sábado, 4 de abril de 2015

O desemprego segundo João Miguel Tavares

Para João Miguel Tavares (JMT) os desempregados são números. Mas não são uns números quaisquer. Têm que ser números «oficiais», sendo irrelevante em que medida conseguem captar diferentes situações de desemprego. Na verdade, sejamos justos, para JMT os desempregados também são pessoas. Só que não são umas pessoas quaisquer. Têm que ser pessoas «oficialmente» consideradas como desempregadas. Ou seja, as que cumpram os critérios subjacentes à definição «oficial» de desemprego, em cada momento.

Assim, segundo JMT: se conseguiu um estágio do IEFP, o António deixou de estar desempregado e passou a ter um «emprego subsidiado»(*); se desistiu de procurar emprego e passou a ser considerada «inactiva», a Rita deixou de estar desempregada (por mais que continue, na vida de carne e osso, sem emprego); se emigrou por não encontrar trabalho, o Eduardo não é, para JMT, um activo que deixou o país, nem sequer um desempregado que as estatísticas oficiais deixaram de ter que contabilizar; e se trabalha meia dúzia de horas por semana, a troco de um salário insuficiente, a Madalena passou, segundo JMT, a ter um emprego tão «normal» como a maioria dos empregos.

O João Ramos de Almeida já aqui assinalou os principais reparos que se podem fazer às críticas de JMT ao último Barómetro das Crises, dedicado a um exercício de confronto entre as estatísticas e as realidades do desemprego e do emprego. Nesse exercício, entre outros aspectos, questiona-se até que ponto o conceito oficial de «desempregado» está a deixar na sombra um conjunto de situações de desemprego que apenas não encaixam nos critérios estatísticos em vigor. Isto é, situações como a do António («desempregado ocupado»), da Rita («inactiva desencorajada»), do Eduardo («activo emigrante») e da Madalena («subemprego»).


No seu conjunto, como mostra o gráfico, a verdade é que casos como os do António, da Rita, do Eduardo e da Madalena têm vindo a adquirir um peso crescente face aos números oficiais do desemprego. Se forem considerados como formas de desemprego que apenas escapam aos critérios oficiais, então conclui-se que a tendência recente do desemprego não é a da sua diminuição, mas sim a da sua estabilização, a partir de 2013, em patamares muito elevados. Em contrário, seria bom que a recusa da inclusão destas situações nos cálculos do desemprego, como sugere JMT, fosse acompanhada de uma argumentação consistente e informada, liberta de preconceitos e estereótipos que apenas prejudicam o debate. A menos que se prefira, ao tratar destas matérias, desempenhar o papel de bobo, ao serviço da corte.

(*) O João Miguel Tavares que defende o conceito de «emprego subsidiado», a propósito dos estágios do IEFP, é o mesmo João Miguel Tavares que reconhece, no mesmo artigo do Público, «que muitos postos de trabalho estão a ser criados artificialmente desde 2013 através do esquema de estágios anuais subsidiados pelo IEFP» (sublinhados meus).

12 comentários:

Anónimo disse...

Só tenho pena que esse senhor não esteja na situação de "Emprego subsidiado" porque ainda há gente que lhe dá dinheiro para escrever aseneiras

Anónimo disse...

Desculpe mas incluir no "desemprego real" os "activos emigrantes", sem mais, é tão desonesto como a análise de JMT. O que não quer dizer que os tais "activos emigrantes" não contribuam para explicar a baixa nas estatísticas oficiais do desemprego. Mas daí a serem contabilizadas como "desemprego real" ...

Anónimo disse...

Qualquer numero que saia da lavra de Boa Ventura Sousa Santos não tem qualquer credibilidade.

cumps

Rui Silva

Anónimo disse...

Será que vele a pena perder uma minuto que seja com o JMT?

Anónimo disse...

"4 de abril de 2015 às 22:33",

Talvez seja desonesto incluir todos os migrantes no desemprego real, mas o grosso deles não sairia do país se tivesse emprego por cá.

Anónimo disse...

estas coisa do emprego ou desemprego tem muito que se lhe diga
A formula correta dos produtores associados vai levar tempo até ser implementada pelos próprios,,,
contudo já há conhecimentos suficientes para as por em prova.
só que não queremos atinar com isso.
entretanto o sistema capitalista vai opondo resistência á mudança
Adelino siçva

Anónimo disse...


"Talvez seja desonesto incluir todos os migrantes no desemprego real, mas o grosso deles não sairia do país se tivesse emprego por cá"
A queda nos números oficiais do desemprego explica-se, também, pela emigração. Mas como é que se considera um emigrante (independentemente das motivações que o levaram a emigrar) como fazendo parte do "desemprego real" em Portugal?

Anónimo disse...

"5 de abril de 2015 às 20:23",

é consideravelmente diferente sair-se pq lhe apeteceu, ou sair por não se achar cá emprego.

pode perguntar-se, mas pode estimar-se. Uma estimativa, pode assentar nas taxas de migrações dos dez anos anteriores (as séries de dez costumam dar valores estabilzados das grandezas).

O que for além disso, é desemprego real.

Albino M. disse...

Gastar cera com ruim defunto...

Anónimo disse...

Caros Ladroes de bicicletas

Porque gastar tempo com o JMT ou a maquilhagem progressivamente mais óbvia dos governos (governos de Direita mas também de Esquerda, convém não esquecer) na questão do desemprego ?

Maquilhagem só por má vontade ? Parece-me duvidoso pois qualquer governo gostaria de apresentar a solução, que bem vistas as coisas, lhe garantiria também o futuro e a permanência.

Maquilhagem desespero ? Parece-me mais o caso pois a impressão que dá é que ninguém sabe muito bem o que fazer e começa a haver no ar uma certa sensação de medo, puro e simples (ou acham que o Papa Francisco recebeu um convite para ir a Davos porque o acham simpático ?).

Mas o fundamental, na verdade vital, é pensar soluções e fundamentar alternativas.

Pessoalmente, gostaria que o debate começasse na Esquerda e que começasse o mais cedo possível. Digo isto porque á Direita parece-me que haverá uma forte tentação de agarrar-se a velhas soluções (a do estágios subsidiados é uma delas, embora no caso não seja só isso) e resistir antes de ver o óbvio - um pouco como no que depois acabou no New Deal.

Será possível ?

Ou dito de outra foram: Haverá vontade (também são precisos neurónios mas isso um simples passar de olhos pelos textos editados em Ladrões de Bicicletas, por ex., é o que não falta)

Anónimo disse...

É exagerado achar que todos os emigrantes estariam desempregados caso não tivessem emigrado.

Anónimo disse...

votante e apoiante do livre/movimento tempo de panicar.