quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Os limites da «economia do empobrecimento competitivo» (I)

Duas ou três notas adicionais, a propósito do «inverno demográfico» como pretexto para prosseguir a agenda dos baixos salários e do empobrecimento competitivo, em que a maioria de direita se empenhou ao longo dos últimos anos, sob a manto das «imposições» do memorando de entendimento assinado com a troika.

1. Para se ter uma noção mais precisa de como a crise e a austeridade tiveram um impacto relevante na demografia, acelerando e agravando de modo muito significativo tendências de evolução anteriores, compare-se o valor da emigração a que se chegou em 2014 (cerca de 135 mil), com as estimativas do valor que se teria previsivelmente atingido nesse mesmo ano sem políticas de austeridade (109 mil) e sem crise nem austeridade (85 mil).


2. Um dos aspectos que tem talvez sido pouco sublinhado, quando se analisam as dinâmicas demográficas recentes, decorre justamente do facto de essas dinâmicas ilustrarem os próprios limites da «economia do empobrecimento competitivo», que a direita gostaria de aprofundar nos próximos anos. O Luís Gaspar já o disse há uns tempos com notável clareza: «Baixam-se os salários no pressuposto que o trabalho é demasiado caro. O trabalho vai-se embora. Mesmo para o mais ortodoxo dos economistas, isto deveria querer dizer que o trabalho não estava caro. A única transformação estrutural da economia arrisca-se a ser esta: em vez de serem os salários que se "ajustam" à economia, é a economia que se ajusta aos salários baixos.»

3. Isto quer dizer que o aumento do salário mínimo «não é apenas uma questão de decência e dignidade, mas também de bom senso económico», como sublinha o Alexandre Abreu em artigo de leitura imprescindível, no Expresso de hoje. Em linha, aliás, de um comentário recente do Mário Estevam, a propósito das conversações à esquerda para virar a página da austeridade: «Não sei se o salário mínimo vai chegar aos 600 euros ou não... O que não podia continuar a acontecer era ter pessoas honestas a trabalhar e a viver na miséria porque o salário mínimo não paga o custo de vida.» Não perceber isto é não perceber o que aconteceu nos últimos quatro anos e, pior que isso, querer insistir numa receita desastrosa para o país.

Adenda: É inqualificável a decisão governamental de acabar com o financiamento do Observatório da Emigração por este ter revelado, em Setembro, os números relativos a 2014 (constantes do relatório anual concluído em Julho), quando o governo apenas os pretendia divulgar depois das eleições. A decisão de corte do financiamento foi comunicada já depois do dia 4 de Outubro, através de uma carta dirigida ao reitor do ISCTE–IUL. O relatório mostra que a emigração se manteve em patamares muito elevados, contrariando assim a tese governamental em torno de um suposto abrandamento das saídas, em ano de «retoma económica». Decisões deste teor não causam estranheza, apenas repulsa, quando provém de um governo que só foi sobrevivendo graças a uma poderosa máquina de desinformação e propaganda.

8 comentários:

Manuel dos Santos disse...

Como é que se chegaram aos valores das duas estimativas? Que modelos, metodologias e dados foram usados para chegar a esses valores?

Anónimo disse...

Aquilo são apenas as tendências da linha anterior....

Anónimo disse...

A ideia dos limites está engraçada, mas há imenso fator trabalho disponível, ou seja, temos um desemprego enorme! Qual o limite para a desmoralização/desvalorização do fator trabalho?

Anónimo disse...

P. ¿Cuáles son concretamente las medidas clave que los Gobiernos deben poner en marcha para reactivar el crecimiento?

R.Benoît Cœuré, consejero del Banco Central Europeo// Mi opinión personal es que, según el país de que se trate, la reducción o reasignación del gasto público hacia gastos más productivos es una condición necesaria. Para estimular la inversión privada, es necesaria una acción fuerte y concertada de los Gobiernos. Europa necesita igualmente una clara perspectiva de refuerzo del mercado único, aún demasiado poco integrado en lo que respecta a los servicios. Además, es necesaria una apertura de los mercados hacia el resto del mundo, y me estoy refiriendo a las negociaciones sobre la Asociación Transatlántica para el Comercio y la Inversión, que creará oportunidades para nuestras empresas. Otro elemento determinante para mí es la estabilidad fiscal para las empresas.
LER COM URGÊNCIA . http://economia.elpais.com/economia/2015/11/11/actualidad/1447260356_060049.html

meirelesportuense disse...

"Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal."

-Creio que Fernando Pessoa aqui estava certíssimo, Portugal nunca se cumpriu, tanto se esforçou por conseguir fazer fora da Pátria o que dentro dela não lhe seria possível e foi embora como pária, como estrangeiro, para longe, tentar fazer cumprir o seu sonho, mas o sonho verdadeiro, aquele que fazia realmente falta realizar, o sonho essencial, nunca se cumpriu verdadeiramente.
Quem sai do seu País, não mais volta a ser o que foi ou poderia ser se ficasse, porque quem vai embora, não é nunca da terra para onde foi, nem será jamais da terra de onde partiu!...E isto tanto vale para quem saiu para Angola, como quem saiu para França ou Alemanha. As culturas são tão diferentes, que mesmo que tentes muito adaptar-te e sintas que estás quase lá a chegar, precisamente, nesse momento, deixaste de ser já quem eras antes e ainda não és quem tanto desejaste ser.

Jose disse...

A idiotia militante continua a promover a emigração.
- O investimento na educação serviu aos milhares de portugueses empregados em funções pouco qualificadas ou com mais de 45 anos de idade?
- As indústrias de mão-de-obra intensiva que capacidade têm de competir com países como a Tunísia e Marrocos (só para falr dos mais próximos) se os seus custos forem significativanmente aumentados?
- Falam em salário mínimo em valores que não são o que deviam ser - rendimento mensal em cada ano. Um detalhe que sigifica um factor 1,66 olimpicamente escamoteado, e que se convertido em salário por tempo trabalhado sobe para 1,272.

Tudo acaba na promoção do consumo interno, na virtuosa combinação de menos exportações e mais importaçãoes, questão absolutamente ignorada para quem acredita que a mendicidade é a nossa vocação e que a caridade estrangeira é um direito irrecusável.

Nuno Serra disse...

Caro Manuel dos Santos,
As estimativas foram calculadas de uma forma simples: trata-se de projectar, para os anos seguintes, o ritmo de evolução que resulta da média de variação registada anualmente em cada um dos períodos. Isto é, a média de variação da emigração entre 2000 e 2007, entre 2000 e 2010 e entre 2000 e 2014.

Anónimo disse...

Os Bigs – Espanha. Italia, Irlana Grecia e Portugal devem integrar-se como unidade politica, economica e social. Estes paises, juntos, tem um potencial maritimo importante para a exploraçao das riquezas subaquaticas para alem do papel crucial para a Democracia na Velha Europa. A integraçao a Sul não e´ somente comercial, a integraçao a Sul necessita da participaçao das sociedades, ela comporta a ecologia do homem, de mais confiança uns nos outros, de combater o clima de desconfiança”
Hoje a Europa vive um clima para-exclavagista com propensao ao descalabro do que resta da democracia burguesa. Milhoes que perdem a identidade do seu territorio de origem e não ganham a identidade do territorio de acolhimento.
De certo não queremos ser terceiro-mundistas, todavia “Devemos ter coragem pela Patria, por Portugal, paixão pela integração a Sul, a mesma paixão e coragem que os heroicos Republicanos tiveram ao abulir a monarquia clerical e retrogada. Por uma Aliança Sul Europeia…de Adelino Silva