sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Pela independência do poder político democrático


Imagino que a primeira coisa que os governos italiano e espanhol fazem ao despertar seja consultar a página da Bloomberg respeitante à cotação e juros da dívida pública nos mercados secundários. As variações dependem agora de decisões e de intervenções discricionárias do Banco Central Europeu. Os juros estão a subir? Oh diabo, hoje o Trichet não está a comprar. Estão a descer? Menos mau, hoje o Trichet acordou bem disposto.

Como podem calcular esta situação dá ao presidente do Banco Central um enorme poder. Ele acha que o que é preciso é austeridade a torto e a direito. Não interessa se tem razão ou não. Com ou sem ela, ele tem nas mãos o poder suficiente para obrigar o governo e até os parlamentos italiano e espanhol a fazer precisamente o que ele acha que deve ser feito. Se não, passa dois dias sem comprar e os juros disparam.

Assistimos assim a uma extraordinária cambalhota. Quis-se, e conseguiu-se, que os administradores dos bancos centrais fossem independentes para pôr a política monetária a salvo de “políticos irresponsáveis”. Agora temos governos e parlamentos democraticamente eleitos inteiramente dependentes de decisões arbitrárias (e como temos visto, irresponsáveis) de burocratas inamovíveis e um tanto ou quanto dependentes, não dos governos, mas das dores da banca.

3 comentários:

Anónimo disse...

Check this out http://planetsave.com/2011/08/28/who-runs-the-world-network-analysis-reveals-super-entity-of-global-corporate-control/

Rick disse...

A simbologia quase que nos bate na cara enquanto olhamos para o lado!
http://a4guerramundial.blogspot.com/2011/08/fraude-do-dolar.html

João Carlos Graça disse...

Caro José Maria
De acordo contigo no fundamental. Todavia, penso que há que proceder às devidas inferências.
Nomeadamente, que a construção institucional da UEM consagra plena, assumida, premeditada e conscientemente esta tal "independência" do BCE, a qual faz de tudo o resto uma completa fachada decorativa pseudo-democrática: os órgãos propriamente "europeus", é claro, o PE e a CE, que não são mais que uma palhaçada pegada - e agora também os órgãos nacionais, último resíduo ou resquício de democracia, que o "internacionalismo fiduciário" se encarregará decerto de atirar para o caixote do lixo da história... a menos, claro está, que os povos da Europa (povos no plural, sim, que "povo europeu" é coisa que está visto e revisto e tri-visto que não existe) se revoltem e manifestem da única forma que podem: fazendo secessão, "indo-se embora e batendo com a porta". Deixando, em suma o euro.
Só me pergunto, sinceramente, de que Godot é que ainda estaremos à espera, para nos ensinar talvez a coragem ou a sabedoria para o fazer: "just do it", como dizem os outros.
É isso. "Just do it". O pior é que, depois, não existe a lucidez para atirar fora as amarras ou vendas "internas", auto-impostas, que nos esterilizam a vontade...
Ah, e já agora, o BCE não é, creio, coisa de "burocratas" (coitada da "burocracia" com costas tão largas...). Trata-se de cargos políticos em estado puro. Política, entenda-se, como deve ser: feita pela "crème de la crème", bem longe dos maus odores característicos da plebe.
Quem não gosta disso, já sabe onde é a porta de saída. "Aquele que vê ao que se chegou, que há aí, ainda, que o retenha?..."