Não se trata apenas de mais um video sobre a dualidade de discursos, consoante a cadeira que se ocupa. É a prova de que há problemas nacionais - a que não se quer olhar de frente - que permitem que o mesmo discurso possa ser usado várias vezes na História, por bancadas oponentes. Com a agravante de os valores em questão serem cada vez mais elevados.
Trata-se de uma produção integrada de erros. Um mau diagnóstico, uma má terapia, a acumulação dos mesmos problemas, a acumulação dos mesmos discursos sobre terapias que falharam. Uma direita substituída por uma esquerda que assume terapias iguais, esperando que os resultados sejam diferentes.
Caso não se acautele o futuro, arriscamo-nos a que Paulo Portas possa repetir este mesmo discurso, na mesma bancada onde estava quando criticava Sócrates. Sem qualquer pudor, e sem qualquer trabalho. Apenas tempo terá passado. E o país estará pior.
Não ajude a História a repetir-se. Como dizia alguém de barbas, à segunda vez só pode ser uma farsa. E o problema é que, connosco, já será muito mais do que isso.
2 comentários:
Concordo plenamente que como M Carreira vaticinava em 2005 iamos para a banca rota. E com o mesmo discurso vezes sem conta repetido fomos mesmo; mas não foi uma foram trez vezes; a ouvir sempre os mesmos arautos a tentarem convencer que a culpa é deles. Teorias que nem em Marte devem funcionar, sem o dinheiro dos outros.
"Acontecia os navios que cruzavam o Atlântico carregados de escravos negros a caminho das Américas demorarem mais que o previsto devido a tempestades ou calmarias. O comandante tinha então de fazer as seguintes contas: X dias de viagem que faltam, para Y quantidade de água e mantimentos, dão para Z pessoas, temos Z+N. Há pois N negros a mais. N negros eram então atirados borda fora servindo de refeição aos tubarões que, animais inteligentes e normalmente pacíficos (como se pode ver no Oceanário), se tornavam companhia habitual destes navios, os "negreiros".
As contas do comandante estavam erradas? Ninguém o poderia dizer considerando inalteráveis os navios mal equipados, mal abastecidos, com lotação insuficiente para a "carga" remotamente humana. Além disso, os que os atiravam ao mar bem poderiam dizer que eram defensores dos escravos… e da escravatura. Esta a metáfora da "austeridade".
Ninguém pensava, pois, utilizar navios maiores, devidamente abastecidos ou alterar o curso para rotas mais previsíveis, até porque os mais fortes sobreviviam e se diminuía a quantidade aumentava a qualidade e o preço, pelo que o resultado final do "negócio" não ficaria desfavorecido, muito pelo contrário. As contas estavam portanto certas… abstraindo que falamos de pessoas, algo que os escravos só muito remotamente eram considerados como tal e apenas para trabalhar.
Há portanto várias formas de fazer contas e todas elas certas em termos matemáticos. Mas a matemática e a econometria sua derivada nada têm que ver com a ética, a economia política sim e é esta que abordamos ao fazer contas".
Assim começa um excelente texto de Daniel Vaz de Carvalho em que este desmonta as contas do sr medina carreira
"Se quisermos compreender a realidade íntima e o movimento profundo da economia capitalista não se pode ficar ao nível das aparências, deve-se igualmente descobrir e explorar a face oculta dos fenómenos. Os fenómenos visíveis são os rendimentos obtidos por diferentes pessoas ou empresas. A realidade oculta é a maneira como estes rendimentos são criados".
Jacques Gouverneur, Compreender a Economia
Aqui
http://resistir.info/v_carvalho/contas_m_carreira.html
(De)
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