quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Populismo económico

Silva Lopes deixa-se tentar, apesar da sua experiência, pelo moralismo das finanças públicas dominante: precisamos de penalizar os «políticos» que furem os objectivos orçamentais, retirando-lhes direitos por um período. Como se este fosse o problema. Por que é que não se fala antes das consequências danosas da privatização de muita actividade política, da sua captura por um certo poder económico, em especial o financeiro? Por que é que não se fala também da futura capitalização, à custa de todos, dos bancos sem qualquer controlo público associado? De resto, como Silva Lopes no fundo sabe, o essencial dos furos nas finanças públicas resultou da crise gerada pela finança de mercado e é aprofundado pelo círculo vicioso de uma austeridade que foi por si apoiada. O populismo só serve para desviar as atenções do grande problema que está à nossa frente, para distrair do desastre em curso e da ideologia que o está a gerar.

Como este artigo de três economistas pós-keynesianos alemães, baseado na abordagem dos balanços financeiros sectoriais, nos indica, a soma dos saldos dos sectores externo, público e privado, os três sectores em que se pode dividir uma economia, é sempre igual a zero e num contexto de crise, como a que se inicia em 2008, com o saldo do sector externo mais ou menos constante, é evidente que o esforço dos privados para reequilibrar os seus balanços, com cortes no consumo e no investimento, gerou inevitavelmente um aumento do défice público. Inevitavelmente. O défice é uma variável endógena, para usar a formulação de um Cavaco que decidiu, por uma vez, ser rigoroso. A estratégia oficial é agora a de corrigir apressadamente o saldo negativo do sector público, ao mesmo tempo que os privados continuarão a comprimir despesas, apostando tudo no milagre das exportações, que corrigiria o saldo externo desfavorável. Isto está condenado ao fracasso até porque os países não podem exportar para Marte. Algo vai ter de ceder: será também uma política democrática cada vez mais esvaziada, cada vez mais erodida pelo capital financeiro?

4 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

"o essencial dos furos nas finanças públicas resultou da crise gerada pela finança de mercado"

Em Portugal?

Anónimo disse...

E pensar que o Silva Lopes é um dos ortodoxos mais moderados...

Anónimo disse...

Carlos,

em portugal, o essencial dos furos nas finanças públicas resultou da promiscuidade público-privada alimentada pelos governos PS(D) q se sucederam desde a última vez q recebemos um empréstimo do FMI, tendo sido agravada pela crise financeira e os ataques especulativos q se lhe seguiram, e continuando a agravar-se agora com a austeridade.

convém só acrescentar q, em momento algum, nem a UE, nem o próprio governo português, se bateram por um conjunto de soluções eficazes de combate e prevenção da onda de choque da crise financeira de 2008, mas tão só e apenas, por medidas q permitissem q as entidades q sustentam o próprio sistema financeiro q causou a crise sobrevivessem. e até isto fizeram mal, pois não é claro sequer q os bancos alemães sobrevivam à bancarota grega (qnt mais os outros bancos europeus).. aguardamos a qualquer momento o "swap me baby, one more time" (como é q isto se dirá em alemão?)
F.

Anónimo disse...

Mas o Silva Lopes ainda está vivo.?
Ele mais parece um zombie.?
Além disso bom seria que tivesse um bocado de vergonha na cara.
É que ele está sempre a pedir sacrificios e mais sacrificios mas ele, pelo seu lado, lá vai sacando aqui e ali para aumentar o seu peculio.
É bom ser um dos chamados "bons" economista (tipo Borges, Salgueiro, Macedo e outros) com lugar cativo nas TVs para divulgar a cassete.