostos caros de consumir produtos estrangeiros. Para quem fôr empreendedor e trabalhador haverá muito mais oportunidades.

E não estou a falar do empreendedorismo de pechisbeque que a gentinha de direita andou por aí a apregoar. Estou a falar de empresas terem condições de competitividade para concorrer nos mercados internacionais.

Viver "confinados nas nossas fronteiras"?
Por alminha de quem?
Acabou-se o papel para emitir passaportes?
Ou o problema são as férias nas Caraíbas que ficam mais caras?

E a demografia? Será melhor para a demografia continuar a exportar licenciados formados com o dinheiro dos nossos impostos para os países do centro da EU que assim obterão uma força de trabalho qualificada a custo zero?

Talvez seja melhor começarem a abrir a pestana...
S.T.

Anónimo disse...

Um video sobre o poder dos lobbys junto das instituições da EU:

https://www.youtube.com/watch?v=7RV6SRlqAVc

70% representam interesses corporativos.
S.T.

Geringonço disse...

Origins of Money and Interest: Palatial Credit, Not Barter - Michael Hudson


“Goodhart (1998) destaca a relevância para os tempos modernos de interpretar erroneamente a história do dinheiro: ela está subjacente à criação do Euro. A zona Euro foi criada sem um banco central para monetizar os deficits orçamentais dos governos membros da UE. A ideologia anti-estatal subjacente ao euro, portanto, está em oposição à Teoria Estatal da Moeda. O crédito do banco central deve ser criado apenas para resgatar os bancos comerciais por perdas em sua própria criação de crédito e investimentos ruinosos, e não para os governos gastarem directamente na economia.”

“O que torna o actual sistema monetário oposto ao da Mesopotâmia da Idade do Bronze é uma ideologia que não reconhece nenhum papel para a criação de dinheiro e crédito, excepto para beneficiar os credores.”

https://www.nakedcapitalism.com/2018/04/michael-hudson-origins-money-interest-palatial-credit-not-barter.html



Um mundo que vive para o Goldman Sachs e outros parasitas é um mundo infernal.


Anónimo disse...

Nem mais, caro Geringonço

Anónimo disse...

No dia em que a moeda nacional valer 1/4 do euro, vamos convencer os universitários a ficar aqui, ao invés de ganhar 10 vezes mais lá fora. Mas se hoje, com o euro, nem conseguimos guardar um enfermeiro! O problema não são as férias nas Caraíbas são os smartphones, são os carrões, e olhe que não são apenas os capitalistas que se habituaram ao consumo.

É possível que em alguns setores obtivéssemos alguma vantagem, mas basta ir a um supermercado par ver por exemplo que a boa fruta portuguesa vai para fora e aqui consumimos o que não tem qualidade para exportação. Vai convencer o fulano que hoje vende lá fora a vender aqui por um 1/4 do preço? Vamos exportar tudo? E comprar de onde?

Por mim, que não tenho um tostão, como disse, é-me indiferente. Mas quando vejo o que é Portugal hoje concluo que é tarde demais. Creio que o euro foi e é um erro, mas estou á espera que me expliquem exatamente o que aconteceria se saíssemos, coisa inédita. Basta ver o Brexit para se convencer que uma coisa é não entrar, outra é sair.

Quanto à pestana, parabéns por ser jovem, eu quero é fechar a pestana. Já vi demais.

Anónimo disse...

A lenga-lenga contra a desvalorização da moeda continua, para tentar convencer o patego das pseudo-vantagens do Euro.

No entanto a escolha é simples: Uma moeda sobreavaliada favorece o consumo, uma moeda monetáriamente equilibrada favorece o investimento.
Qual delas é mais favorável a um país?

Onde estarão os smartphones que comprarmos hoje daqui por cinco anos? Provávelmente numa gaveta ou no lixo!
Ao invés, um investimento que hoje façamos provávelmente daqui por cinco anos estará ainda a criar riqueza.

Já pensou que em caso de redenominação as remessa dos emigrantes passariam a valer duas ou três vezes mais?
O que interessa é a qualidade de vida que se pode criar num país que se desenvolverá, caso consigamos sair da armadilha do Euro.
Antes do Euro as diferenças salariais não eram menores e no entanto Portugal não se despovoou. Pelo contrário, antes do Euro a emigração tendia a baixar porque havia oportunidades e uma economia que crescia.

Normalmente o problema é sempre conseguir exportar. Não me consta que haja problemas de escassez interna por se exportar em excesso. Até porque as economias adaptam-se rápidamente a uma maior procura CRIANDO CAPACIDADE PRODUTIVA.

Já o inverso, isto é, uma contracção da procura cria muito maiores problemas.
Quanto a fechar a pestana, BONS SONHOS! LOL
S.T.

Jaime Santos disse...

Os que têm medo de sair do Euro continuam desde 2011 pacientemente à espera que aqueles que querem sair do Euro passem da eterna fase do diagnóstico e expliquem detalhadamente como querem que isso aconteça sem transformar Portugal numa espécie de Venezuela sem o petróleo.

Não é da saída do Euro propriamente dita que eu tenho medo, Jorge Bateira. É de que tal salto no escuro seja conduzido por quem gosta muito de agitar as mãos e berrar que a Economia é política e que se confiarmos em palpites, tudo correrá bem.

Não, não vai correr, é provável que no curto prazo até fiquemos bem pior do que já estamos, mesmo que o processo seja conduzido por pessoas competentes, em que certamente não se incluem aquelas citadas acima (o pessimismo seletivo é tão lamentável como o otimismo tolo, sabe?).

As crianças tratadas nos corredores do S. João (o Governo vai mesmo investir para alterar este estado de coisas), pelo menos têm acesso a medicamentos...

Sabe, para leninismos políticos, prefiro, apesar de tudo, os de Merkel (agora sem Schaeuble). Com ela, sei mais ou menos com o que posso contar...

Não deixa de ser irónico que todos aqueles que se levantam contra a política do Governo atual acabem no fundo reduzidos a desejar mais ou menos a mesma coisa que Pedro Passos Coelho (mesmo que com objetivos distintos), ou seja, a esperar pelo diabo...

Anónimo disse...

Lá está Jaime Santos e a historieta da Venezuela.

Nais os "leninismos" agitados como espantalhos a meter medo ao pagode. Para quê ir tão longe se JS confessou já o seu rancorzinho particular à Revolução Francesa e às portas da contemporaneidade que esta abriu?

Ainda ninguém perguntou ao JS por todos aqueles europeístas contentinhos que nos anunciavam o paraíso nos idos tempos das pinturas cor-de-rosa, bem antes de 2011? E que agora estão reduzidos a uma miserável cassete em torno da Venezuela e a fazer demagogia barata com as crianças nos corredores de S.João?

Anónimo disse...

Há todavia um pequeno insulto que não pode passar incólume.

É a comparação com Passos Coelho mais a vinda do Diabo. Como se sabe JS já manifestou aqui por diversas vezes que preferia o neoliberalismo a qualquer solução que passe por uma alternativa mais à esquerda.

Mais, quando João Rodrigues num excelente post falou em ruptura democrática, lembra-se o que JS escreveu apressada e de forma agastada?
"Para isso, francamente, é melhor a troika..."

JS, a troika de Passos coelho e seus muchachos conhecemos nós bem, demasiado bem. Foi para colocar um ponto final na sua governação que avançou a solução que todos conhecemos. Então era o neoliberalismo que nos governava, em nome do diabo e esperando por mais infernos.

E foi invocando o regresso de tal diabo, ainda pior que o seu inferno diabólico, que Passos alicerçou a sua estratégia.

Agora JS depois de ter eleito o seu aliado troikista como mal menor vem aqui agitar o espantalho que adoptara antes?

E que tal um pouco mais de pudor, caro JS?

Anónimo disse...

Áustria, Bulgária, Chipre, Croácia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, Holanda, Hungria, Irlanda, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polónia, República Checa e Roménia.

O que têm em comum estes 19 países? São todos membros da União Europeia e todos registaram em 2017 taxas de crescimento económico superiores à media em Portugal. O que significa que entre os 29 Estados-membros Portugal ficou em 20.º lugar, atrás da maioria dos países com a sua dimensão. Isto quando todos os ventos parecem soprar a nosso favor.

Viva a Geringonça

Anónimo disse...

Felizmente há países onde os populistas têm mais expressão do que este resignado Portugal.

Países há onde até os economistas conservadores apontam estratégias para forçar mudanças na EMU/UEM, como é o caso de Luigi Zingales.

http://foreignpolicy.com/2018/04/03/italys-populists-can-beat-europes-establishment/amp/?__twitter_impression=true

E já agora há uma subtil mas abissal diferença entre aqueles que sabem que uma saída do Euro tem custos mas ficar terá custos ainda maiores e aqueles que advogam o conformismo.
https://www.youtube.com/watch?v=H1PpPFFLoUg
S.T.

André disse...

"No dia em que a moeda nacional valer 1/4 do euro, vamos convencer os universitários a ficar aqui, ao invés de ganhar 10 vezes mais lá fora"

"Convencer" é um eufemismo para "obrigar", ou porque motivo existia o muro de Berlim?

André disse...

"As crianças tratadas nos corredores do S. João (o Governo vai mesmo investir para alterar este estado de coisas), pelo menos têm acesso a medicamentos"

Medicamentos e equipamento médico são luxos capitalistas. Façamos como na China de Mao, quando não havia dinheiro para esses luxos, e foquemo-nos nas ervinhas!

Anónimo disse...

O anónimo das 22 e 40 é o André desta manhã.

Agora adivinhe-se quem é o André.

A tentar escavacar o que se debate.

Anónimo disse...

Olá...

Parece que a gerencia contratou um novo troll que entra de mansinho com umas piadas secas.

Queres ver que é outra reencarnação do pimentel? LOL
S.T.